SERPENTES

Biólogo Henrique & Bióloga Rita

Serpentes potencialmente perigosas na região centro-oeste

O Brasil possui dezenas de serpentes peçonhentas de interesse médico e dentre as espécies com ocorrência para a região do Centro-oeste brasileiro (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), podemos destacar: 

Micrurus frontalis e Micrurus lemniscatus, Cobras-corais que pertencem à família Elapidae, serpentes proteróglifas, ou seja, que possuem presas dianteiras fixas capazes de injetar neurotoxinas em suas picadas. São serpentes dóceis e acidentes com corais-verdadeiras são extremamente raros, podendo ocorrer quando manuseadas ou esmagadas. 

Foto: Cerrado Coral Snake (Micrurus frontalis) em Brasilia, DF, Brazil. Por William Quatman - Flickr, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=48471931 

Já as espécies da família Viperidae são as potencialmente mais perigosas, caracterizadas como solenóglifas, detentoras de presas dianteiras grandes e móveis capazes de injetar peçonhas causadoras de necrose, coagulopatias, hemorragias, entre outras complicações, além de miotoxinas (Rocha & Furtado, 2005) e neurotoxinas.  Bothrops moojeni (Caiçaca), Bothrops alternatus (Urutu-cruzeiro), Lachesis muta (Surucucu-pico-de jaca) e a Crotalus durissus (Cascavel) estão entre essas serpentes. As serpentes do grupo das jararacas, como a Caiçaca e a Urutu-cruzeiro, estão entre as maiores causadoras de acidentes por picadas de cobra no Brasil (Ministério da Saúde, 2021) e, junto com a Surucucu-pico-de jaca (Carvalho et al., 1994; Pardal et al., 2007), podem gerar sequelas significativas e até mesmo permanentes, como amputações, ou levar a óbito sem atendimento adequado (Pinho et al., 2004). 

Amplamente distribuídas nesta região estão a Bothrops mattogrossensis (Boca-de-sapo) e a Bothrops pauloensis (Jararaca-pintada). Mais ao norte podemos encontrar a Bothrops atrox (Jararaca-do-norte) e próximo ao sul a Bothrops jararacussu (Jararacuçu) (Nogueira et al., 2019), ambas podem gerar envenenamento grave. 

Foto: Bothrops moojeni @LucasNatan 

Já a Cascavel, que também ocorre nos três estados da região, é a mais letal dentre elas (Ministério da Saúde, 2021). 

As serpentes não são predadoras de humanos e quando ocorre o encontro, tendem a fugir. Quando as pessoas entram em ambientes onde pode haver serpentes é preciso cautela, evitando acidentes indesejados. Mantenha distância segura, deixe o animal seguir seu curso, caso precise removê-lo em ambiente urbano, acione o serviço dos Bombeiros, disque 193, profissionais qualificados que farão a remoção e soltura de maneira segura para todos! 

Vale ressaltar que há ainda muitas outras espécies de serpentes para esta área central do Brasil (Nogueira et al., 2019), tanto peçonhentas quanto não peçonhentas, aqui não citadas. Apenas evidenciamos algumas delas!

Foto: Crotalus durissus @Jeremias Freitas
Foto: @VitorNunes, Bothrops jararacussu
Foto: Bothrops atrox. @Filipe Souza
Foto: Bothrops alternatus Por Cláudio Timm - https://www.flickr.com/photos/cdtimm/4267955250/, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=13205355
Foto: Micrurus lemniscatus Por Lvulgaris - Flickr, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=47224566
Carvalho Júnior, A. M. D., Alencar, V. P. D., Costa, F. G. D., Cabral, B., Dias, E. P. D. F., & Arruda Júnior, E. R. D. (1994). Acidentes ofídicos por surucucu (Lachesis muta rhombeata): relato de dois casos atendidos no HU. CCS, 11-4. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-190848
da Rocha, M. M., & Furtado, M. D. F. (2005). Caracterização individual do veneno de Bothrops alternatus Duméril, Bibron & Duméril em função da distribuição geográfica no Brasil (Serpentes, Viperidae). Revista Brasileira de Zoologia, 22(2), 383-393. https://doi.org/10.1590/S0101-81752005000200012 
Ministério da Saúde (2021). DataSUS. http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/animaisbr.def
Nogueira, C. C., Argôlo, A. J., Arzamendia, V., Azevedo, J. A., Barbo, F. E., Bérnils, R. S., ... & Martins, M. (2019). Atlas of Brazilian snakes: verified point-locality maps to mitigate the Wallacean shortfall in a megadiverse snake fauna. South American Journal of Herpetology, 14(sp1), 1-274. https://doi.org/10.2994/SAJH-D-19-00120.1
Pardal, P. P. D. O., Bezerra, I. S., Rodrigues, L. D. S., Pardal, J. S. D. O., & Farias, P. H. S. D. (2007). Acidente por surucucu (Lachesis muta muta) em Belém-Pará: relato de caso. Revista Paraense de Medicina, 21(1), 37-42. http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?pid=S0101-59072007000100007&script=sci_arttext&tlng=pt
Pinho, F. M. O., Oliveira, E. S., & Faleiros, F. (2004). Acidente ofídico no estado de Goiás. Revista da Associação Médica Brasileira, 50(1), 93-96. https://doi.org/10.1590/S0104-42302004000100043
Foto: Lachesis muta. By ggallice (Geoff Gallice) -https://www.flickr.com/photos/dejeuxx/5215887699/, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=13267515

Surucucu-pico-de-jaca

Lachesis muta é a espécie de Surucucu-pico-de-jaca presente em nossas florestas e responsável por cerca de 2,9% dos acidentes com serpentes peçonhentas no Brasil, mas se considerarmos a regionalidade, este número pode ser maior na região norte do país. A taxa de letalidade dos acidentes laquéticos estão em torno de 0,64% no território nacional, sendo a segunda mais letal, atrás apenas da cascavel (Ministério da Saúde, 2018). 

É a maior víbora do mundo, medindo cerca de 3,65 m de comprimento total (Mehrtens, 1987). As Bushmasters são terrícolas, noturnas e se alimentam principalmente de roedores, podendo ser encontradas em buracos de tatus (Argolo, 2004).

O registro de acidentes com esta serpente é raro e o caso relatado de um homem de 19 anos picado no antebraço direito, em acidente de trabalho no dia 11 de Dezembro de 2006, serve de alerta para pessoas que manipulam serpentes e correm o risco constante de sofrerem com o envenenamento. O veneno laquético possui ações proteolíticas, coagulantes, hemorrágicas e neurotóxica, que dependendo da quantidade de veneno introduzido vão ser responsáveis pela gravidade e manifestações clínicas (Pardal et al., 2007).

 


Argôlo, A. J. S. (2004). As serpentes dos cacauais do sudeste da Bahia. Ilhéus: Editus. http://uesc.br/editora/livrosdigitais2016/as_serpentes_dos_cacauais_do_sudeste_da_bahia.pdf
Ministério da Saúde (MS). Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). (2018). Acidente por animais peçonhentos-Notificações registradas no SINAN. http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/animaisbr.def
Mehrtens JM (1987). Living Snakes of the World in Color. New York: Sterling Publishers. 480 pp  ISBN 0-8069-6460-X . https://www.goodreads.com/book/show/2617026-living-snakes-of-the-world
Pardal, P. P. D. O., Bezerra, I. S., Rodrigues, L. D. S., Pardal, J. S. D. O., & Farias, P. H. S. D. (2007). Acidente por surucucu (Lachesis muta muta) em Belém-Pará: relato de caso. Revista Paraense de Medicina, 21(1), 37-42. http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-59072007000100007

O bote da Surucucu

 "A surucucu tem a particularidade de armar o bote com duas curvas em "S", o que permite um bote de 50% do tamanho do corpo (outras Viperidae do Brasil enrodilham com uma curva em "S" e tem bote com cerca de 30% do comprimento). Aliado ao porte de até 3,60 metros, pode-se afirmar seguramente que a surucucu detém o maior alcance de bote entre as cobras venenosas brasileiras."

Dr. Rodrigo C.G. de Souza

Fonte e fotos de: http://lachesisbrasil.blogspot.com/2013/07/sobre-o-duplo-s.html

Conheça o Núcleo Serra Grande, Bahia - BR, o primeiro no Brasil a reproduzir em cativeiro a nossa Lachesis muta. 

CONTATO: lachesisbrasil@hotmail.com 
http://lachesisbrasil.blogspot.com/2013/05/matrix-sincronicidade-e-sorte-na-vida.html
http://lachesisbrasil.blogspot.com/2013/08/mea-culpa.html
DE SOUZA, Rodrigo CG. Reprodução do bushmaster do Atlântico (Lachesis muta rhombeata) pela primeira vez em cativeiro. Bulletin of the Chicago Herpetological Society , v. 42, p. 41-43, 2007. 

Biúta, a cobra africana mais perigosa

Bitis arietans. Foto: Danny S. - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39124642

A serpente Biúta, também conhecida como  Víbora-de-sopro, Bitis arietans, é uma espécie de víbora africana responsável pela maioria das fatalidades causadas por picadas de cobra na África, que pode ser atribuída a sua ampla distribuição neste continente, ocorrência em áreas povoadas (sinantropia) e reação mais agressiva (Mallow et al., 2003; Spawls et al., 2018; Warrel et al., 1975).

É muito robusta, medindo cerca de 1,0 m, com relatados alcançando 190 cm de comprimento total e 40 cm de circunferência (Mallow et al., 2003). Com machos, que realizam combate, geralmente maiores que as fêmeas, que dão à luz a grande número de filhotes, entre 50 e 60, mas com relatos de 80 e 156 filhotes, a maior ninhada de cobra já registrada (Spawls et al., 2018).

Esta espécie é provavelmente a cobra mais comum e difundida na África (Mallow et al., 2003), presente em diversos habitats, associada a pastagens rochosas (Mehrtens, 1987). Com deslocamento retilíneo e lento, usa a camuflagem como proteção, mas podem mover-se de forma serpentina, ganhando mais velocidade. Apesar de terrestre, é capaz de nadar e escalar arbustos (Mallow et al., 2003).

Quando ameaçada, pode tentar se afastar e se proteger, ou assobiar e armar a postura em “S”, podendo desferir seu bote bruscamente e repetir sucessivas investidas; espécimes juvenis,   são capazes lançar todo o corpo durante o bote (Mallow et al., 2003; Mehrtens, 1987).

Ativas durante a noite, predam por emboscada, alimentando-se de mamíferos, pássaros, anfíbios e lagartos (Mallow et al., 2003).

Produz um veneno citotóxico potente (Widgerow et al., 1994), com valores de DL 50 em camundongos que variam: 0,4–2,0 mg/kg, intravenosa; 0,9–3,7 mg/kg, peritoneal e 4,4–7,7 mg/ kg, subcutânea (Brown, 1973).  Mallow et al. (2003) fornecem um intervalo de LD 50 de 1,0–7,75 mg/kg SC e em grande quantidade de 180-750mg (Brown, 1973).

Dentre os sintomas destacam-se as hemorragias evidentes ou não, inchaço, dor intensa, sensibilidade, necrose e síndrome compartimental (Rainer et al.,  2010). Há relatos de hipotensão, fraqueza, tontura e períodos de semi ou inconsciência também são relatados (Mallow et al., 2003). 

Agravamento dos casos e a maioria das fatalidades estão associados ao manejo clínico inadequado e negligência (Spawls et al., 2018; Warrel et al., 1975).

Víbora-de-sopro juvenil

Maior cobra peçonhenta

A seguir exibimos a Cobra-rei que além de detentora de toxina extremamente letal (neurotóxica) se destaca por seu tamanho (com registro no Guinness) .

Foto: Cobra-rei, Ophiophagus hannah  By The original uploader was Dawson at English Wikipedia. - Transferred from en.wikipedia to Commons by Homonihilis using CommonsHelper., CC BY-SA 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5067158

Cobra-rei

A Cobra-rei (Ophiophagus hannah) é a cobra venenosa mais longa do mundo (Mehrtens, 1987), crescendo até 5,5 m (18,5 pés). Ele também tem uma das maiores expectativas de vida, vivendo até 25 anos (Veto et al., 2007), listada como vulnerável na Lista Vermelha IUCN (Stuart et al., 2012).

O maior espécime já registrado - capturado em abril de 1937, na Malásia, e exibido no Zoológico de Londres - atingiu um comprimento de 5,71 m no outono de 1939, com registro no livro dos recordes como a maior cobra peçonhenta (Guinness World Records, 1939).

Conhecida por se alimentar de outras cobras, motivo de seu nome.(Comedor de cobra), atacando diversas espécies, inclusive víboras (Bhaisare et al., 2010). Apesar de não ser considerada agressiva e evitar confronto com humanos, defende seu ninho atacando intrusos rapidamente (Wall, 1924).

O veneno da cobra-real consiste em citotoxinas e neurotoxinas, incluindo alfa-neurotoxinas e toxinas de três dedos, além de efeitos cardiotóxicos. Uma única mordida pode fornecer até 400–500 mg de veneno, com dose letal para camundongos de 1,91 mg/kg , assim, em uma única mordida pode conter até 15.000 doses letais de camundongos (LD 50). Comparada com Oxyuranus microlepidotus, a Taipan-do-inteiror, com até 100 mg de veneno e LD 50 de 0,01 mg/kg, dando até 500.000 doses LD 50 por mordida (Broad et al., 1979). 

As picadas da cobra-real são consideradas mais graves do que as picadas de outras espécies de cobra devido aos maiores volumes de veneno injetado e ao início mais rápido dos sintomas neurotóxicos  (Chang et al., 2002; He et al., 2004; Li et al., 2006; Roy et al. 2010; Rajagopalan et al., 2007).


Bhaisare, D., Ramanuj, V., Shankar, P. G., Vittala, M., Goode, M., & Whitaker, R. (2010). Observations on a wild king cobra (Ophiophagus hannah), with emphasis on foraging and diet. IRCF Reptiles & Amphibians, 17(2), 95-102.
Broad, A. J., Sutherland, S. K., & Coulter, A. R. (1979). The lethality in mice of dangerous Australian and other snake venom. Toxicon, 17(6), 661-664. http://www.kingsnake.com/aho/pdf/menu5/broad1979b.pdf
Chang, L.-S.; Liou, J.-C.; Lin, S.-R.; Huang, H.-B. (2002). "Purification and characterization of a neurotoxin from the venom of Ophiophagus hannah (king cobra)". Biochemical and Biophysical Research Communications. 294 (3): 574–578. doi:10.1016/S0006-291X(02)00518-1. PMID 12056805.
He, Y. Y.; Lee, W. H.; Zhang, Y. (2004). "Cloning and purification of alpha-neurotoxins from king cobra (Ophiophagus hannah)". Toxicon. 44 (3): 295–303. doi:10.1016/j.toxicon.2004.06.003. PMID 15302536.
Li, J.; Zhang, H.; Liu, J.; Xu, K. (2006). "Novel genes encoding six kinds of three-finger toxins in Ophiophagus hannah (king cobra) and function characterization of two recombinant long-chain neurotoxins". Biochemical Journal. 398 (2): 233–342. doi:10.1042/BJ20060004. PMC 1550305. PMID 16689684.
Mehrtens, J. (1987). "King Cobra, Hamadríade (Ophiophagus hannah)". Serpentes Vivas do Mundo . Nova York: Sterling. p. 263–. ISBN 0-8069-6461-8
Roy, A.; Zhou, X.; Chong, M. Z.; d'Hoedt, D.; Foo, C. S.; Rajagopalan, N.; Nirthanan, S.; Bertrand, D.; Sivaraman, J.; Kini, R. M. (2010). "Structural and Functional Characterization of a Novel Homodimeric Three-finger Neurotoxin from the Venom of Ophiophagus hannah (King Cobra)". The Journal of Biological Chemistry. 285 (11): 8302–8315. doi:10.1074/jbc.M109.074161. PMC 2832981. PMID 20071329.
Rajagopalan, N.; Pung, Y. F.; Zhu, Y. Z.; Wong, P. T. H.; Kumar, P. P.; Kini, R. M. (2007). "β-Cardiotoxin: A new three-finger toxin from Ophiophagus hannah (King Cobra) venom with beta-blocker activity". The FASEB Journal. 21 (13): 3685–3695. doi:10.1096/fj.07-8658com. PMID 17616557. S2CID 21235585
Stuart, B .; Wogan, G .; Grismer, L .; Auliya, M .; Inger, RF; Lilley, R .; Chan-Ard, T .; Thy, N .; Nguyen, TQ; Srinivasulu, C .; Jelić, D. (2012). " Ophiophagus hannah ". A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN . IUCN. 2012: e.T177540A1491874. doi: 10.2305 / IUCN.UK.2012-1.RLTS.T177540A1491874.en
Veto, T., Price, R., Silsby, J. F., & Carter, J. A. (2007). Treatment of the first known case of king cobra envenomation in the United Kingdom, complicated by severe anaphylaxis. Anaesthesia, 62(1), 75-78. https://doi.org/10.1111/j.1365-2044.2006.04866.x
Cobra peçonhenta mais longa. Livro de recordes mundiais do Guinness. 1939 https://www.guinnessworldrecords.com.br/world-records/70265-longest-venomous-snake
Wall, F. (1924). The hamadryad or king cobra, Naia hannah (Cantor). Journal of the Bombay Natural History Society, 30, 189-195. https://www.biodiversitylibrary.org/page/47561556#page/273/mode/1up

Boipeva, a naja brasileira

A Xenodon merremii distribui-se por grande parte da América do Sul, ocorrendo em quase todo o território nacional, com exceção de alguns estados no norte  do Brasil (Costa & Bérnils, 2018). É um animal não peçonhento, com cerca de 1,5 metros, ovíparo e seu padrão de cores é bastante variável, composto por escamas escuras cinzentas ou avermelhadas, com desenhos amarelados ou brancos, com jovens semelhantes ao padrão Bothrops e adultas oscilando entre este padrão bem marcado, ao ligeiramente marcado, liso e com faixas  (Cacciali, 2010). Possui dentes alongados no fundo da boca, que não injetam veneno, mas podem estar relacionados a perfuração de anfíbios, suas presas recorrentes, incluindo o gênero Rhinella, por ser uma das poucas espécies imunes às toxinas deste anfíbio (Williams & Scrocchi, 1994), podem também predar  lagartos (Céspedez, Lamas & García, 2014).

