Jararaca-da-seca

Foto: M.L.O. Travassos (Marques et al., 2016)

A Jararaca-da-caatinga, Bothrops erythromelas, também conhecida como Jararaca-da-seca e Jararaca-malha-de-cascavel está presente na caatinga (Freitas, 2003). É uma serpente pequena (menor que 1m), marrom-avermelhada, robusta, terrestre, com atividade crepuscular e noturna, alimentando-se de rãs, lagartos e roedores (De Oliveira et al., 2018; Freitas, 2003). Quando ameaçadas, podem exibir tanatose, um comportamento de fingimento de morte com o boca ligeiramente aberta e parte ventral do corpo voltada para cima (dos Santos & da Silva Muniz, 2012). Sua toxina apresenta atividade inflamatória, hemorrágica e coagulante (Oliveira et al., 2010; Santoro et al., 2015).

As Bothrops são responsáveis pela maior parte dos acidentes ofídicos no Brasil, incluindo o sertão nordestino (Oliveira et al., 2010; Ministério da Saúde, 2019) e podem causar hemorragia, edema, dor, mionecrose, hipotensão e insuficiência renal aguda (de Sousa et al., 2016). Suas miotoxinas foram comparadas, demonstrando efeito de cinco a oito vezes maior para o grupo das B. jararacussu, B. moojeni, B. neuwiedi e B. pradoi do que para B. erythromelas, B. alternatus, B. atrox, B. cotiara e B. jararaca, sendo esta última fracamente relacionada ao grupo anterior (Moura-da-Silva, Cardoso & Tanizaki, 1990). Outro estudo, além da miotoxicidade, avaliou efeitos neurotóxicos, exibindo variados graus de bloqueio neuromuscular e a neutralização desse efeito pelo soro antibotrópico em B. erythromelas foi de 65,8% (Zamunér et al., 2004). Em uma análise comparativa entre a toxina das fêmeas de Bothrops e seus descendentes, notou-se variação ontogenética da peçonha, onde a atividade caseinolítica de todos os venenos de cobras fêmeas e a atividade pró-coagulante de seus filhotes foram extremamente altas e, B. erythromelas, tanto a mãe quanto sua prole não apresentaram atividade amidolítica e os mais elevados níveis de fator X e ativadores de protrombina sem ação semelhante à trombina (Furtado et al., 1991).

Estudos filogenéticos sugerem hibridização introgressiva desta espécie e reportam que B. erythromelas foi a primeira a divergir do grupo B. neuwiedi na Caatinga, seguida por B. lutzie no Cerrado (Machado, Silva & Silva, 2013), com híbridos em cativeiro entre B. erythromelas e B. neuwiedi (Santoro et al., 2015).


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