Foto: Boipeva escancarando a boca em comportamento defensivo, por Gilberto Borges @TVGalena
Foto: Boipeva, Xenodon merremii, por Gilberto Borges @TVGalena 
Foto: Boipeva (Xenodon merremii) do Muzeu de Zoologia João Moojen (MZUFV), na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa-MG, Brasil. Por Mateus S. Figueiredo - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=42796145
Foto: Exemplos de variação em Xenodon merremii. Espécimes de Fronteira, Minas Gerais. Por Marcelo R. Duarte.

É também conhecida pelos nomes de achatadeira, cobra-chata, boipeva, capitão-do-campo e capitão-do-mato, por intimidar seus possíveis agressores. A boipeva e as demais Xenodon possuem um comportamento defensivo comum entre algumas serpentes: quando ameaçadas, achatam o corpo contra o solo (dorso-ventralmente), parecendo maior do que realmente são, intimidando possíveis predadores; tal como uma Cobra-naja, daí a referência do título. Outra Xenodon, X. severus, além de achatar o corpo também possui um ocelo no dorso, esta parece ainda mais, dando margem à sugestão de um comportamento evolutivo convergente semelhante às cobras africanas e asiáticas (Elapidae) (Kahn, 2011). 

Apesar de não ser peçonhenta, Xenodon merremii é uma serpente relativamente agressiva, o que assusta possíveis predadores e humanos também, pode escancarar a boca, desferir botes e morder quando ameaçada, sendo temida por muitos, que julgam equivocadamente se tratar de uma serpente perigosa, mas na verdade é apenas blefe, mimetizando espécies perigosas.



Foto: Xenodon severus, exibindo ocelo no dorso, por  Ted R. Kahn (Kahn, 2011).
Foto: Comparação entre ocelos, possível comportamento evolutivo convergente (Kahn, 2011).

Cobra Caninana

Foto: @Raphael Rabello
Foto: @Tarik Câmara. Spilotes pullatus exibindo comportamento defensivo.
Foto: @Frede Nascimento

Esta cobra preta e amarela, Spilotes pullatus, é uma grande Colubridae com ampla distribuição na América Central e do Sul. Forrageia ativamente durante o dia no solo ou na vegetação, a procura de pequenos mamíferos, aves filhotes, contraindo, pressionando contra o substrato e abatendo suas presas antes de engolir; porém, pequenas presas são rapidamente engolidas vivas, como observado em cativeiro. Apesar de machos e fêmeas apresentarem tamanhos semelhantes, os maiores registros são machos. Na transição entre a estação seca-chuvosa ocorrem o acasalamento e o combate entre machos. A Caninana é ovípara, com filhotes nascendo entre a estação chuvosa e a seca  (Marques et al. 2014).  

Para muitos: “Caninana voa e persegue pessoas.”, “Caninana dá chicotada.”; mas essas ideias não passam de crenças populares a respeito da cobra (Fernandes-Ferreira et al., 2012) que apesar de bastante irritadiça, inflar um papo amarelo e desferir botes sucessivos, não persegue incessantemente  as pessoas; é incapaz de voar, embora extremamente habilidosa na travessia de galhos com botes que a projetam para frente e não chicoteiam mas podem vibrar a cauda como sinal de advertência (Marques, Eterovic & Sazima, 2019).

A  Caninana, também conhecida com Cobra-tigre é famosa por estar amplamente distribuída em nosso território e ganhou destaque pela frequência de seu encontro, mas principalmente, por sua coloração, agilidade e uma postura agressiva, que na verdade corresponde a um comportamento defensivo que inclui compressão lateral do corpo, postura em S (armar o bote), boca aberta e mordida, típico de cobras arbóreas (Greene, 1979).

Apesar de sua belíssima cor vibrante aparentar aposemática, sua postura pode parecer camuflada em meio a vegetação; ao dispor em curvas, pode se assemelhar a galhos e cipós (eg. como o cipó "escada de macaco", uma espécie do gênero Bauhinia, Caesalpinaceae), possivelmente garantindo algum tipo de defesa para espécies de serpentes arbóreas contra predadores locais  (Marques, Rodrigues & Sazima, 2006).

É uma serpente inofensiva, não representando perigo para o ser humano, e muito bem vista em algumas áreas rurais com criação de animais, pois pode habitar forros e telhados, predando pequenos roedores indesejados. 

Não mate Serpentes, proteja a fauna silvestre, preserve a vida!!!


Fernandes-Ferreira, H., Cruz, R. L., Borges-Nojosa, D. M., & Alves, R. R. N. (2012). Crenças associadas a serpentes no estado do Ceará, Nordeste do Brasil. Sitientibus, 11(2), 153-163. 
Greene, H.W. (1979). Behavioural convergence in the display snakes. Experentia 35, 747–748.
Marques, O. A. V., Eterovic, A., & Sazima, I. (2019). Serpentes da Mata Atlântica: Guia ilustrado para as florestas costeiras do Brasil. Ponto A Editora, Cotia. 
Marques, O. A., Rodrigues, M. G., & Sazima, I. (2006). Body bending: a cryptic defensive behaviour in arboreal snakes. Herpetological bulletin, 2-4.
Marques, O. A., Muniz-Da-Silva, D. F., Barbo, F. E., Cardoso, S. R. T., Maia, D. C., & Almeida-Santos, S. M. (2014). Ecology of the colubrid snake Spilotes pullatus from the Atlantic Forest of southeastern Brazil. Herpetologica, 70(4), 407-416. 

Cobra Caninana flagrada na praia! É marinha?

Foto: Praia Grande, São Francisco do Sul, SC.

A serpente filmada na Praia Grande de São Francisco do Sul, no Litoral Norte de Santa Catarina surpreendeu banhistas (Ndmais, 2021).

Tratava-se de uma belíssima Spilotes pullatus, uma cobra grande, podendo chegar a 2,7 metros de comprimento, presentes em todos os estados do nosso país. Habita ambientes principalmente florestais, próxima à água, é principalmente arbórea (Harrington et al. 2018; Uetz, Freed & Hošek, 2020), mas pode ser vista em solo, forrageando ativamente durante o dia. 

A Cananina não é uma serpente marinha e o fato dela ter sido encontrada na areia da praia, com registros ao longo do litoral brasileiro, inclusive em comunidades insulares (Cicchi et al., 2007; Lamonica, 2007), provavelmente se deve a existência de uma área de restinga ainda preservada nesta região, como pode ser vista na imagem: a Praia Grande tem cerca de 20 km de praia deserta, um paraíso natural, excelente cenário para os apaixonados pela natureza, surfistas e ecoturistas, uma relíquia da Mata Atlântica. 

Como a caninana busca ativamente suas presas durante o dia, é bem provável que tenha sido surpreendida pelos humanos, e durante a fuga, tendência da maioria das cobras, acabou se direcionando para o mar. A persistência de aproximação humana  provavelmente induziu a serpente às ondas, com subsequente afogamento. Com certeza não foi a intenção dos banhistas! O encontro fortuito e curiosidade possivelmente os motivaram a aproximar-se ainda mais. A filmagem cessa e nossa expectativa é pela sobrevivência da serpente.

É muito comum que espécies silvestres sejam importunadas, às vezes por curiosidade, por falta de informação, acidentalmente e até mesmo proposital. Devemos sempre evitar ou minimizar a intervenção e o confronto com animais silvestres, assim estaremos colaborando com a nossa biodiversidade e sua preservação! Mantenha sempre distância! Respeite a vida!!!


Combate entre machos

É um comportamento ritualizado onde dois oponentes tentam subjugar fisicamente um ao outro, geralmente durante o acasalamento. Apesar de difundindo entre as famílias de serpentes, foi registrado para apenas 6% das espécies conhecidas (E.g. Missassi et al., 2017; Pizzatto et al., 2006) e  estudo dos padrões filogenéticos em tais comportamentos foi feito para Boidae e Colubroidea (Schuett et al., 2001; Senter et al., 2014).

Para a caninana (Spilotes pullatus), o objetivo do ritual de combate parece ser manter a cabeça mais alta do que a do oponente, durando aproximadamente uma hora, sem mordidas ou qualquer aplicação de dano físico ao oponente, resultando em desgaste energético. Entrelaçar o corpo na tentativa de imobilizar o oponente, dificultando seu deslocamento para frente .  Os rituais de combate para S. pullatus podem servir a outros propósitos além do acesso às fêmeas, como domínio ou disputa de território, assim como sugeridos para Chironius bicarinatus por Marques et al., 2009 (Muniz-da-Silva & Almeida-Santos, 2013). 


Para saber mais sobre reprodução em Serpentes, acesse o site: https://www.reproducaosquamata.com.br/
Marques, Otavio & Almeida-Santos, Selma & Guimaraes, Murilo. (2009). Mating and Reproductive Cycle in the Neotropical Colubrid Snake Chironius bicarinatus. South American Journal of Herpetology. 4. 76-80. 10.2994/057.004.0110. 
Missassi, Alexandre & Coeti, Rafaela & Germano, Valdir & Almeida-Santos, Selma. (2017). MICRURUS LEMNISCATUS CARVALHOI (Coralsnake). REPRODUCTION / MALE–MALE COMBAT.. Herpetological Review. 48. 214-215. 
Muniz-da-Silva, D. F. and S. M. Almeida-Santos. “Short Note Male-male ritual combat inSpilotes pullatus (Serpentes: Colubrinae).” (2013).
Pizzatto, L. Í. G. I. A., Manfio, R. H., & Almeida-Santos, S. M. (2006). Male-male ritualized combat in the Brazilian rainbow boa, Epicrates cenchria crassus. Herpetological Bulletin, 95, 16. 
Schuett, G.W., Gergus, E.W.A. & Kraus, F. (2001). Phylogenetic correlation between male-male flighting and mode of prey subjugation in snakes. Acta Ethologica 4: 31-49 
Senter P, Harris SM, Kent DL (2014) Phylogeny of Courtship and Male-Male Combat Behavior in Snakes. PLoS ONE 9(9): e107528. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0107528 

Cascavel

Foto: José Reynaldo da Fonseca - Versão recortada de Cobra cascavel 280707- 23 04 40s - 49 06 55w REFON (4). C. durissus terrificus em Avaré, São Paulo, Brasil 
Foto: Leandro Avelar. Serpente fotografada em Viçosa, Minas Gerais.

A cobra cascavel, Crotalus durissus, é uma espécie de serpente peçonhenta neotropical conhecida por seu chocalho na ponta da cauda, robusta e de médio porte, alcançando cerca de 1,6 m de comprimento. Sua dieta é composta, principalmente, por roedores, mas inclui também lagartos (Argaez, 2012). O veneno da cascavel produz neurotoxicidade, distúrbios de coagulação, miotoxicidade sistêmica e insuficiência renal aguda, com possível dano adicional ao coração e fígado (Monteiro et al., 2001). A C. d. terrificus endêmica do Brasil apresenta uma peçonha  com forte atividade letal e miotóxica, com grandes quantidades do complexo neurotóxico crotoxina, e fracos efeitos proteolíticos, hemorrágicos e formadores de edema, semelhantes aos recém-nascidos de C. d. durissus (Gutiérrez et al. 1991) e, em caso de acidentes, o antiveneno do Instituto Butantan apresenta títulos de anticorpos anticrotoxina muito maior em comparação com outro instituto, sendo mais eficiente (Saravia et al. 2002). É a espécie que mais causa óbito em acidentes ofídicos no Brasil (Ministério da Saúde, 2019), especialmente por insuficiência renal aguda (Pinho, Zanetta & Burdmann, 2005) e sua presença é favorecida pelas atividades humanas que, além do aumento de roedores fornecendo abundância alimentar, promove a dispersão desta cobra facilitada por áreas abertas de pastagens criadas após desmatamentos (Bastos, Araujo & Silva, 2005), remontando bem o cenário pleistocênico, do processo de especiação vicariante na floresta amazônica a exemplo de espécies não florestais como a cascavel neotropical em sua expansão para o sul do continente (Wüster et al. 2005). 


Argaez, M. A. H. (2012). A cascavel neotropical Crotalus durissus: uma abordagem morfológica e da historia natural em populações do Brasil (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo). 
Bastos, E. G. D. M., de Araújo, A. F., & Silva, H. R. D. (2005). Records of the rattlesnakes Crotalus durissus terrificus (Laurenti)(Serpentes, Viperidae) in the State of Rio de Janeiro, Brazil: a possible case of invasion facilitated by deforestation. Revista Brasileira de Zoologia, 22(3), 812-815. https://doi.org/10.1590/S0101-81752005000300047
Gutiérrez, JM, Dos Santos, MC, de Fatima Furtado, M., & Rojas, G. (1991). Similaridades bioquímicas e farmacológicas entre os venenos de Crotalus durissus durissus recém-nascido e cascavéis Crotalus durissus terrificus adultas. Toxicon , 29 (10), 1273-1277.https://doi.org/10.1016/0041-0101(91)90201-2
Pinho, FM, Zanetta, DM, & Burdmann, EA (2005). Insuficiência renal aguda após picada de cobra de Crotalus durissus: um estudo prospectivo em 100 pacientes. Kidney international , 67 (2), 659-667.https://doi.org/10.1111/j.1523-1755.2005.67122.x.
Saravia, P., Rojas, E., Arce, V., Guevara, C., López, JC, Chaves, E., ... & Gutiérrez, JM (2002). Variabilidade geográfica e ontogênica no veneno da cascavel neotropical Crotalus durissus: implicações fisiopatológicas e terapêuticas. Revista de biología tropical , 337-346. https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rbt/article/view/16293
Ministério da Saúde (2019). http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/animaisbr.def
Wüster W, Ferguson JE, Quijada-Mascareñas JA, Pook CE, Salomão MG, Thorpe RS. 2005. Traçando uma invasão: pontes terrestres, refúgios e a filogeografia da cascavel neotropical (Serpentes: Viperidae: Crotalus durissus ). Molecular Ecology 14: 1095-1108. https://web.archive.org/web/20160815195351/https://dl.dropboxusercontent.com/u/35959689/Publications/2005_Crotalus_durissus_MolEcol.pdf
Quanto ao veneno, veja também:
Boldrini-França, J., Corrêa-Netto, C., Silva, M. M., Rodrigues, R. S., De La Torre, P., Pérez, A., ... & Calvete, J. J. (2010). Snake venomics and antivenomics of Crotalus durissus subspecies from Brazil: assessment of geographic variation and its implication on snakebite management. Journal of proteomics, 73(9), 1758-1776. https://doi.org/10.1016/j.jprot.2010.06.001
Evangelista, J. S., Martins, A. M., Nascimento, N. R., Sousa, C. M., Alves, R. S., Toyama, D. O., ... & Monteiro, H. S. (2008). Renal and vascular effects of the natriuretic peptide isolated from Crotalus durissus cascavella venom. Toxicon, 52(7), 737-744. https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2008.08.014 Furtado, M. F. D., Santos, M. C., & Kamiguti, A. S. (2003). Age-related biological activity of South American rattlesnake (Crotalus durissus terrificus) venom. Journal of venomous animals and toxins including tropical diseases, 9(2), 186-201.  https://doi.org/10.1590/S1678-91992003000200005 
Monteiro, H. S. A., Da Silva, I. M. S. C., Martins, A. M. C., & Fonteles, M. C. (2001). Actions of Crotalus durissus terrificus venom and crotoxin on the isolated rat kidney. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, 34(10), 1347-1352. https://doi.org/10.1590/S0100-879X2001001000017 
Rangel-Santos, A., Dos-Santos, E. C., Lopes-Ferreira, M., Lima, C., Cardoso, D. F., & Mota, I. (2004). A comparative study of biological activities of crotoxin and CB fraction of venoms from Crotalus durissus terrificus, Crotalus durissus cascavella and Crotalus durissus collilineatus. Toxicon, 43(7), 801-810. https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2004.03.011
Santoro, M. L., Sousa-e-Silva, M. C., Gonçalves, L. R., Almeida-Santos, S. M., Cardoso, D. F., Laporta-Ferreira, I. L., ... & Sano-Martins, I. S. (1999). Comparison of the biological activities in venoms from three subspecies of the South American rattlesnake (Crotalus durissus terrificus, C. durissus cascavella and C. durissus collilineatus). Comparative Biochemistry and Physiology Part C: Pharmacology, Toxicology and Endocrinology, 122(1), 61-73. https://doi.org/10.1016/S0742-8413(98)10079-8

Cobra que imita urutu e coral

Foto: Xenodon dorbignyi por Juan Anza

A serpente Xenodon dorbignyi, a Cobra-nariguda, ou Hognose Sul-americana, compartilha uma grande área de ocorrência com Bothrops alternatus (Urutu-cruzeiro) e Micrurus frontalis (Cobra-coral), não somente no sul do Brasil, mas também em outros países como Argentina, Paraguai e Uruguai. Seu padrão de coloração dorsal é fortemente semelhante a Urutu, com tons de cinza a preto nas manchas e amarelo a marrom no fundo; já a semelhança com a Cobra-coral, pode ser notada no comportamento de exibição caudal e no reforço da coloração ventral com tons de amarelo claro a vermelho vívido.  Assim, esta espécie aparenta duplo mimetismo para sua defesa, tanto comportamental quanto coloração: imitando inicialmente Bothrops e posteriormente, caso a perturbação persista,  mimetizando a Micrurus (Yanosky & Chani, 1988)

Nossa Cobra-nariguda sulista, apesar da aparência perigosa, achatando dorso e cabeça, é uma serpente áglifa, sem interesse médico, ovípara (de Oliveira et al., 2011) e que se alimenta, principalmente, de anfíbios anuros e ovos de lagartos Liolaemus occipitalis,  sugerindo atividade diurna de forrageio por presas enterradas na areia (de Oliveira et al., 2001) . Encontrada nas dunas de restinga, tolera grandes variações de temperatura características deste ambiente litorâneo, permanecendo em superfície, mesmo em altas temperaturas (Tozetti et al., 2010). 


de Oliveira, R. B. D., Di Bernardo, M., Funk Pontes, G. M., Maciel, A. P., & Krause, L. (2001). Dieta e comportamento alimentar da Cobra-nariguda listrophis dorbignyi (Dumeril, Bibrón & Duméril, 1854), no litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Cuadernos de Herpetología, 14. http://sedici.unlp.edu.ar/handle/10915/6332 
de Oliveira, R. B., Pontes, G. M. F., Maciel, A. P., Gomes, L. R., & Di-Bernardo, M. (2011). Reproduction of Xenodon dorbignyi on the north coast of Rio Grande do Sul, Brazil. The Herpetological Journal, 21(4), 219-225. https://www.ingentaconnect.com/contentone/bhs/thj/2011/00000021/00000004/art00002
Tozetti, A. M., Pontes, G. M., Borges-Martins, M., & Oliveira, R. B. (2010). Temperature preferences of Xenodon dorbignyi: field and experimental observations. The Herpetological Journal, 20(4), 277-280. https://www.ingentaconnect.com/contentone/bhs/thj/2010/00000020/00000004/art00009 
Yanosky, A., & Chani, J. (1988). Possible Dual Mimicry of Bothrops and Micrurus by the Colubrid, Lystrophis dorbignyi. Journal of Herpetology, 22(2), 222-224. doi:10.2307/1564001 https://www.jstor.org/stable/1564001?refreqid=excelsior%3Aa5336a7b457df1a012fe38cf40cfb7cb&seq=1

Kevin Budden, o herpetologista amador que fez a primeira captura de taipan para produção de antiveneno

Foto: Taipan-costeira, Oxyuranus scutellatus,  em Taronga Zoo. Denise Chan.

O caçador de cobras, Kevin Clifford Budden (1930 - 1950), foi um herpetologista amador australiano que fez a primeira pessoa a capturar um taipan vivo para pesquisa e morreu de uma picada de cobra no processo. Seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento de um antiveneno taipan (Wikipedia contributors, 2021). 


Budden, de 20 anos, já era um experiente manipulador de cobras, especializado na coleta de serpentes venenosas. Pesquisas de veneno na Austrália estavam começando e homens como Budden foram fundamentais na captura das serpentes que os cientistas usaram para fazer antivenenos. Taipan estava no topo de sua lista, podem medir em média 1.5 metros e  liberar um dos venenos de cobra mais potente do mundo (Shine & Covacevich, 1983). Na época, ainda não havia antiveneno para taipan. Em 27 de julho, Budden capturou um taipan de 1,8 m em Queensland. Ele carregou a cobra com as mãos, pegou uma carona em um caminhão que passava e levou a cobra para outro coletor de cobras local, onde foi identificada como um taipan. Enquanto tentava pegar a cobra, Budden foi mordido no polegar esquerdo, mas conseguiu colocar a cobra capturada em uma bolsa. Extraindo a promessa do caminhoneiro de que entregaria a cobra a alguém que a transportaria para o sul para os pesquisadores, Budden foi levado para tratamento médico. Não tendo nenhum antiveneno para taipans, Budden recebeu antiveneno de Cobra-tigre. Embora isso tenha ajudado a conter o efeito de coagulação do veneno de taipan, não superou a paralisia do sistema nervoso e morreu na tarde seguinte (Yong, 2014).


Na época da morte de Budden, havia vários rumores sobre o taipan, mas só depois de Budden ter capturado o espécime que se considerou seriamente a potência de seu veneno.  Dois espécimes anteriores de taipan foram obtidos em 1923, mas essas cobras estavam mortas e as amostras de veneno estavam contaminadas. A cobra capturada de Budden foi enviada viva para os Laboratórios de Pesquisa da Commonwealth em Melbourne, onde seu veneno foi extraído com sucesso pelo zoólogo David Fleay. O veneno do taipan capturado foi fundamental na pesquisa e desenvolvimento de um antiveneno, que se tornou disponível em 1955 e salvou a vida de um menino de Cairns de 11 anos ainda no mesmo ano. A história de Budden e seu sacrifício estimulou esforços para capturar outras cobras e produzir mais antivenenos, o legitimando como um verdadeiro herói (Yong, 2014)!

Em um artigo de 2014 publicado no Journal of Proteomics, Bryan Fry da University of Queensland relatou ter encontrado espécimes do veneno colhido do taipan que matou Budden. Seu estudo descobriu que o veneno manteve sua toxicidade depois de quase sessenta anos em armazenamento seco (Jesupret et al., 2014).


Barnett, B. F. (1999). Keeping and breeding the Coastal Taipan (Oxyuranus scutellatus). Monitor-Journal of the Victorian Herpetological Society, 10(2/3), 38-45. http://www.smuggled.com/BriBar17.htm
Jesupret, C., Baumann, K., Jackson, T. N., Ali, S. A., Yang, D. C., Greisman, L., ... & Fry, B. G. (2014). Vintage venoms: proteomic and pharmacological stability of snake venoms stored for up to eight decades. Journal of proteomics, 105, 285-294. https://doi.org/10.1016/j.jprot.2014.01.004 
Shine, R., & Covacevich, J. (1983). Ecology of highly venomous snakes: the Australian genus Oxyuranus (Elapidae). Journal of Herpetology, 60-69. https://doi.org/10.2307/1563782 
Wikipedia contributors. (2021, March 16). Kevin Budden. In Wikipedia, The Free Encyclopedia. Retrieved 02:52, March 30, 2021, from https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Kevin_Budden&oldid=1012379263 
Yong, Ed (January 2014). "80-Year-Old Vintage Snake Venom Can Still Kill". National Geographic. https://www.nationalgeographic.com/science/article/80-year-old-vintage-snake-venom-can-still-kill

Foto: Bothrops jararacussu no Instituto Butantan, São Paulo, Brasil.  Miguelrangeljr - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=61957495
Foto: Filhote de Bothrops jararacussu que causou o acidente. Arquivo Pessoal/Danielle Greca.
Local da picada da B. jararacussu. Foto: Danielle Greca 

Idosa sofre dois AVCs após picada de cobra

No dia 18/03/2021, Maria de Fátima Barbosa Greca (63 anos) ao entrar no portão de sua casa em Chácara das Tâmaras, Itanhaém -SP, acidentalmente pisou no filhote de uma jararacuçu, Bothrops jararacussu, que a picou defensivamente no calcanhar. Após o pedido de socorro, ali mesmo sofreu o primeiro AVC e seu esposo César a levou para Unidade de Pronto Atendimento, onde foi administrado soro antibotrópico. Foi transferida para o Hospital Irmã Dulce, Praia Grande e após avaliação médica, realizou uma cirurgia por conta de um coágulo na cabeça. Ela está na UTI desde então, infelizmente ainda em estado grave, de acordo com a família (Peixoto, 2021a). 

Na manhã  do dia 24/03/2021, lamentavelmente, a idosa não resistiu e faleceu, deixando três filhos, marido e três netos. Após a neurocirurgia, permaneceu internada na UTI e subsequente complicações renais, realizando hemodiálise, e uma parada cardíaca que a levou a óbito (Peixoto, 2021b).

As cobras do gênero Bothrops são responsáveis ​​por quase 90% das picadas de cobras venenosas na América do Sul, com uma taxa de mortalidade de 0,31% em pacientes recebendo antiveneno. A Bothrops jararacussu é uma cobra de grande porte, que pode atingir 1,5 a 2,2 m de comprimento, seu veneno apresenta alta mortalidade, mas acidente com esta espécie é incomum.  De 1.718 picadas de cobra acompanhadas por doze anos, somente 0,82% foram causadas por esta espécie (Rosenfeld, 1971). Outro estudo durante 20 anos em São Paulo, foram observados apenas 29 casos de envenenamento por B. jararacussu (Miliani et al., 1997).

Dois casos de AVC após picada de cobra foram relatados por Sachett et al. (2020), ambos os casos acidentes com Bothrops e atendimento tardio, dando alerta para o agravo dos acidentes ofídicos diante do retardo na soroterapia e da carência de hospitais rápidos. O veneno botrópico tem efeitos proteolíticos, coagulantes e hemorrágicos. As manifestações locais são dor e edema na área da picada. Casos graves podem desenvolver necrose de tecidos moles, abscesso e até mesmo perda do membro lesado. As complicações sistêmicas mais frequentes após a picada são sangramento, insuficiência renal aguda, sepse e mais raramente hipotensão ou choque. Os distúrbios da coagulação são uma das manifestações mais comuns após o envenenamento por Bothrops . A incidência de coagulopatia após esse tipo de picada de cobra é alta, variando de 48% a 75%. Manifestações hemorrágicas são observadas no local da picada, gengivas, área nasofaríngea, trato gastrointestinal, trato urinário e sistema nervoso central (Milani et al., 1997).

 

Jorge, M. T., & Ribeiro, L. A. (1990). Acidentes por serpentes peçonhentas do Brasil. AMB rev. Assoc. Med. Bras, 66-77. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-92824
Milani R, Junior, Jorge M T, Campos F P, Martins F P, Bousso A, Cardoso J L, Ribeiro L A, Fan H W, Franca F O, Sano-Martins I S, Cardoso D, Ide Fernandez C, Fernandes J C, Aldred V L, Sandoval M P, Puorto G, Theakston R D, Warrel D A. Snake bites by the jararacuçu (B. jararacussu): clinicopathological studies of 29 proven cases in São Paulo State, Brazil. QJM 1997; 90: 323–334 https://doi.org/10.1093/qjmed/90.5.323 
Peixoto, R. 2021a. G1 Santos. Idosa é picada por cobra e sofre dois AVCs no litoral de SP. 21Mar.https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2021/03/21/idosa-e-picada-por-cobra-e-sofre-dois-avcs-no-litoral-de-sp-pedia-socorro.ghtml
Peixoto, R. 2021b. G1 Santos. Idosa que sofreu dois AVCs após ser picada por cobra morre no litoral de SP. 24Mar. https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2021/03/24/idosa-que-sofreu-dois-avcs-apos-ser-picada-por-cobra-morre-no-litoral-de-sp.ghtml
Rosenfeld, G. (1971). Symptomatology, pathology and treatment of snake bites in South America. Venomous animals and their venoms, 2, 345-384. 
Sachett, J. D. A. G., da Silva, A. M., Dantas, A. W. C. B., Dantas, T. R., Colombini, M., da Silva, A. M. M., ... & Bernarde, P. S. (2020). Cerebrovascular accidents related to snakebites in the Amazon—two case reports. Wilderness & Environmental Medicine, 31(3), 337-343. https://doi.org/10.1016/j.wem.2020.04.009 

Jiboia-arco-íris

Foto: Ivan L. Sampaio (Sampaio et al., 2018)

A Salamanta ou Jiboia-arco-íris, grupo de serpentes constritoras pertencentes ao gênero Epicrates distribui-se desde a Costa Rica até a Argentina. É inofensiva, mas altamente temida pelas populações nordestinas. A espécie Epicrates assisi  está presente na Caatinga, ativas durante manhã e noite, com fossetas labiais rasas (que detectam calor), alimenta-se de mamíferos, aves e ovos (de aves e lagartos),  boa escaladora e portadora de um belíssimo colorido furta-cor que caracteriza seu nome (Vanzolini et al., 1980). Apesar de pertencer à família Boidae, que possui dentição áglifa, portanto não peçonhenta, foi apontada pela população como a “cobra mais perigosa de todas” (Fernandes-Ferreira et al., 2012), considerada venenosa em algumas comunidades do sertão.

Apesar das serpentes estarem cada vez mais populares como animais de estimação, são necessários mais estudos sobre ecologia e reprodução, otimizando seu manejo, reduzindo o tráfico desses animais e contribuindo para estratégias de conservação (de Oliveira Lima et al., 2019), tais como termorregulação por Urias et al. (2013), indicando correlação entre a temperatura do substrato e a da superfície corporal, diferente da cloacal.


Almeida, G. V. L., & Santos, E. M. (2010). A Salamanta (Epicratesassisi Machado, 1945) É um animal venenoso: percepção de algumas comunidades do sertão de Pernambuco. Educação ambiental: responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade, 36-41.
de Oliveira Lima, T., Saldanha, A., Myller, G., Eleuterio, N. F., & de Almeida, E. C. (2019). Manejo reprodutivo de jiboias e outros boídeos criados em cativeiro. Rev. Bras. Reprod. Anim, 43(2), 276-283. 
Fernandes-Ferreira, H., Cruz, R. L., Borges-Nojosa, D. M., & Alves, R. R. N. (2012). Crenças associadas a serpentes no estado do Ceará, Nordeste do Brasil. Sitientibus, 11(2), 153-163.
Sampaio ILR, Santos CP, França RC, Pedrosa IMMC, Solé M, França FGR (2018) Ecological diversity of a snake assemblage from the Atlantic Forest at the south coast of Paraíba, northeast Brazil. ZooKeys 787: 107-125. https://doi.org/10.3897/zookeys.787.26946 
URIAS, ISIS CRISTINA URIAS, FERREIRA, BRENO WILIAM SILVA SANTOS, SILVA, RODRIGO DOS SANTOS, ARAÚJO, ELIELTON DA SILVA, DE LIRA, NAYARA REIS CORDEIRO, RIBEIRO, LEONARDO BARROS. TEMPERATURAS DA SUPERFÍCIE CORPÓREA E CLOACAL DE Epicrates assisi (SQUAMATA, BOIDAE): ASSOCIAÇÕES COM A ATIVIDADE MOTORA E CORRELAÇÕES COM A TEMPERATURA DO SUBSTRATO. Revista de Ciências Agroambientais, Alta Floresta, MT, v.11, n.2, p.159-164, 2013.

Comportamento predatório de serpentes Boidae de diferentes hábitos e biometria de Eunectes murinus Linnaeus, 1758 em laboratório 

Diferentes formas, de adquirir alimento foram desenvolvidas dentro do grupo das serpentes. Estratégias de obtenção de alimento podem estar relacionadas aos microhabitats de cada espécie. Este estudo objetivou comparar o comportamento predatório de Eunectes murinus (semiaquática) (n=4), Corallus hortulanus (arborícola) (n=2) Boa constrictor (semiarborícola) (n=4) e Epicrates maurus (terrestre) (n= 1) e descrevê-los de acordo com seus diferentes hábitos. Os indivíduos foram filmados em comportamento de predação com uma câmera de vídeo VHS em recintos que variaram conforme o tamanho corporal de cada animal. Os dados possibilitaram observar diferentes comportamentos de predação neste grupo de serpentes constritoras de diferentes hábitos. As estratégias apresentadas pelas espécies para subjugar e deglutir suas presas parece refletir a vida nos diferentes habitats ocupados pelos gêneros estudados.


CHARLES, Henrique Abrahão. Comportamento predatório de serpentes Boidae de diferentes hábitos e biometria de Eunectes murinus Linnaeus, 1758 em laboratório. 2007. 63 f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica - RJ, 2007.   

Cobra surpreende cambojano ao emergir em vaso sanitário

Foto: Reprodução/Daily Mail 

Ray Sopha, no dia 03 de março de 2021, flagrou um momento inusitado em sua privada, ao notar a presença de uma Cobra-rei emergindo do vaso sanitário, no banheiro de sua casa na vila de Phsar Prom, Pailin, Camboja. Pensou que a privada estivesse entupida por mau uso anterior, mas rapidamente notou que se tratava de uma cobra peçonhenta, o que lhe garantiu esse registro assustador e, antes que a cobra saísse da água e abrisse seu capuz para atacar, Ray foi para fora do banheiro para pedir ajuda. No entanto, Ray e parentes voltaram para se livrar da cobra, que não estava em lugar nenhum - apesar de uma busca completa no interior de toda a residência. 

Conclusão: Cobra fugiu, banheiro interditado e todos a salvo, neste caso!

Acidentes anteriores por encontros de cobras em banheiro incluem:

Uma mulher na Tailândia que foi picada por uma píton de dois metros em outubro passado. Boonsong Plaikaew, 54, finalizando o uso banheiro em sua casa em Samut Prakan, Tailândia, sentiu uma dor gigantesca da picada. O sangue jorrou por suas pernas, com mordida em suas nádegas, antes que a cobra a mordesse novamente no dedo. Seu marido acionou os paramédicos que levaram a Sra. Plaikaew ao hospital. Felizmente, a cobra não era venenosa e ela retornou para casa com antibióticos. 

Um mês antes, Siraphop Masukarat, de 18 anos, foi levado às pressas para o hospital depois que uma píton mordeu seu pênis enquanto ele se sentava no banheiro de sua casa em Nonthaburi, ao norte de Bangkok. O adolescente olhou para baixo e viu a píton com as mandíbulas presas na ponta do pênis. O sangue jorrou ao redor do vaso sanitário. O adolescente precisou de pontos no hospital local.


Mamba-negra

A Mamba-negra  (Dendroaspis polylepis) é uma espécie de cobra grande e extremamente venenosa, tanto terrestre, quanto arbórea. É diurna e conhecida por atacar pássaros e pequenos mamíferos (Armitage, 1965). Em superfícies adequadas, ele pode se mover a velocidades de até 16 km/h para distâncias curtas, quando adultas têm poucos predadores naturais.

Em uma exibição de ameaça, abre sua boca preta (Baynham, 2010), espalha o pescoço e às vezes sibila. É capaz de golpear a distâncias consideráveis ​​e pode entregar uma série de mordidas em rápida sucessão.

Peptídeos da Mamba-negra, que chamamos de mambalgins, não são tóxicos em camundongos, mas mostram um potente efeito analgésico na injeção central e periférica que pode ser tão forte quanto a morfina (Diochot et al., 2012). A composição de seu veneno difere das de outras mambas, isso pode refletir a preferência na dieta - pequenos mamíferos para a mamba-negra mais terrestre versus pássaros para as outras mambas predominantemente arbóreas (Stuart et al., 2017).

Que cobra-coral é esta?

Esta belíssima serpente brasileira é uma falsa-coral, Oxyrhopus trigeminus, com ocorrência em nosso Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Floresta Amazônica (Alencar, Galdino & Nascimento, 2012). São serpentes ovíparas e ativas sobre o solo, principalmente à noite (Marques et al., 2019). Para se alimentarem capturam lagartos, mamíferos e aves (Vitt & Vangilder, 1983; França et al., 2008; Alencar, Galdino & Nascimento, 2012; Mikalauskas, Santana, & Ferrari, 2017).

Apesar de não haver interesse médico para esta espécie, é opistóglifa,  apresentando dentição posterior capaz de subjugar suas presas e, como a maioria das cobras, em confronto com humanos ou potenciais predadores, tentará fugir ou morder, podendo causar acidentes de menor gravidade (Silveira & Nishioka,1992; Brasil, 2019).

Portanto, não manuseie serpentes, pois podem morder causando lesões de leves a fatais. As chances de confundir-se acreditando não se tratar de um animal peçonhento são enormes, por exemplo as cobras-corais-verdadeiras e jararacas com várias espécies que as mimetizam, imitando padrões de cor e comportamento. A correta identificação é feita por especialistas. 

As cobras são animais silvestres e devem ser mantidas em seu ambiente natural, caso encontre alguma em seu caminho, deixe-a seguir, haja sempre com prudência priorizando a segurança. Não mate-a! Peçonhentas ou não, elas não saem por aí a procura de humanos... Lembre-se: o bote também é uma estratégia de defesa destes animais. Mantenha sempre distância segura! Se precisar removê-la, acione os Bombeiros (Disque 193).

Brasil. Ministério da Saúde (2019). Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde : volume único [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. – 3ª. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2019. 740 p. : il  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf
FRANÇA, F. G., D. O. MESQUITA, C. C. NOGUEIRA, AND A. F. B. ARAÚJO. 2008. Phylogeny and ecology determine morphological structure in a snake assemblage in the Central Brazilian Cerrado. Copeia 2008:23–38. https://doi.org/10.1643/CH-05-034
Laura R. V. Alencar, Conrado A. B. Galdino, and Luciana B. Nascimento "Life History Aspects of Oxyrhopus trigeminus (Serpentes: Dipsadidae) from Two Sites in Southeastern Brazil," Journal of Herpetology 46(1), 9-13, (1 March 2012). https://doi.org/10.1670/09-219 
Lopes RA, Contrere MG, da Costa JR, Campos GM, Petenusci SO. The cephalic glands of Brazilian reptilia and amphibia. IV. Histology of labial, premaxillary, and Duvernoy's glands in the colubrid snake Oxyrhopus trigeminus. Gegenbaurs Morphologisches Jahrbuch. 1987 ;133(1):91-97. https://europepmc.org/article/med/3569821#impact
Marques, O. A. V., Eterovic, A., & Sazima, I. (2019). Serpentes da Mata Atlântica: guia ilustrado para as florestas costeiras do Brasil. Ponto A Editora, Cotia. https://www.researchgate.net/publication/335054920_Serpentes_da_Mata_Atlantica_guia_ilustrado_para_as_florestas_costeiras_do_Brasil
Mikalauskas, J. S., Santana, D. O., & Ferrari, S. F. (2017). Lizard predation Tropidurus hispidus (Squamata, Tropiduridae) by false coral snake Oxyrhopus trigeminus (Squamata, Dipsadidae) in the Caatinga, in northeastern Brazil. Pesquisa e Ensino em Ciências Exatas e da Natureza, 1(1). http://revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/RPECEN/article/view/174/135
Silveira, P. V. P., & Nishioka, S. de A. (1992). Non-venomous snake bite and snake bite without envenoming in a brazilian teaching hospital: analysis of 91 cases . Revista Do Instituto De Medicina Tropical De São Paulo, 34(6), 499-503. Retrieved from https://www.revistas.usp.br/rimtsp/article/view/28973
VITT, L. J., AND L. D. VANGILDER. 1983. Ecology of a snake community in northeastern Brazil. Amphibia–Reptilia 4:273–296. https://doi.org/10.1163/156853883X00148 

Pítons atacam humanos: casos reais!

A Píton-reticulada (Malayopython reticulatus) divide com a nossa sucuri o título de maior cobra do mundo. Ambas, normalmente, enrolam-se nas vítimas, matando-as, antes de devorá-las. As pítons são capazes de comer animais enormes, como crocodilos, hienas e até mesmo outras cobras. O forte aperto de uma píton é capaz de impedir o fluxo sanguíneo, gerando a parada cardiorrespiratória.  Infelizmente também há registros de vítimas humanas, o que é raro:  como o caso da píton de sete metros que tirou a vida de uma senhora na Indonésia. A cobra que engoliu a mulher foi encontrada e posteriormente aberta, para a remoção do corpo da vítima, ainda preservado. Outros casos semelhantes já foram reportados como o agricultor Akbar Salubiro, de 25 anos, que trabalhava em uma plantação de palmas na ilha de Sulawesi, Indonésia, quando desapareceu e teve seu corpo encontrado no interior de uma píton.

Uma publicação recente em revista on-line nacional, reportou equivocadamente a data de uma fatalidade envolvendo uma mulher, Wa Tiba de 54 anos, e uma píton no sudeste de Sulawesi, na Indonésia. Na verdade, o acidente foi noticiado em 16 de Junho há 3 anos atrás por Avi Selk de Washingtonpost (2018) e tratava-se de uma mulher que não retornou de seu milharal na noite anterior. Após a busca feita pelos aldeões, a poucos metros dos pertences da vítima, foi encontrada uma píton com cerca de 7 metros e abdome distendido. A cobra foi morta e, após aberta, a mulher desaparecida jazia intacta com sua vestimenta (Selk, 2018).

A perda de habitat e a escassez de fontes de alimentos naturais da cobra possivelmente influenciam casos raros como estes. Acesse para reportagens completas: 

Atenção os links abaixo possuem conteúdo impróprio para menores!!! Cenas impactantes!!!! Cobra engole humano!!!!


https://www.terra.com.br/noticias/brasil/catve/videos/video-piton-gigante-mata-e-engole-mulher-na-indonesia,8683054.html
https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-39441666
https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/como-esta-cobra-de-7-metros-engoliu-um-homem-inteiro
Istoé. 2021. Mulher desaparecida é encontrada dentro de cobra piton. Da Redação. Abril2021. https://istoe.com.br/mulher-desaparecida-e-encontrada-dentro-de-cobra-piton/
Selk, A. 2018. A woman went to check her corn and was swallowed by a python. Whasingtonpost. WorldViews.  https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2018/06/16/a-woman-went-to-check-her-corn-and-was-swallowed-by-a-python/

Crocodilo-de-água-salgada

O crocodilo de água salgada Crocodylus porosus é uma espécie comum da costa leste da Índia ao ao norte da Austrália e Micronésia. Pode ser encontrada em mar aberto, perto da costa, riachos de manguezais, rios de água doce e em pântanos. Há muitos relatos de ataques destes crocodilos a humanos e animais domésticos. As possíveis razões para o ataque de crocodilos a humanos incluem a defesa de territórios individuais, fontes de alimentos atraentes, como gado e outros animais domésticos, e despejo de resíduos alimentares de alta proteína em bancos ou áreas de praia (Sivaperuman, 2015). Devido seu comportamento territorial, o crocodilo de água salgada é considerado o mais perigoso de todos os crocodilianos, com aumento de incidência de ataques no Norte da Austrália, com média de 0,5 óbitos por ano, geralmente por crocodilos marinhos com mais de 4 m (Caldicott et al., 2005).

Apesar da maioria dos crocodilianos ser sociável, compartilhando área e comida, os crocodilos de água salgada são menos tolerantes, mesmo com sua própria espécie; os machos compartilham o território com as fêmeas, mas expulsam seus rivais.  O crocodilo marinho é o maior, com registros do maior de todos os tempos, o Lolong de 6,17m (Guinnes, 2011a), e do maior mantido vivo em cativeiro, Cassius de 5,48m (Guinnes, 2011b). Esta espécie apresenta extremo dimorfismo sexual, com machos que podem ultrapassar 6 metros de comprimento e fêmeas muito menores, com até 3 metros. Quanto a sua força, Crocodylus porosus registrou uma mordida de 16.414 N (3,689 libras) representando a maior força de mordida medida em qualquer animal (Erickson et al., 2012). 

Estão entre os mais ativos de todos os crocodilos, especialmente na água, navegando, com registros de deslocamento de 590 km (Campbell, 2010) , salvo quando estão se aquecendo em terra  (Grigg et al., 1998).

Por permanecerem submersos bastante tempo, conseguem surpreender suas presas que incluem tubarões, outros peixes de água doce e salgada, crustáceos, répteis, aves e mamíferos, inclusive o ser humano e jovens se alimentando de crustáceos e peixes (Taylor, 1979).  Embora os crocodilos mergulhem por cerca de 15 minutos, o tamanho está correlacionado ao tempo de submersão e os maiores crocodilos conseguem manter-se submersos de 2 a 3 horas (White, 1969).

Predador de emboscada veloz, que apesar de seu imenso tamanho consegue manter-se oculto e surpreender suas vítimas. Assim, o fato de não poderem ser vistos em um determinado corpo d'água não significa que eles não estejam lá, e deve-se sempre ter cuidado, nas áreas de sua ocorrência.


Caldicott, DG, Croser, D., Manolis, C., Webb, G., & Britton, A. (2005). Ataque de crocodilos na Austrália: uma análise de sua incidência e revisão da patologia e gerenciamento de ataques de crocodilos em geral. Wilderness & Environmental Medicine , 16 (3), 143-159. https://doi.org/10.1580/1080-6032(2005)16[143:CAIAAA]2.0.CO;2
Campbell, H.A.; Watts, M. E.; Sullivan, S.; Read, M. A.; Choukroun, S.; Irwin, S. R. & Franklin, C. E. (2010). "Estuarine crocodiles ride surface currents to facilitate long‐distance travel". Journal of Animal Ecology. 79 (5): 955–964. doi:10.1111/j.1365-2656.2010.01709.x 
Erickson, GM; Gignac PM; Steppan SJ; Lappin AK; Vliet KA; et al. (2012). "Insights into the Ecology and Evolutionary Success of Crocodilians Revealed through Bite-Force and Tooth-Pressure Experimentation". PLOS ONE. 7 (3): e31781. Bibcode:2012PLoSO...731781E  
Grigg, GC, Seebacher, F., Beard, LA, & Morris, D. (1998). Relações térmicas de grandes crocodilos, Crocodylus porosus, de vida livre em uma situação naturalística. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences , 265 (1407), 1793-1799.  https://doi.org/10.1098/rspb.1998.0504
Guinness. 2011a. Largest crocodile in captivity ever. https://www.guinnessworldrecords.com.br/world-records/117291-
Guinness. 2011b. Largest-crocodile-in-captivity-everLargest crocodile in captivity (living). https://www.guinnessworldrecords.com.br/world-records/largest-crocodile-in-captivity
Sivaperuman, C. (2015). Saltwater Crocodiles in Andaman and Nicobar Islands, with Special Reference to Human–Crocodile Conflict. In Marine Faunal Diversity in India (pp. 453-460. Academic Press.https://doi.org/10.1016/B978-0-12-801948-1.00026-4Fonte: Ministério da Saúde http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/animaisbr.defhttps://www.metropoles.com/brasil/video-crianca-de-2-anos-encontra-cobra-dentro-do-carro-sob-a-cadeirinha
Taylor, JA (1979). "Os alimentos e hábitos alimentares do subadulto Crocodylus porosus Schneider no norte da Austrália". Pesquisa da Vida Selvagem . 6 (3): 347–359. doi : 10.1071 / WR9790347 
White, F. N. (1969). Redistribution of cardiac output in the diving alligator. Copeia, 567-570. https://doi.org/10.2307/1441936 
Crocodilo de água salgada no St. Augustine Alligator Farm Zoological Park , Flórida 
Fotógrafo: Paul Thomsen (WILDFOTO.COM.AU) Assunto: Crocodilo de água salgada Localização: Território do Norte, Austrália 
Lolong foi o maior crocodilo em cativeiro de todos os tempos com 6,17 m e 1.075 kg.
Cassius, um crocodilo de água salgada australiano (Crocodylus porosus), é o maior crocodilo em cativeiro a 5,48 m

Acidentes por animais peçonhentos

No Brasil, em 2019, foram registrados cerca de 268 mil acidentes por animais peçonhentos, dentre serpentes (30 mil), aranhas (36 mil), escorpiões (156 mil), lagartas (6 mil), abelhas (22 mil) e outros animais em menor proporção.

Produtores nacionais (Instituto Butantan, Instituto Vital Brazil, Fundação Ezequiel Dias e Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos) fornecem ao Ministério da Saúde os antivenenos necessários para a distribuição das cotas aos Estados, levando em consideração critérios epidemiológicos, que são as notificações de acidentes por animais peçonhentos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

A  disponibilização desses antivenenos é essencial para a redução de óbitos, pois, utilizados de forma adequada, são a forma mais eficaz de neutralização da peçonha do animal causador do acidente. 

A prevenção é a melhor alternativa! Proteja a sua vida e a vida dos animais silvestres também. Evite o confronto, deixe o animal seguir seu curso, use algum instrumento para afastá-lo de seu caminho, sem machucá-lo! Use equipamentos de proteção como botas e luvas, caso trabalhe em ambientes rurais, ou ao entrar em áreas de mata. Examine com cautela objetos antes de usar, mantenha a área limpa (sem entulhos e lixos), vede frestas e buracos em portas, assoalho e forros.

Atenção para o verão, pois aumenta o número desses acidentes!!!!

Respeite a vida!!!


Fontes: https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/acidentes-por-animais-peconhentoshttp://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/animaisbr.def

Acidentes ofídicos em animais domésticos

No Brasil 85,4% dos acidentes ofídicos em seres humanos notificados são causados por serpentes do gênero Bothrops, conhecidas como Jararacas, representando um importante problema de saúde pública (Ministério da Saúde, 2019). Devido a falta de obrigatoriedade da notificação para a medicina veterinária, as estatísticas para os animais domésticos não são precisas (Cintra et al., 2014); mas, mesmo assim, a maior incidência destes acidentes também é botrópica e os cães  são  altamente suscetíveis devido ao  seu  comportamento  curioso, superando os felinos que são menos atacados. Dentre os mamíferos domesticados, os mais passíveis, em ordem decrescente, de se tornarem vítimas de serpentes são: bovinos, equinos, ovinos, caprinos, caninos, suínos e felinos  (Bernardi et al. 2011). Os  locais comumente atingidos no ataque da serpente em cães são o focinho e o  pescoço e caracteriza-se pela marca das presas no local da picada, sangramento local e edema precoce (Antonussi et al.,  2016). Acidentes graves representaram 40% dos casos, no qual edema foi o sinal clínico mais frequente (88,7%), seguido por manifestações hemorrágicas (41,5%) demonstrados em estudos no Rio Grande do Sul (Silva et al., 2018). A complexidade de cada caso pode variar mediante diferentes fatores como a espécie da serpente e sua ontogenia (Ferreira & Barravieira, 2004). Devido à atividade proteolítica,  hipotensora  e  coagulante do veneno, o  tratamento  imediato, baseado na soroterapia,  é  um  fator decisivo  para  o prognóstico  do  paciente (Nunes, Coelho & Dalmonin, 2013), sendo prontamente atendido e bem manejado clinicamente geralmente resulta em sucesso no tratamento hospitalar (de Carvalho Alves et al., 2020).


Antonussi, T. D., Rodrigues, F. R., Da Silva, G. M. A., Salvador, R. D. C. L., Nardo, C. D. D., & Galvao, A. L. B. (2016). Acidentes causados por serpentes do gênero bothrops em pequenos animais–revisão de literatura. Nucleus Animalium, 8(2), 4.https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5747031
BERNARDI, E.; NORONHA, F.; DALL´ASTA, L. B.; OLIVEIRA, M.; REOLON, M.; PREVIATI, B. B.; SILVA, A. A.; MARTINS, D. B.; OLIVEIRA, E. Z.; ALCÂNTARA, P. Acidente ofídico em cão – relato de caso. XVI Seminário Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão – UNICRUZ, 2011. https://home.unicruz.edu.br/seminario/anais/anais-2011/saude/ACIDENTE%20OF%C3%83 
Cintra, C. A., Paulino Junior, D., Dias, L. G. G., Pereira, L. F., & Dias, F. G. G. (2014). Acidentes ofídicos em animais domésticos. Enciclopédia Biosfera, Centro científico conhecer, 10(18), 58. https://www.conhecer.org.br/enciclop/2014a/AGRARIAS/Acidentes%20ofidicos.pdf 
de Carvalho Alves, L. M., de Abreu Pereira, J., Barreto, C. L. M. S., Barreto, M. A. S., Figueiredo, K. B. W., & Morante, N. J. (2020). Diagnóstico e tratamento de acidente ofídico por serpente do gênero Bothrops em cão. Veterinária Notícias, 26(1), 10-10. http://www.seer.ufu.br/index.php/vetnot/article/view/51930
Ferreira Junior, R. S., & Barravieira, B. (2004). Management of venomous snakebites in dogs and cats in Brazil. Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases, 10(2), 112-132.https://doi.org/10.1590/S1678-91992004000200002 
Ministério da Saúde. 2019. http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/animaisbr.def
Nunes, N. J. D. S., Coelho, E. M., & Dalmolin, M. L. (2013). Acidente ofídico em um cão-relato de caso. R. Ci. agrovet., 41-42.https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/vti-11971 
SILVA, Laís G.; PANZIERA, Welden; LESSA, Carlos A.S.  and  DRIEMEIER, David. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes ofídicos botrópicos em cães. Pesq. Vet. Bras. [online]. 2018, vol.38, n.11, pp.2146-2149. ISSN 1678-5150.  https://doi.org/10.1590/1678-5150-pvb-5889. 
Foto: Acidente botrópico em cães. Aumento acentuado no submandibular e volume labial (edema) é observado. Dois pontos hemorrágicos correspondentes a  local de inoculação do veneno é visualizado adjacente à comissura labial. (Silva et al., 2018). 
Foto: Hematomas na mucosa da cavidade oral canina decorrente de picada de cobra (Cintra et al., 2014).
Foto: cão vítima de acidente botrópico, imagem do edema no 1º dia (esquerda) e 6 dias após o tratamento (direita) (Bernardi et al., 2011).

Píton-birmanesa

Apesar de conhecida por sua beleza e docilidade, sendo mantida como animal de estimação, a Píton-birmanesa (Python bivittatus) por ser uma das maiores serpentes do mundo, podendo ultrapassar 5 m de comprimento (Barker et al., 2012), é um animal muito poderoso e potencialmente letal, podendo causar injúrias e até matar por constrição, com registros de óbitos humanos, como o caso do adolescente no Colorado (Chiszar et al., 1993), do jovem em Ontario (CBC News, 2013) e do estudante em Caracas (The Telegraph, 2008).  É uma espécie asiática, de grande porte, considerada invasora na américa, com grande impacto negativo na biodiversidade da Flórida, como a redução dos mamíferos dentro do Parque Nacional de Everglades, especialmente pequenos mamíferos (Holbrook & Chesnes, 2011), onde raposas e coelhos desapareceram, queda nos avistamentos de guaxinins em 99,3%, gambás 98,9% e cervos de cauda branca 94,1% (Adams, 2012). As  aves também entram no cardápio destas pítons, inclusive  aves ameaçadas de extinção (Dove et al., 2011). Ocupa tocas construídas por outros vertebrados, com registro de co-ocupação em toca de tartaruga, Gopherus polyphemus, onde havia uma agregação reprodutiva desta píton com uma fêmea e seis machos, sugerindo o monitoramento dessas tocas como estratégia de controle populacional desta espécie exótica, especialmente em períodos reprodutivos (Bartoszek et al., 2018).


Adams, Guy (2012-02-01). "Pythons are squeezing the life out of the Everglades, scientists warn". The Independent. London. 
Barker, DG; Barten, SL; Ehrsam, JP; Daddono, L. (2012). "Os comprimentos corrigidos de dois pítons gigantes bem conhecidos e o estabelecimento de um novo registro de comprimento máximo para pítons birmaneses, Python bivittatus " . Boletim da Sociedade Herpetológica de Chicago. 47(1): 1–6.
Bartoszek, IA; Andreasis, PT; Prokopervin, C; Curry, G & Reed, RN 2018. Python bivittatus (Burmese Python) and Gopherus polyphemus (Gopher Tortoise) Habitat use, breeding aggregation, and interspecific interaction. Herpetological Review 49 (2): 353-354. 
Chiszar, David; Smith, Hobart M.; Petkus, Albert; Dougherty, Joseph (1993). "A Fatal Attack on a Teenage Boy by a Captive Burmese Python (Python molurus bivittatus) in Colorado". The Bulletin of the Chicago Herpetological Society. Chicago Herpetological Society. 28 (#12): 261. ISSN 0009-3564. 
Dove, CJ, Snow, RW, Rochford, MR, & Mazzotti, FJ (2011). Aves consumidas pelo invasor python birmanês (Python molurus bivittatus) no Parque Nacional de Everglades, Flórida, EUA. The Wilson Journal of Ornithology , 123 (1), 126-131. 
Holbrook, J., & Chesnes, T. (2011). AN EFFECT OF BURMESE PYTHONS (PYTHON MOLURUS BIVITTATUS) ON MAMMAL POPULATIONS IN SOUTHERN FLORIDA. Florida Scientist, 74(1), 17-24. Retrieved December 14, 2020,
"Python Caused Death in Ontario Home in 1992 Case". Toronto News. CBC News. Toronto: Canadian Broadcasting Commission. Canadian Press. 2013-04-13. ISSN 0708-9392. Retrieved 2019-02-17.
"Python Kills Careless Student Zookeeper in Caracas". The Telegraph. London. AP. 2008-08-26. ISSN 0307-1235. 

Ameaça à vida silvestre pela introdução de espécies exóticas

Os gatos domésticos  são animais fabulosos e, como animais companheiros, vêm se destacando cada vez mais, seja por sua maior tolerância a pequenos espaços residenciais ou a períodos mais longos sem a presença do seu dono. A presença do gato em áreas urbanas e rurais é bem vista, por incluir em seu cardápio outras espécies invasoras, potencialmente  prejudiciais ao ecossistema e à saúde humana, porém o abandono ou o livre acesso desta espécie em ambientes naturais pode afetar à fauna silvestre, inclusive gerando risco de extinção. Assim, a introdução de animais exóticos pode ter efeito substancial na vida selvagem: transmissão de doenças; predação, por ser o gato um caçador generalista, podem gerar sérios problemas, inclusive trazendo para a casa amostra do que foi predado (Woods et al., 2003), um exemplo particularmente conhecido é o da wren da Ilha Stephens Xenicus lyalli, cuja população inteira foi eliminada por um único gato pertencente ao faroleiro da ilha (PM, 1957) e sobreposição alimentar, que com gatos pode ocorrer não só de mamíferos, mas também de aves e répteis. Os ecossistemas naturais têm sofrido com todos os tipos de transtornos causados por espécies exóticas, incluindo além dos gatos, cães, cavalos, muitos outros vertebrados, além de invertebrados, bem como plantas (Ferreira et al., 2012). 

É preciso conscientização e políticas públicas para reduzir esses impactos!

A Naja LIBERTADORA: "quebradora de correntes" no Brasil

A Naja kaouthia, conhecida como Cobra-monocelada é uma serpente peçonhenta fascinante, potencialmente tóxica e muito explorada comercialmente. A serpente é original da Índia e Ásia e considerada exótica no Brasil, o que desperta atenção no caso de introdução acidental em território nacional, por interferir no ambiente, podendo gerar impactos em nossa biodiversidade (Ferreira et al., 2012). A naja, para se defender de predadores, levanta a parte anterior e abre o capelo exibindo seu desenho na parte posterior, semelhante a um olho e frequentemente ataca, com dentes moderadamente adaptados para cuspir (Wüster, 1998). Encontrada em buracos de árvores e áreas onde os roedores são abundantes, favorecidas pela ação humana. N. kaouthia come, além de pequenos mamíferos, sapos, serpentes, aves e, eventualmente, peixes; com atividade mais crepuscular (Kyi & Zug, 2003).

Seu veneno contém neurotoxinas fracas (Ogay et al., 2005), além de miotoxinas e cardiotoxinas (Fletcher et al., 1991). A maioria das atividades enzimáticas não varia entre os venenos de adultos e juvenis; no entanto, algumas atividades ausentes nas juvenis podem ter implicações biológicas relacionadas à predação e clínicas (Modahl et al., 2016).

Aqui no Brasil, a fama desta Naja repercutiu com o caso do estudante de medicina veterinária que criava ilegalmente essa cobra e foi picado durante a prática de free handling e, por conta deste acidente, vários outros animais mantidos ilegalmente foram também resgatados (NatGeoBr, 2020).


Fletcher, JE; Jiang, M.-S .; Gong, Q.-H .; Yudkowsky, ML; Wieland, SJ (1991). "Efeitos de uma cardiotoxina do veneno de Naja kaouthia no músculo esquelético: Envolvimento da liberação de cálcio induzida pelo cálcio, correntes de íons de sódio e fosfolipases A2 e C". Toxicon . 29 (12): 1489–1500. http://doi: 10.1016 / 0041-0101 (91) 90005-C 
KYI, Sai Wunna; ZUG, George R. Comportamento incomum de coleta de alimentos de Naja kaouthia no santuário de pássaros de Moyingue Wetlands, Myanmar. Hamadríade , 2003. 
Modahl, CM, Mukherjee, AK, & Mackessy, SP (2016). Uma análise da ontogenia do veneno e toxicidade específica para presas na Cobra Monocled (Naja kaouthia). Toxicon , 119 , 8-20. 
NatGeoBr (2020). National Geographic Brasil. Fotos: naja de monóculo que picou estudante em Brasília está no zoológico aguardando seu destino. Animais. 13jul de 2020.
Ogay, A .; Rzhevskya, DI; Murasheva, AN; Tsetlinb, VI; Utkin, YN (2005). "A neurotoxina fraca do veneno da cobra Naja kaouthia afeta a regulação hemodinâmica, agindo nos receptores de acetilcolina". Toxicon . 45 (1): 93–99. doi : 10.1016 / j.toxicon.2004.09.014 
Wüster, W (1998). "As cobras do gênero Naja na Índia" (PDF). Hamadríade. 23(1): 15–32

Cuidado parental

Visando o sucesso da prole, vários animais apresentam a estratégia de cuidado parental, que se refere a qualquer comportamento que contribua para a sobrevivência dos filhotes, podendo incluir a preparação do ninho, alimentação, a defesa de predadores, dentre outros. No caso das Serpentes, algumas são conhecidas por apresentarem cuidado durante período de incubação dos ovos nos ninhos, sendo desconhecido cuidado parental a indivíduos jovens (Pough et al. 2004), como o caso da Python bivittatus que registrou perda de 57% de sua massa corporal durante esse processo, abandonando o ninho antes da eclosão (Wolf et al., 2016), também há registro de assistência materna nos primeiros dias após o nascimento em Cascavel-chifruda, Crotalus cerastes (Reiserer, Schuett & Early, 2008). A Cobra-rei, Ophiophagus hannah, é uma das poucas cobras que guardam os ovos durante a incubação e é a única cobra conhecida por construir ativamente seu ninho com material vegetal para depositar seus ovos (Oliver, 1956; Whitaker, Shankar & Whitaker, 2013 ).  Uma forma de cuidado parental é a proteção no ninho e outros animais manifestam diversos repertórios comportamentais para fazê-lo; como o caso de aves, por exemplo, um casal de Udu-de-coroa-azul, Momotus momota junto com indivíduos de outras espécies de aves foram flagrados fazendo tumulto para espantar uma Serpente Jiboia, Boa constrictor, que tentava atacar seu ninho (da Silva & Pesquero, 2018). Cuidados parentais incomuns em mamíferos foram registrados no Parque Nacional do Quênia, onde uma leoa adulta, após ter perdido seus próprios filhotes, surpreendeu a todos ao adotar um filhote de órix, um tipo de antílope que compõe sua dieta (da Reuters, 2002; RecordTV, 2012), outro caso de leoa cuidando de filhote de macaco foi flagrado em Botsuana, na África (Extra, 2014).Casos inusitados de diferentes espécies demonstrando relação amistosa também foram registrados em cativeiro (RecordTV, 2012).


da Reuters. 2002. Leoa surpreende cientistas no Quênia ao adotar filhote de antílope, Nairóbi, . in: Folhaonline. https://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u10334.shtml
da Silva, S. B., & Pesquero, M. A. 2018. COMPORTAMENTO DE TUMULTO (Mobbing behaviour) ENTRE Momotus momota (Linnaeus, 1766) e Boa constritor (Linnaeus, 1758) NO SUL GOIANO. In: v. 2 n. 1 (2018): I INTERNATIONAL INTERDISCIPLINARY ON ENVIRONMENT AND SOCIETY & II SIAS – SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR EM AMBIENTE E SOCIEDADE / ECOLOGIA, ORNITOLOGIA E MIRMECOLOGIA. https://www.anais.ueg.br/index.php/sias/article/view/14083 
Extra. 2014. Leoa mata mamãe macaca, mas cuida de filhote na África; veja fotos impressionantes. https://extra.globo.com/noticias/animais/leoa-mata-mamae-macaca-mas-cuida-de-filhote-na-africa-veja-fotos-impressionantes-12113504.html
Oliver, J. A. (1956). Reproduction in the king cobra, Ophiophagus hannah Cantor. Zoologica, 41, 145-152. https://www.biodiversitylibrary.org/part/203410
RecordTV. 2012. Tudo a Ver 22 /08/2012: Leoa adota filhote de antílope. https://www.youtube.com/watch?v=2dkySTAUMNc
Pough, F. Harvey, Robin M. Andrews, John E. Cadle, Martha L. Crump, Alan H. Savitzky e Kentwood D. Wells. 2004. Herpetology, Third Edition. Nova York: Prentice Hall. 726 pp.
Reiserer, R. S., G. W. Schuett, and R. L. Early (2008) Dynamic aggregations of newborn sibling rattlesnakes exhibit stable thermoregulatory properties. Journal of Zoology 274:277-283(7). https://zslpublications.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1469-7998.2007.00383.x 
Whitaker, N., Shankar, P. G., & Whitaker, R. (2013). Nesting ecology of the King Cobra (Ophiophagus hannah) in India. Hamadryad, 36(2), 101-107.
Wolf, A. J., Walters, T. M., Rochford, M. R., Snow, R. W., & Mazzotti, F. J. (2016). Incubation temperature and sex ratio of a Python bivittatus (Burmese Python) clutch hatched in Everglades National Park, Florida. Southeastern Naturalist, 15(sp8), 35-39. https://doi.org/10.1656/058.015.sp803
Foto: Python bivittatus e seus ovos.
Foto: Jiboia que atacou ninho de Udu-de-coroa-azul e foi espantada pelo comportamento de tumulto das aves
Foto: Leoa adota filhote de antílope

Foto: Evan Schiler/Reprodução/The LEO Chronicles 

Colossus em sua exposição no Zoológico de Pittsburgh. Fotografia ca. 1960 porBill Allen, Curador de Herpetologia, cortesia de Herb Ellerbrock, ReptileDepartamento, Zoológico de Pittsburgh e Aquário PPG (Barker et al. 2012).
Baby na sala de exames do veterinário no final de sua vida. Seus problemas médicos fizeram com que ela perdesse mais de 100libras de peso. Fotografia de Stephen L. Barten, DVM.(Barker et al. 2012).
Samantha, Zoológico do Bronx, em Nova York . (BBC News, 2002)

Prêmio de $ 50,000 por cobra maior que 9 metros (30 pés)

Theodore Roosevelt (26º presidente dos EUA), no início do século XX, queria comprar uma cobra viva e saudável com 30 pés ou mais de comprimento, oferecendo a quantia de US $ 1.000. Apesar de suas expedições selvagens, inclusive no Brasil (Roosevelt, 1914), ninguém havia capturado uma cobra daquele tamanho, mesmo com incontáveis rumores sobre serpentes gigantescas, fazendo essa recompensa passar para $5,000, depois $15,000 e, finalmente, $50,000 em 1980 oferecida pela Sociedade Zoológica de Nova York, ultrapassando sua existência até 2002.

Há muitas serpentes que ganharam fama por seu gigantesco comprimento, geralmente superestimado, como o Colossus (Malayopython reticulatus) estimado em 28 pés, e confirmado com pouco mais de 20 pés (6,35 m), a Baby (Python bivittatus), com recorde de 27 pés, mas pouco mais de 18 pés (5,74m) confirmados (Barker et al. 2012), a Samantha, uma Píton-reticulada (Malayopython reticulatus), que graças a esse possível prêmio deixou de virar acessório de couro, chegou ao Zoológico com 21 pés e após uma década veio a óbito com 26 pés (7,9m) (Santora, 2002), dentre os boideos temos um registro de Sucuri-verde (Eunectes murinus) com 18 pés e 6 polegadas (5,64m) equivocadamente atribuído a uma jiboia (Boa constrictor) (Barker et al. 2012), 17 anos de estudos na Amazônia Venezuelana registraram encontros de anacondas com pouco mais de 5m (Rivas et al. 2016), e a Medusa, atual recordista mundial oficial viva, com 7,67 metros de comprimento total, superando a Píton Fluffy que detinha o recorde, com seus 7,30 metros (Guinness, 2011). A morte de Samantha marcou o fim da premiação que foi retomada por Brian Barczyk (2019), criador de répteis, ao postar um vídeo oferecendo a mesma quantia e resgatando o sonho de Teddy Roosevelt. Até os dias atuais, ninguém conseguiu reivindicar tal prêmio!!!

Barczyk, Brian. 2019. OFFERING $50,000 for a 30 FOOT SNAKE!! CLAIM YOUR PRIZE!! | BRIAN BARCZYKBarker, DG; Barten, SL; Ehrsam, JP; Daddono, L. (2012). "Os comprimentos corrigidos de dois pítons gigantes bem conhecidos e o estabelecimento de um novo registro de comprimento máximo para pítons birmaneses, Python bivittatus " . Boletim da Sociedade Herpetológica de Chicago. 47(1): 1–6.BBC News. 2002. A cobra monstro Samantha morre. Nov 2002.
Guinness . 2011. Cobra mais longa de todos os tempos (cativeiro)". Livro de recordes mundiais do.Guinness .
Rivas, JA, Molina, CR, Corey, SJ, & Burghardt, GM (2016). História natural das anacondas verdes neonatais (Eunectes murinus): um pedaço do antigo bloco. Copeia, 104 (2), 402-410. doi: 10.1643 / ce-15-238 http://dx.doi.org/10.1643/CE-15-238 
ROOSEVELT, Theodore. Pelo sertão brasileiro . Melhores livros em, 1914.
Santora, Marc. 2002. The New York Times. Never leather Samantha the python dies at the zoo. Nov 2002. 

Medusa - a maior serpente

Medusa, uma Píton-reticulada (Malayopython reticulatus) mantida em cativeiro, registrou 7,67 metros de comprimento total e 158,8 kg em sua medição de recorde mundial oficial, em 12 de outubro de 2011, com o título de a cobra mais longa viva (em cativeiro).

A Píton Fluffy detinha o recorde, com 7,30 metros e morreu em 2010, aos 18 anos.


Cobra mais longa de todos os tempos (cativeiro)". Livro de recordes mundiais do Guinness . 2011. 
Titanoboa cerrejonensis (Réplica em tamanho real da serpente feita por especialistas)
Foto: Ray Carson / UF. Vértebras anaconda e titanoboa. Uma comparação lado a lado das vértebras pertencentes (à esquerda) à anaconda atual (Eunectes) e (à direita) à de Titanoboa cerrejonensis.
O tamanho relativo da Titanoboa em relação ao humano moderno, Gigantophis, píton reticulada e anaconda verde. Imagem: Gamma 124 - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=68655718

Gigantes do passado

A Titanoboa cerrejonensis  é uma espécie de cobra extinta da família Boidae que habitava a floresta neotropical da Formação Cerrejón entre 58 e 60 milhões de anos atrás, Paleoceno da Colômbia. Seu comprimento corporal estimado é de 13 m e uma massa de 1.135 kg, tornando-a a maior cobra conhecida (Head at al., 2009). A serpente Gigantophis é considerada a maior Madtosiidae conhecida com cerca de 6,9 m, porém esta estimativa deve ser tratada com cautela; devido a escassez de coluna vertebral preservada em Madtsoiidae e a possível diferença entre estas e as atuais Boidae (Rio & Mannion, 2017), mesmo assim está entre os maiores ofídios, perdendo apenas para a Titanoboa. Madtsoiidae é uma extinta família de cobras com um registro fóssil do Cretáceo Superior até o final do Pleistoceno, na América do Sul, África, Índia, Austrália e sul da Europa.  Madtsoiídeos incluem tanto algumas das maiores cobras que já rastejaram na terra, quanto pequenas (Gómez, Garberoglio & Rougier, 2019). Além da Gigantophis, outra Madtsoidae gigante é a famosa Madtsoia bai, com medidas máximas semelhantes (Simpsom, 1933). Aqui no Brasil, do Paleoceno, temos a Madtsoia camposi, da Formação Itaboraí (Rage, 1998).

Segundo o Biólogo Henrique, especialista em comportamento predatório de Boidae,  uma disputa entre Madtsoia bai e a Titanoboa cerrejonensis seria comparável a uma batalha entre Jiboia e Anaconda, respectivamente. 


Gómez, RO, Garberoglio, FF, & Rougier, GW (2019). Uma nova cobra do Cretáceo Superior da Patagônia: Filogenia e tendências na evolução do tamanho do corpo de cobras madtsoidas. Comptes Rendus Palevol , 18 (7), 771-781. https://doi.org/10.1016/j.crpv.2019.09.003
Head, J. J., Bloch, J. I., Hastings, A. K., Bourque, J. R., Cadena, E. A., Herrera, F. A., ... & Jaramillo, C. A. (2009). Giant boid snake from the Palaeocene neotropics reveals hotter past equatorial temperatures. Nature, 457(7230), 715-717. https://doi.org/10.1038/nature07671
Rage, J. C. (1998). Fossil snakes from the Palaeocene of São José de Itaboraí, Brazil. Part I. Madtsoiidae, Aniliidae. Palaeovertebrata, 27(3-4), 109-144. 
Rio, JP; Mannion, PD (2017). "A osteologia da cobra gigante Gigantophis garstini do alto Eoceno do Norte da África e sua influência nas relações filogenéticas e biogeografia de Madtsoiidae". Journal of Vertebrate Paleontology . 37 (4): e1347179. doi : 10.1080 / 02724634.2017.1347179 
Simpson, GG (1933). Um novo fóssil de cobra dos leitos Notostylops da Patagônia. Boletim do AMNH; v. 67, artigo 1.http://digitallibrary.amnh.org/handle/2246/354 

Jiboia

A jiboia, Boa constrictor, é uma cobra não-peçonhenta, frequentemente mantida em cativeiro como animal de estimação, apesar do grande porte, que ultrapassa 4,5  metros (Glaw & Franzen, 2016). Apresenta atividade tanto no solo como em arbustos, com independência do substrato para realizar a deglutição (Charles, 2007), dieta generalista, utilizando a emboscada e busca ativa para se alimentar de lagartos, pássaros e mamíferos (preferencialmente os adultos) e, em ambientes antropogênicos, predam ratos e aves domésticas.  Os filhotes eventualmente comem presas proporcionalmente maiores e múltiplas presas também podem ser consumidas (Pizzatto et al., 2009). Durante a predação, a constrição da jiboia causa a parada circulatória na presa, levando-a à óbito (Boback et al., 2015). Usam dicas visuais para seu deslocamento, optando por ambientes mais escuros como destino (Gripshover & Jayne, 2020).

As jiboias são vivíparas e os machos apresentam esporas pélvicas (membros vestigiais) maiores  que utilizam na reprodução. Há registro de partenogênese para esta espécie (Booth et al., 2011). 

Apesar de inofensiva, pode causar injúrias quando manuseada (Eg. Veloso, 2017) e para se defender, além de morder, a jiboia pode retrair a cabeça e o pescoço, em forma de S, produzir assobios longos e altos, "o bafo da jiboia", e fazer descarga cloacal (Martins & Oliveira, 1998).  É recomendado que acione os bombeiros pelo 193, caso haja necessidade de remoção do animal. Em caso de mordida, lavar bem o local e observar a lesão, dependendo da gravidade, procurar atendimento médico.


Boback, S. M., McCann, K. J., Wood, K. A., McNeal, P. M., Blankenship, E. L., & Zwemer, C. F. (2015). Snake constriction rapidly induces circulatory arrest in rats. Journal of Experimental Biology, 218(14), 2279-2288. https://jeb.biologists.org/content/218/14/2279.short
Booth, W., Johnson, DH, Moore, S., Schal, C., & Vargo, EL (2011). Evidência de constritores Boa não clonais, mas sem pai, viáveis. Biology Letters , 7 (2), 253-256. https://doi.org/10.1098/rsbl.2010.0793 
Charles, Henrique Abrahão. Comportamento predatório de serpentes Boidae de diferentes hábitos e biometria de Eunectes murinus Linnaeus, 1758 em laboratório. 2007. 63 f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica - RJ, 2007.   
Glaw, F .; Franzen, M. (2016). "Sobre o comprimento máximo deBoa constrictor (Serpentes, Boidae)". Spixiana . 39 (# 2): 264. 
Gripshover, N. D., & Jayne, B. C. (2020). Visual Contrast and Intensity Affect Perch Choice of Brown Tree Snakes (Boiga irregularis) and Boa Constrictors (Boa constrictor). Zoology, 139, 125744. https://doi.org/10.1016/j.zool.2020.125744
Martins, M., & Oliveira, M. E. (1998). Natural history of snakes in forests of the Manaus region, Central Amazonia, Brazil. Herpetological Natural History, 6(2), 78-150.
Pizzatto, L., Facure, K., & Marques, O. (2009). Hábitos alimentares de cobras boid brasileiras: visão geral e novos dados, com referência especial ao Corallus hortulanus. Amphibia-Reptilia, 30 (4), 533–544. doi: 10.1163 / 156853809789647121 
Veloso, Valdivan (2017). Homem é picado por jiboia e dentes do animal ficam presos na mão da vítima em Montes Claros. G1 Grande Minas, 04/10/2017.
Espora pélvica em Boa constrictor

Cobra com duas cabeças

Foto: David Schneider, Herpetological Associates
Foto: BBC News Brasil

A presença de duas cabeças, o dicefalismo, é uma anomalia que ocorre em vertebrados siameses inclusive em serpentes (Burghardt, 2013). As bifurcações podem ser classificadas como:  craniodicotômica (duas cabeças incompletamente divididas); prodicotômica (duas cabeças completas com pescoços curtos); proarquodicotômica (duas cabeças, dois pescoços longos) e anfidicotômica (duas cabeças, um único corpo e duas caudas). Dentre as possíveis causas estão: alterações no embrião, como a divisão incompleta, fusão parcial de dois, variações de temperatura, regeneração após lesão, anoxia, toxinas metabólicas, depressão por endogamia, hibridização, poluíção ambiental, toxinas e exposição à radiação  (Wallach, 2007). As serpentes dicefálicas podem apresentar interesses divergentes, o que compromete seu sucesso na natureza, pois seus movimentos conflitantes, descoordenados, fazem delas presas fáceis para seus predadores (BBC, 2019). É comum que apresentem um das cabeças dominante, competem entre si por comida, podendo consumir a outra cabeça. Alguns até podem cooperar, outras nunca cooperam (Burghardt, 1991), possuindo inclusive comportamentos distintos (Wallach, 2007). Um exemplo nacional, temos a sucuri amarela, Eunectes notaeus, pantaneira, com duas cabeças e dois longos pescoços (de Albuquerque et al., 2010).



BBC News Brasil (2019). 'Duplo Dave', a rara cobra de duas cabeças achada nos EUA. 5 set 2019. 
Burghardt, G. M. (2013). Cognitive ethology and critical anthropomorphism: A snake with two heads and hog-nose snakes that play dead. In Cognitive Ethology (pp. 73-110). Psychology Press.
de Albuquerque, N. R., Arruda, W. S., Costa, A. S., Galharte, R. C., Vargas, L. G., & Moreno, I. H. (2010). A dicephalic yellow anaconda snake, Eunectes notaeus (Serpentes: Boidae), from Southern Pantanal, Brazil. Journal of Natural History, 44(31-32), 1989-1994. https://doi.org/10.1080/00222931003764105 
Wallach, V . 2007 . Bifurcação axial e duplicação em cobras. Parte I. Uma sinopse de casos autênticos e anedóticos . Bull Md Herpetol Soc. , 43 (2): 57 - 95 . 

Corredeira é uma cobra perigosa? 

Miranda, Lopes Costa & Duarte da Rocha (2012) 

A Philodryas nattereri, conhecida como Cobra-corre-campo, Corredeira e Ubiraquá, considerada um dos principais predadores do semiárido nordestino (Caatinga), onde é abundante. Ativa durante os períodos mais quentes do dia e semi-arborícola. Sua alimentação é generalista quando adulta, mas quando jovem,  consome lagartos (de Mesquita et al., 2011).  Para subjugar sua presa, esta espécie  usa constrição e envenenamento, por seus dentes opistóglifos conectados à glândula de Duvernoy (Cardozo et al., 2009; Santiago, 2017). Como visto em outras Serpentes (Eg. Whitaker & Shine, 1999), acidentes ofídicos podem ocorrer quando elas reagem defensivamente, numa situação onde estejam encurraladas, esmagadas, capturadas ou manuseadas, inadequadamente (Araújo & Santos, 1997). Em geral, a tentativa de fuga antecipa o bote e exibições posturais podem ser notadas em várias espécies antes da picada ou mordida e mordida rápida defensiva por serpentes opistóglifas não resulta em envenenamento (Minton, 1979). Motivo possível para justificar o não temor à essas serpentes, considerada inofensiva pelo sertanejo, que por conhecê-la bem, ignora o perigo (de Freitas, 2003). O veneno de P. nattereri exibi uma menor complexidade quando comparado a de outras Philodryas, porém sua quantidade de proteínas ultrapassou a de P. patagoniensis (Zelanis et al., 2010) . A potência hemorrágica dos venenos deste gênero é comparável a dos viperídeos e o tratamento de pacientes picados por Philodryas sp. tem sido feito com soro antibotrópico no Brasil (Rocha e Furtado, 2007). Sendo sua peçonha potencialmente lesiva aos túbulos renais (Nery, 2012). Desta forma, evite manuseá-la!


Araújo, Maria Elisabeth de, & Santos, Ana Cristina MCA dos. (1997). Casos de envenenamento humano causado por Philodryas olfersii e Philodryas patagoniensis (serpentes: Colubridae). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical , 30 (6), 517-519. https://dx.doi.org/10.1590/S0037-86821997000600013 
Cardozo J.L.C., França F.O.S., Wen F.H., Málaque C.M.S.A., Haddad V. Jr. 2009. Animais Peçonhentos no Brasil: Biologia, Clínica e Terapêutica dos Acidentes. 2ª ed. Sarvier, São Paulo.
de Freitas, M. A. (2003). Serpentes brasileiras. 160 p
de Mesquita, P. C. M. D., Borges-Nojosa, D. M., Passos, D. C., & Bezerra, H. (2011). Ecology of Philodryas nattereri in the Brazilian semi-arid region. The Herpetological Journal, 21(3), 193-198. 
Minton, S. A. (1979). Beware: nonpoisonous snakes. Clinical toxicology, 15(3), 259-265.  https://doi.org/10.3109/15563657908989875
Miranda J, Lopes Costa J, Duarte da Rocha C (2012) Reptiles from Lençóis Maranhenses National Park, Maranhão, northeastern Brazil. ZooKeys 246: 51-68. https://doi.org/10.3897/zookeys.246.2593 
Nery, M. D. D. A. (2012). Efeitos biológicos e caracterização inicial da peçonha da serpente Philodryas nattereri steindachner 1870. 
SANTIAGO, F. R. (2017). ALTERAÇÕES MORFOFUNCIONAIS PROVOCADAS PELA INOCULAÇÃO DO VENENO TOTAL DA SERPENTE Philodryas nattereri STEINDACHNER, 1870 EM RATOS. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/vtt-208597
Whitaker, PB &  Shine, R. (1999) Respostas de brownsnakes de vida livre (Pseudonaja textilis: Elapidae) a encontros com humanos. Wildlife Research 26 , 689-704. https://doi.org/10.1071/WR98042
Zelanis A., Rocha M.M.T., Furtado M.F.D. 2010. Preliminary biochemical characterization of the venoms of five Colubridae species from Brazil. Toxicon 55:666–669. https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2009.09.015 
Foto: Mateus S. Figueiredo. Cobra-cipó (Philodryas olfersii) do Muzeu de Zoologia João Moojen (MZUFV), na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa-MG, Brasil. 
Foto: Mário Sacramento, Frederico de Alcântara Menezes, Arthur Diesel Abegg, and Leonardo Chaves. Menezes FA, Abegg AD, Silva BR, Franco FL, Feio RN (2018) Composition and natural history of the snakes from the Parque Estadual da Serra do Papagaio, southern Minas Gerais, Serra da Mantiqueira, Brazil. ZooKeys 797: 117-160. https://doi.org/10.3897/zookeys.797.24549

Suaçuboia é Jararaca?

A Suaçuboia, Corallus hortulana, apesar de muito confundida com a Jararaca, é uma serpente Boidae, do grupo das jiboias, uma das mais policromáticas, exibindo variadas cores com detalhes em laranja, vermelho, rosa, amarelo, verde, cinza e marrom (Barrio-Amorós, 2017). Ativa sobre as árvores à noite, apesar de poder ser vista em solo (Figueiredo-de-Andrade, Nogueira & Pereira Junior, 2011). Esta espécie tem uma alimentação muito diversificada,  favorecida com um corpo delgado e outras características arborícolas, como a cauda longa e preênsil, proporcionando um nicho alimentar mais amplo: comendo mamíferos, inclusive morcegos, pássaros, sapos e lagartos, preda em solo e mais acima dele (Pizzatto & Marques, 2009), utilizando a emboscada e a busca ativa como estratégias de captura (Martins & Oliveira, 1998), subjuga por constrição e deglute suas presas, utilizando o substrato arbóreo a seu favor (Charles, 2007).  Essas cobras são consideradas agressivas, com dentes muito longos capazes de uma mordida bastante dolorosa, para se defender, morde e faz um S ao ser abordada, quando manipulada, pode formar bolas com o corpo e cauda, contrair e girar o corpo (Martins & Oliveira, 1998).


Barrio-Amorós, César L. 2017. Observações de campo em treeboas neotropicais do gênero Corallus (Squamata: Boidae). IRCF Reptiles & Amphibians 24 (1): 1-16 http://www.ircf.org/journal/wp-content/uploads/2017/03/RA-24.1_1-16_Barrio-Corallus.pdf
CHARLES, Henrique Abrahão. Comportamento predatório de serpentes Boidae de diferentes hábitos e biometria de Eunectes murinus Linnaeus, 1758 em laboratório. 2007. 63 f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica - RJ, 2007. 
Figueiredo-de-Andrade, Caio A., Carlos Henrique de Oliveira Nogueira e Carlos Alberto Pereira Junior 2011. Corallus hortulanus (boa árvore amazônica) e Leptodeira annulata (cobra olho-de-gato-bandeada): Habitat. Boletim Herpetológico (118)
Martins, M., Oliveira, M.E. (1999): Natural history of snakes in forests of the Manaus region, Central Amazonia, Brazil. Herp. Nat. Hist. 6: 78-150. http://eco.ib.usp.br/labvert/martins-and-oliveira-1999.pdf 
Pizzatto, L., Facure, K., & Marques, O. (2009). Hábitos alimentares de cobras boid brasileiras: visão geral e novos dados, com referência especial ao Corallus hortulanus. Amphibia-Reptilia, 30 (4), 533–544. doi: 10.1163 / 156853809789647121 https://doi.org/10.1163/156853809789647121 
Foto: Mokele. Filhote de Corallus hortulana do Peru.
Foto: ggallice (Geoff Gallice). Um juvenil de Corallus hortulana no Parque Nacional Yasuní, Equador. 
Foto: John Tann de Sydney, Austrália 
Foto: Matt de Melbourne, Austrália - Cobra-marrom-oriental comendo lagarto, por SunOfErat. Victoria do norte. (Pseudonaja textilis VS Tiliqua scincoides scincoides)
Jovem de Pseudonaja textilis

A cobra mais "brava"

A maioria das mortes por picada de cobra na Austrália é causada pela Cobra-marrom-oriental, Pseudonaja textilis, que é um elapídeo grande, com até 2 m, e altamente venenoso. Sua fama de agressividade foi testada e, surpreendentemente, essa espécie tolerou o assédio humano, as menores cobras optavam pela fuga.  Ocorreu avanço em poucos confrontos, com maior probabilidade se abordadas rapidamente, surpreendidas, encurraladas ou tocadas imediatamente (Whitaker & Shine, 1999). A maioria exibiu um aviso antes do bote, quando em postura alta, botes lentos e mais precisos (com envenenamento); quando em postura baixa, botes rápidos e menos precisos, além de um quarto ser blefe. Este comportamento é uma estratégia de defesa, uma resposta antipredatória para sua sobrevivência contra ataques de outros animais, inclusive humanos (Whitaker, Ellis  & Shine, 2000). A Austrália é o lar dos Elapidae, cerca de 100 espécies terrestres e 30 marinhas, considerada o reduto dessas cobras. P. textilis, dentre todas as espécies de cobra no mundo, tem o segundo veneno mais tóxico (Broad, Sutherland & Coulter, 1979). A abundância de ratos domésticos tanto em ambientes rurais como urbanos favorece a ocorrência desta espécie próxima aos humanos. Filhotes de Pseudonaja  textilis difere do adulto na coloração e no veneno, com a ausência de toxinas de alto peso molecular e da coagulação no plasma,  acompanhando a mudança ontogenética presente na dieta desta espécie (Shine, 1989). Sua estratégia é de luta com sua presa, caçando-as visualmente, e a constrição faz parte da predação (Shine & Schwaner, 1985), comendo uma grande variedade de vertebrados terrestres, especialmente pequenos mamíferos, sendo os lagartos o principal alvo dos juvenis (Jackson et  al., 2016). 


Broad AJ, Sutherland SK, Coulter AR. The lethality in mice of dangerous Australian and other snake venom. Toxicon. 1979;17(6):661-4. doi: 10.1016/0041-0101(79)90245-9. PMID: 524395.
Jackson, TN, Koludarov, I., Ali, SA, Dobson, J., Zdenek, CN, Dashevsky, D., Op den Brouw, B., Masci, PP, Nouwens, A., Josh, P., Goldenberg, J., Cipriani, V., Hay, C., Hendrikx, I., Dunstan, N., Allen, L., & Fry, BG (2016). Radiações rápidas e a corrida para a redundância: uma investigação da evolução dos venenos de cobras elápides australianas. Toxins , 8 (11), 309. https://doi.org/10.3390/toxins8110309
Shine, R. (1989). Restrições, alometria e adaptação: hábitos alimentares e biologia reprodutiva de cobras marrons australianas (Pseudonaja: Elapidae). Herpetologica , 195-207. https://www.jstor.org/stable/3892162
Shine, R. & Schwaner, T. (1985). Prey Constriction by Venomous Snakes: A Review, and New Data on Australian Species. Copeia, 1985(4), 1067-1071. doi:10.2307/1445266.
Watharow, Simon (2011). Living with Snakes and Other Reptiles. Melbourne, Victoria: Csiro Publishing. pp. 68–70. ISBN 978-0-643-10381-8 
Whitaker, PB &  Shine, R. (1999) Respostas de brownsnakes de vida livre (Pseudonaja textilis: Elapidae) a encontros com humanos. Wildlife Research 26 , 689-704. https://doi.org/10.1071/WR98042
Whitaker, PB, Ellis, K. e Shine, R. (2000), O ataque defensivo da serpente marrom oriental, Pseudonaja textilis (Elapidae). Functional Ecology, 14: 25-31. https://doi.org/10.1046/j.1365-2435.2000.00385.x 

Víbora-de-Russel

Foto: Jayendra Chiplunkar. A víbora de Russell (Daboia russelli ) em um momento de detecção.

A Víbora-de-Russell é terrestre e ativa principalmente como forrageador noturno, alternando para diurno em tempo frio. Os adultos são lentos, mas agressivos e os juvenis mais irritadiços. Seu repertório defensivo inclui uma série de S, levanta o primeiro terço do corpo e produz um chiado, extremamente alto, supostamente maior do que outras cobras e, ainda, exerce tanta força que pode levantar a maior parte de seu corpo do chão. D. russelii se alimenta principalmente de roedores, embora também coma pequenos répteis e artrópodes. À medida que crescem, se especializam em roedores, principal razão pela qual eles são atraídos para a habitação humana  (Mallow, Ludwig & Nilson, 2003). 

Foto: Rushikesh lohar. Víbora-de-Russel

A víbora de Russell, Daboia russelli, é distribuída em países do sul da Ásia e uma das principais causas de picada de cobra fatal nesta região. Picada desta víbora é um risco ocupacional para os produtores de arroz dessa área (Warrell, 1989). Os venenos de víbora de Russell podem causar neurotoxicidade, miotoxicidade, hemólise, coagulopatia e outros distúrbios hemostáticos, choque, lesão renal aguda, envenenamento local grave com necrose e morte, além de hipopituitarismo como sequela incomum da picada da víbora de Russell (Antonypillai et al., 2011). Ataca preferencialmente alvos quentes, o que sugere a presença de sensores de radiação térmica (Breidenbach, 1990), estudos neurológicos e histológicos sugerem que o saco supranasal, um órgão comum a todas as víboras verdadeiras, pode ser um receptor de radiação térmica (York, Silver & Smith, 1998). 

Foto: Tushar Mone. Tirada no Parque Zoológico Rajiv Gandhi, Pune, Maharashtra, Índia. 

Cobra "brava": Azulão-boia

A serpente Leptophis ahaetulla é principalmente diurna e semi-arbórea, habita florestas perturbadas e intactas, e forrageia principalmente no solo e na vegetação caída, onde suas presas são provavelmente encontradas em repouso, aparentemente, manipulam as presas capturadas antes da ingestão, uma vez que a maioria foi engolida pela cabeça (De Albuquerque, Galatti e Di‐Bernardo2007). 

Sobreviver em ambiente arbóreo, durante o dia é desafiador, pois a exposição à predadores é maior e a forma como essas cobras se defendem é resultante da interação entre fatores ecológicos e restrições filogenéticas. Características como a cor verde do corpo e a exibição frontal, abertura de boca, inflação gular e cripsis prevalecem entre as serpentes diurnas neotropicais  (Martins, Marques e Sazima, 2008) e isso se aplica a nossa Azulão-boia, que além da exibição defensiva espetacular, com o abrir de boca, é dotada de toxina, produzida por sua glândula de Duvernoy,  que se assemelha à peçonha dos elapídeos (como as cobras corais) em sua composição, todavia possui baixa toxicidade para mamíferos e, para nossa sorte, representa risco mínimo para humanos (Sánchez et al., 2018).


De Albuquerque, N. R., Galatti, U., & Di‐Bernardo, M. (2007). Diet and feeding behaviour of the Neotropical parrot snake (Leptophis ahaetulla) in northern Brazil. Journal of Natural History, 41(17-20), 1237-1243. https://doi.org/10.1080/00222930701400954
Martins, M., Marques, OAV  e Sazima, I. "Como ser arbórea e diurna e ainda permanecer vivo: uso microhabitat, o tempo de atividade, e defesa em cobras florestais neotropicais," Sul American Journal of Herpetology 3 (1), 58-67 , (1 de abril de 2008). https://doi.org/10.2994/1808-9798(2008)3[58:HTBAAD]2.0.CO;2
Sánchez, MN, Teibler, GP, López, CA, Mackessy, SP, & Peichoto, ME (2018). Avaliação do potencial perigo toxicológico da cobra papagaio verde (Leptophis ahaetulla marginatus): Caracterização de seu veneno e sistema de distribuição de veneno. Toxicon , 148 , 202-212. https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2018.04.027

Dieta de Cobra-coral verdadeira

Foto: @r_koutinho. Micrurus ibiboboca. Cachoeira de Macacu- RJ
Foto: @r_koutinho. Micrurus ibiboboca. Cachoeira de Macacu- RJ

A espécie de cobra-coral verdadeira Micrurus ibiboboca pode apresentar de pequeno a médio porte, sendo o maior registro pouco maior que 1.000 mm. Presente em território nordestino, no sul da Amazônia e  no sudeste (Rio de Janeiro). Apresenta atividade diurna e noturna, com picos matutinos, ativas ao longo de todo o ano. São serpentes ofiófagas, ou seja, se alimentam de outras serpentes, ou de outros animais serpenteformes, como os anfisbenídeos, conhecidos como cobra-de-duas-cabeças (Mesquita et al., 2013). Dependendo da presa escolhida, pode fracassar por não conseguir ingerir totalmente e, caso não consiga regurgitar, vir a óbito como registrado por Cavalcanti et al. (2012), uma M. ibiboboca morta com serpente Leptodeira annulata na boca, provavelmente asfixiada.

A preferência das presas são determinantes para o veneno de Micrurus, sendo as anfisbenas mais suscetíveis às toxinas das espécies que as predam do que de outras corais que se alimentam de presas diferentes (da Silva Jr & Aird, 2001).


Mesquita, Paulo CMD, Passos, Daniel C., Borges-Nojosa, Diva M., & Cechin, Sonia Z .. (2013). Ecologia e história natural das serpentes de uma área de Caatinga no nordeste brasileiro. Papéis Avulsos de Zoologia , 53 (8), 99-113. https://doi.org/10.1590/S0031-10492013000800001 
da Silva Jr, N. J., & Aird, S. D. (2001). Prey specificity, comparative lethality and compositional differences of coral snake venoms. Comparative Biochemistry and Physiology Part C: Toxicology & Pharmacology, 128(3), 425-456. https://doi.org/10.1016/S1532-0456(00)00215-5
Cavalcanti, L., Santos-Protázio, A., Albuquerque, R., Pedro, C. K. B., & Mesquita, D. O. (2012). Death of a coral snake Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)(Elapidae) due to failed predation on bigger prey: a cat-eyed night snake Leptodeira annulata (Linnaeus, 1758)(Dipsadidae). Herpetology notes, 5, 129-131
 Foto: Vieira et al. (2020) Snakes recorded in the RPPN Fazenda Almas, Paraíba State, municipality of São José dos Cordeiros, state of Paraíba, northeastern Brazil. R: Thamnodynastes sertanejo

Jararaquinha do sertão

As Jararaquinhas, Thamnodynastes, são vivíparas, opistóglifas e possuem pupila vertical elíptica. Esta da foto, Thamnodynastes sertanejo, leva o nome do sertão brasileiro, por ser endêmica da Caatinga (Ferreira et al., 20202), em áreas relictuais de floresta, consideradas disjunções entre a Mata Atlântica e a Amazônia (Pereira-Filho et al., 2020), presente no sertão remoto que deu o título ao clássico brasileiro “Os Sertões” de Euclides da Cunha (The Reptile Database, 2020). 

Comportamentos defensivos, apresentados por outra espécie de Thamnodynastes, como triangulação da cabeça, golpe falso, postura em S e elevação da porção anterior do corpo) semelhantes ao descrito para o gênero Bothrops sugere que mimetiza espécies simpátricas deste gênero, além de movimentos erráticos. Golpe com mordida e descarga cloacal foram registrados apenas durante a manipulação do animal (Guedes et al., 2017).


Guedes, Jhonny José Magalhães; Lopes de Assis, Clodoaldo, da Silva, Douglas Henrique; Feio, Renato Neves. (2017) New records and notes on defensive behavior of Thamnodynastes rutilus (Prado 1942). Neotropical Biology and Conservation 12 (2):154-158, 2017. Unisinos - doi: 10.4013/nbc.2017.122.09. http://revistas.unisinos.br/index.php/neotropical/article/view/nbc.2017.122.09/6127
Pereira Filho, G., Freitas, M., Vieira, W., Moura, G., & França, F. (2020). Estado do conhecimento e conservação da fauna de cobras dos “Brejos de Altitude” no Centro de Endemismo de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Etnobiologia e Conservação, 9 . doi:10.15451/ec2020-05-9.12-1-15. https://www.ethnobioconservation.com/index.php/ebc/article/view/370/250 
The  Reptile Database. Acesso em 2020. https://reptile-database.reptarium.cz/species?genus=Thamnodynastes&species=sertanejo
Vieira, Washington Luiz Silva, Brito, Jayene Aysla Mendonça, Morais, Erivágna Rodrigues de, Vieira, Daniel Chaves, Vieira, Kleber Silva, e Freire, Eliza Maria Xavier. (2020). Cobras em uma floresta tropical sazonalmente seca no nordeste do Brasil. Biota Neotropica , 20 (3), e20190850. Epub 14 de agosto de 2020. https://doi.org/10.1590/1676-0611-bn-2019-0850 
Foto: Guedes et al. (2017) Thamnodynastes rutilus Espécime registrado em Grão Mogol (MZUFV 2440), mostrando detalhe de elevação da porção anterior do corpo, triangulação da cabeça e postura em S.
Foto: Paul Donovan. Exibindo presa opistóglifa
Foto: William Warby de Londres, Inglaterra - Boomslang Snake Carregado por berichard 
Foto: Rishaada

Dicromatismo em Boomslang

Boomslang (Dispholidus typus) é uma serpente arbórea, raramente se aventura ao solo. Uma cobra muito tímida que tentará escapar se for perturbada, mas se encurralada, inflará o pescoço em um grau acentuado e exibirá sua coloração brilhante e atacará com vigor. Essas cobras podem atacar com as mandíbulas formando um ângulo de quase 180°, possui excelente visão e caça presas durante o dia (Kuch & Mebs, 2002).

É famosa por ter ceifado a vida do herpetologista Karl Schmidt, em 1957, que morreu após ser mordido por uma Boomslang juvenil (Pope, 1958). Ele fez anotações sobre os sintomas que sentiu quase até o fim, descrevendo a própria morte (BBC, 2018). Há outros relatos de envenenamentos graves por Boomslangs, inclusive fatais (Bücherl et al., 2013).  Como seu veneno tem ação lenta, os sintomas podem não se tornar aparentes, gerando uma falsa segurança, ao subestimar a gravidade da picada (Kuch & Mebs, 2002)

Essa espécie apresenta dimorfismo sexual evidente e apesar de não diferir em tamanho, nem em sua dieta, machos e fêmeas podem ser distinguidos por sua coloração, com fêmeas geralmente marrons, enquanto os machos exibem uma coloração mais vibrante, conhecido como dicromatismo sexual, provavelmente relacionado à seleção sexual. Já os jovens de bomslang apresentam coloração geral do corpo composta de marrom-acinzentado com mais escuro salpicado e a cabeça é fortemente contra-sombreada, possivelmente evitando predadores (Smith et al., 2019).


BBC (2018). O especialista em cobras que documentou a própria morte após ser picado. 10/nov. 2018.  https://www.bbc.com/portuguese/geral-46162849#:~:text=O%20veneno%20da%20boomslang%20age,matar%20uma%20ave%20em%20minutos.
Bücherl, W., Buckley, EE, & Deulofeu, V. (Eds.). (2013). Animais peçonhentos e seus venenos: Vertebrados peçonhentos . Elsevier.  
Kuch, Ulrich  & Mebs, Dietrich (2002) ENVENOMAÇÕES POR SERPENTES COLUBRIDOS NA ÁFRICA, EUROPA EO ORIENTE MÉDIO, Journal of Toxicology: Toxin Reviews, 21: 1-2, 159-179, DOI: 10.1081 / TXR-120004745
Pope, C. (1958). Fatal Bite of Captive African Rear-Fanged Snake (Dispholidus). Copeia, 1958(4), 280-282. doi:10.2307/1439959 
Smith, C.C.D., Layloo, I., Maritz, R.A. and Maritz, B. (2019), Sexual dichromatism does not translate into sex‐based difference in morphology or diet for the African boomslang. J Zool, 308: 253-258. https://doi.org/10.1111/jzo.12670 

Será que morreu? Tanatose

Foto: North Carolina State Parks and Recreation 

A tanatose, um mecanismo de defesa no qual o animal se finge de morto, permanecendo imóvel até que o perigo cesse, trata-se de um dos comportamentos de defesa exibido por vários animais, incluindo as serpentes (Bartlett, 1920). Em muitos casos, o comportamento que alguns animais podem exibir se reflete justamente na falta de movimento. Ficar praticamente parado pode ser vital e já salvou a vida de muitos animais, por ficarem estáticos, “estacionário” em etologia (Del-Claro et al., 2004).  Conhecida como "Cobra-zumbi", a Hognose, Heterodon platirhinos é uma serpente famosa por exibir a tanotose, quando se sente ameaçada (Burghardt, 2013; Revista Galileu, 2019). Nossa Tomodon dorsatus, Cobra-espada, também se destaca nesta forma de defesa (Bizerra, 1998).


BARTLETT, W. Tragic Death Feint of a Snake. Nature 106, 503 (1920). https://doi.org/10.1038/106503c0 
Bizerra A. História natural de Tomodon dorsatus (serpentes: Colubridae). Dissertação (Mestrado) - Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, SP. p. 102. 1998 
Burghardt, Gordon M. "Cognitive ethology and critical anthropomorphism: A snake with two heads and hog-nose snakes that play dead." Cognitive Ethology. Psychology Press, 2013. 73-110. 
K., Prezoto, F., & Sabino, J. (2004). Comportamento animal. Uma introdução à Ecologia Comportamental. Jundiaí: Livraria Conceito, 11-15.
Revista Galileu. Cobras fingem estar mortas quando se sentem ameaçadas. 12 jun. 2019. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/06/cobras-fingem-estar-mortas-quando-se-sentem-ameacadas-veja-fotos.html>

Serpentes em cultos religiosos

Pastores manipulam cobras em cultos religiosos e a tragédia se repete!

Apesar  do acidente de seu pai  (pastor Jamie Coots, em 2014), que faleceu após ser picado na mão por cascavel durante exibição em culto religioso, o pastor Cody Coots é picado na cabeça (em 2018) e foi salvo por fiel que o levou ao hospital, ao invés de atender o pedido do pastor  para que fosse levado ao topo de uma montanha e deus decidisse por sua vida ou morte.  Além desses, morreram pela mesma causa Melinda Brown, em 1995, o pastor Mack Randall Wolford em 2012 e o fiel  John David Brock, em 2015.


https://www.bbc.com/news/entertainment-arts-26224452#:~:text=A%20snake%2Dhandling%20pastor%20who,to%20fellow%20preacher%20Cody%20Winn.
https://tnonline.uol.com.br/noticias/cotidiano/67,469697,23,08,pastor-que-perdeu-o-pai-apos-mordida-de-cobra-em-culto-tambem-e-picado-por-serpente

Mamba-negra

A Mamba-negra  (Dendroaspis polylepis) é uma espécie de cobra grande e extremamente venenosa, tanto terrestre, quanto arbórea. É diurna e conhecida por atacar pássaros e pequenos mamíferos (Armitage, 1965). Em superfícies adequadas, ele pode se mover a velocidades de até 16 km/h para distâncias curtas, quando adultas têm poucos predadores naturais.

Em uma exibição de ameaça, abre sua boca preta (Baynham, 2010), espalha o pescoço e às vezes sibila. É capaz de golpear a distâncias consideráveis ​​e pode entregar uma série de mordidas em rápida sucessão.

Peptídeos da Mamba-negra, que chamamos de mambalgins, não são tóxicos em camundongos, mas mostram um potente efeito analgésico na injeção central e periférica que pode ser tão forte quanto a morfina (Diochot et al., 2012). A composição de seu veneno difere das de outras mambas, isso pode refletir a preferência na dieta - pequenos mamíferos para a mamba-negra mais terrestre versus pássaros para as outras mambas predominantemente arbóreas (Stuart et al., 2017).

Resistência a toxinas

A resistência de alguns animais às peçonhas das Serpentes são conhecidas desde o século XVIII, tanto à alta resistência das Serpentes as suas próprias toxinas, quanto às de outras espécies filogeneticamente mais próximas. Tais resistências são atribuídas à insensibilidade à determinada toxina e a existência de fatores neutralizantes no soro sanguíneo destes animais, que se unem às toxinas circulantes e evitam que desencadeiem o dano. Esses fatores são proteínas ácidas de peso molecular de 50-100 kDa, salvo algumas exceções (e.g. Natrix tessellata), termoestáveis (0-80 °C) e pH de 2-11, não são imunoglobulinas, nem enzimas, mas sim glicoproteínas, majoritariamente (Núñez Range & Otero Patiño, 1999).

O fator neutralizante anti-letal é denominado Lethal Toxin Neutralizing Factor (LTNF), foi isolado de soro de gambá (Didelphis virginianae mostrou eficácia na neutralização do efeito dos venenos testados quando administrado meia hora antes ou depois da injeção do veneno; podendo, inclusive, futuramente ser usado como medida preventiva. Neutralizando efeitos letais das toxinas do veneno de cobra: crotoxina, cobratoxina, PLA 2 e a taipoxina, mais potente. Além da ricina, uma das toxinas vegetais mais tóxicas, e também as toxinas botulínicas e holoturinas bacterianas (Lipps, 1999)

Tais resultados demonstram o quão promissor é o uso desses fatores neutralizantes como coadjuvantes ou substitutos da soroterapia, fazendo-se necessários mais estudos, sequenciamento dessas proteínas e posterior síntese.



LIPPS, BV. FATOR ANTI-LETAL DE SORO OPOSSUM É UM POTENTE ANTIDOTO PARA TOXINAS ANIMAIS, PLANTAS E BACTERIANAS. J. Venom. Anim. Toxins , Botucatu, v. 5, n. 1, pág. 56-66, 1999.  https://doi.org/10.1590/S0104-79301999000100005. 
Núñez Range, V., & Otero Patiño, R. (1999). Resistencia natural a los venenos de serpientes. MedUNAB, 2(5), 61-65. Recuperado a partir de https://revistas.unab.edu.co/index.php/medunab/article/view/367 

475 milhões de animais silvestres são atropelados no Brasil por ano

O atropelômetro é uma iniciativa do CBEE e estima em tempo real o número de vertebrados terrestres silvestres mortos por atropelamento nas rodovias brasileiras.

Estimativas indicam que mais de 15 animais morrem nas estradas brasileiras a cada segundo. Diariamente, devem morrer mais de 1,3 milhões de animais e ao final de um ano, até 475 milhões de animais silvestres são atropelados no Brasil.

Link da Fonte: Banco de Atropelamento de Fauna Selvagem |CBEE
Cobra-do-mar-de-barriga-amarela (Hydrophis platurus)
Hydrophis platurus xanthos

Atravessando oceanos

A Cobra-do-mar-de-barriga-amarela (Hydrophis platurus) é a única espécie de serpente pelágica que atravessa os oceanos Indo-Pacífico, do sul da África até a costa do Pacífico da América,  tendo uma das maiores distribuições geográficas de qualquer espécie de vertebrado. Ao mergulhar ou nadar na superfície, H. platurus respira aquaticamente através da pele e se alimenta de peixes finos (Padete et al., 2009) que coleta, podendo permanecer submersa por longos períodos e é capaz de mergulhos profundos (aproximadamente 20 m) (Graham,1974), além da habilidade de nadar para trás e não demonstrar desconforto em água doce (Palot & Radhakrishnan, 2010). 

A subespécie notavelmente menor e coloração completamente amarela Hydrophis platurus xanthos se alimenta à noite em águas turbulentas, assumindo uma postura de emboscada sinusoidal, cabeça abaixo, boca aberta, dentro da pequena faixa geográfica (cerca de 320 km2), na Costa Rica.

As cobras marinhas têm glândulas de sal e antigamente se pensava que bebiam água do mar. No entanto, os principais clados de cobras marinhas permanecem dependentes de água doce, desidratando em períodos de seca sazonal e bebendo de uma lente de água doce que se forma na superfície do oceano durante fortes chuvas  (Lillywhite et al. 2014, 2019).


Bessesen BL, Galbreath GJ (2017) A new subspecies of sea snake, Hydrophis platurus xanthos, from Golfo Dulce, Costa Rica. ZooKeys 686: 109-123. https://doi.org/10.3897/zookeys.686.12682 
Graham, JB (1974). Respiração aquática na cobra marinha Hydrophis Platurus. Respiration Physiology, 21 (1), 1-7. doi: 10.1016 / 0034-5687 (74) 90002-4
Lillywhite HB, Brischoux F, Sheehy CM III, Pfaller JB. Respostas à desidratação e ao beber em uma cobra marinha pelágica. Integr Comp Biol. 2014; 52: 227–234. pmid: 22510231
Lillywhite HB, Sheehy CM III, Sandfoss MR, Crowe-Riddell J, Grech A (2019) Bebendo por cobras marinhas de lentes oceânicas de água doce na primeira chuva, terminando a seca sazonal. PLoS ONE 14 (2): e0212099. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0212099
Padate, V., Baragi, L., & Rivonker, C. (2009). Aspectos biológicos de cobras marinhas capturadas acidentalmente por arrastões comerciais ao largo de Goa, costa oeste da Índia. Journal of Threatened Taxa , 1 (12), 609-616. https://doi.org/10.11609/JoTT.o2253.609-16
Palot, M., & Radhakrishnan, C. (2010). Primeiro registro de Sea Snake Hydrophis platurus (Linnaeus, 1766) (Reptilia: Hydrophiidae) de um trato ribeirinho no norte de Kerala, Índia. Journal of Threatened Taxa , 2 (9), 1175-1176. https://doi.org/10.11609/JoTT.o2284.1175-6https://www.threatenedtaxa.org/index.php/JoTT/article/view/540

Exibição caudal

  As exibições da cauda em serpentes são interpretadas como defensivas (Jackson, 1979) e Greene (1973) sugeriu que possam funcionar de três formas diferentes:  para desviar o ataque para a cauda; para inibir o ataque por meio de uma exibição aposemática ou multifacetada e desorientar o predador. Extremamente eficazes são exibições de cauda de Micrurus e Erythrolamprus em que a cauda enrolada não apenas desvia o ataque para si mesma, mas também simula ataques de outra cabeça e também os desencoraja  (Jackson, 1979).


Greene, H. (1973). Defensive Tail Display by Snakes and Amphisbaenians. Journal of Herpetology, 7(3), 143-161. doi:10.2307/1563000 Jackson, J. (1979). Effects of Some Ophidian Tail Displays on the Predatory Behavior of Grison (Galictis sp.). Copeia, 1979(1), 169-172. doi:10.2307/1443751 
Fotos: @marcio.netto.bio

Visão infravermelho

    As fossetas são receptores infravermelhos que melhoram a visão, fornecendo mais detalhes de objetos parcialmente escondidos para os olhos laterais, sendo parte integrante do sistema visual das serpentes que as possuem e fazendo uso de ondas mais longas do espectro eletromagnético para as quais não há pigmentos foto receptivos apropriados na natureza. O mundo visto por jiboias, pítons e víboras corresponde tanto o visual quanto os espectros infravermelhos (Goris, 2011).


Goris, R. C. (2011). Infrared Organs of Snakes: An Integral Part of Vision. Journal of Herpetology, 45(1), 2–14. doi:10.1670/10-238.1