SERPENTES
Biólogo Henrique & Bióloga Rita
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Biólogo Henrique & Bióloga Rita
O Brasil possui dezenas de serpentes peçonhentas de interesse médico e dentre as espécies com ocorrência para a região do Centro-oeste brasileiro (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), podemos destacar:
Micrurus frontalis e Micrurus lemniscatus, Cobras-corais que pertencem à família Elapidae, serpentes proteróglifas, ou seja, que possuem presas dianteiras fixas capazes de injetar neurotoxinas em suas picadas. São serpentes dóceis e acidentes com corais-verdadeiras são extremamente raros, podendo ocorrer quando manuseadas ou esmagadas.
Já as espécies da família Viperidae são as potencialmente mais perigosas, caracterizadas como solenóglifas, detentoras de presas dianteiras grandes e móveis capazes de injetar peçonhas causadoras de necrose, coagulopatias, hemorragias, entre outras complicações, além de miotoxinas (Rocha & Furtado, 2005) e neurotoxinas. Bothrops moojeni (Caiçaca), Bothrops alternatus (Urutu-cruzeiro), Lachesis muta (Surucucu-pico-de jaca) e a Crotalus durissus (Cascavel) estão entre essas serpentes. As serpentes do grupo das jararacas, como a Caiçaca e a Urutu-cruzeiro, estão entre as maiores causadoras de acidentes por picadas de cobra no Brasil (Ministério da Saúde, 2021) e, junto com a Surucucu-pico-de jaca (Carvalho et al., 1994; Pardal et al., 2007), podem gerar sequelas significativas e até mesmo permanentes, como amputações, ou levar a óbito sem atendimento adequado (Pinho et al., 2004).
Amplamente distribuídas nesta região estão a Bothrops mattogrossensis (Boca-de-sapo) e a Bothrops pauloensis (Jararaca-pintada). Mais ao norte podemos encontrar a Bothrops atrox (Jararaca-do-norte) e próximo ao sul a Bothrops jararacussu (Jararacuçu) (Nogueira et al., 2019), ambas podem gerar envenenamento grave.
Já a Cascavel, que também ocorre nos três estados da região, é a mais letal dentre elas (Ministério da Saúde, 2021).
As serpentes não são predadoras de humanos e quando ocorre o encontro, tendem a fugir. Quando as pessoas entram em ambientes onde pode haver serpentes é preciso cautela, evitando acidentes indesejados. Mantenha distância segura, deixe o animal seguir seu curso, caso precise removê-lo em ambiente urbano, acione o serviço dos Bombeiros, disque 193, profissionais qualificados que farão a remoção e soltura de maneira segura para todos!
Vale ressaltar que há ainda muitas outras espécies de serpentes para esta área central do Brasil (Nogueira et al., 2019), tanto peçonhentas quanto não peçonhentas, aqui não citadas. Apenas evidenciamos algumas delas!
Lachesis muta é a espécie de Surucucu-pico-de-jaca presente em nossas florestas e responsável por cerca de 2,9% dos acidentes com serpentes peçonhentas no Brasil, mas se considerarmos a regionalidade, este número pode ser maior na região norte do país. A taxa de letalidade dos acidentes laquéticos estão em torno de 0,64% no território nacional, sendo a segunda mais letal, atrás apenas da cascavel (Ministério da Saúde, 2018).
É a maior víbora do mundo, medindo cerca de 3,65 m de comprimento total (Mehrtens, 1987). As Bushmasters são terrícolas, noturnas e se alimentam principalmente de roedores, podendo ser encontradas em buracos de tatus (Argolo, 2004).
O registro de acidentes com esta serpente é raro e o caso relatado de um homem de 19 anos picado no antebraço direito, em acidente de trabalho no dia 11 de Dezembro de 2006, serve de alerta para pessoas que manipulam serpentes e correm o risco constante de sofrerem com o envenenamento. O veneno laquético possui ações proteolíticas, coagulantes, hemorrágicas e neurotóxica, que dependendo da quantidade de veneno introduzido vão ser responsáveis pela gravidade e manifestações clínicas (Pardal et al., 2007).
"A surucucu tem a particularidade de armar o bote com duas curvas em "S", o que permite um bote de 50% do tamanho do corpo (outras Viperidae do Brasil enrodilham com uma curva em "S" e tem bote com cerca de 30% do comprimento). Aliado ao porte de até 3,60 metros, pode-se afirmar seguramente que a surucucu detém o maior alcance de bote entre as cobras venenosas brasileiras."
Dr. Rodrigo C.G. de Souza
Fonte e fotos de: http://lachesisbrasil.blogspot.com/2013/07/sobre-o-duplo-s.htmlConheça o Núcleo Serra Grande, Bahia - BR, o primeiro no Brasil a reproduzir em cativeiro a nossa Lachesis muta.
CONTATO: lachesisbrasil@hotmail.comA serpente Biúta, também conhecida como Víbora-de-sopro, Bitis arietans, é uma espécie de víbora africana responsável pela maioria das fatalidades causadas por picadas de cobra na África, que pode ser atribuída a sua ampla distribuição neste continente, ocorrência em áreas povoadas (sinantropia) e reação mais agressiva (Mallow et al., 2003; Spawls et al., 2018; Warrel et al., 1975).
É muito robusta, medindo cerca de 1,0 m, com relatados alcançando 190 cm de comprimento total e 40 cm de circunferência (Mallow et al., 2003). Com machos, que realizam combate, geralmente maiores que as fêmeas, que dão à luz a grande número de filhotes, entre 50 e 60, mas com relatos de 80 e 156 filhotes, a maior ninhada de cobra já registrada (Spawls et al., 2018).
Esta espécie é provavelmente a cobra mais comum e difundida na África (Mallow et al., 2003), presente em diversos habitats, associada a pastagens rochosas (Mehrtens, 1987). Com deslocamento retilíneo e lento, usa a camuflagem como proteção, mas podem mover-se de forma serpentina, ganhando mais velocidade. Apesar de terrestre, é capaz de nadar e escalar arbustos (Mallow et al., 2003).
Quando ameaçada, pode tentar se afastar e se proteger, ou assobiar e armar a postura em “S”, podendo desferir seu bote bruscamente e repetir sucessivas investidas; espécimes juvenis, são capazes lançar todo o corpo durante o bote (Mallow et al., 2003; Mehrtens, 1987).
Ativas durante a noite, predam por emboscada, alimentando-se de mamíferos, pássaros, anfíbios e lagartos (Mallow et al., 2003).
Produz um veneno citotóxico potente (Widgerow et al., 1994), com valores de DL 50 em camundongos que variam: 0,4–2,0 mg/kg, intravenosa; 0,9–3,7 mg/kg, peritoneal e 4,4–7,7 mg/ kg, subcutânea (Brown, 1973). Mallow et al. (2003) fornecem um intervalo de LD 50 de 1,0–7,75 mg/kg SC e em grande quantidade de 180-750mg (Brown, 1973).
Dentre os sintomas destacam-se as hemorragias evidentes ou não, inchaço, dor intensa, sensibilidade, necrose e síndrome compartimental (Rainer et al., 2010). Há relatos de hipotensão, fraqueza, tontura e períodos de semi ou inconsciência também são relatados (Mallow et al., 2003).
Agravamento dos casos e a maioria das fatalidades estão associados ao manejo clínico inadequado e negligência (Spawls et al., 2018; Warrel et al., 1975).
A seguir exibimos a Cobra-rei que além de detentora de toxina extremamente letal (neurotóxica) se destaca por seu tamanho (com registro no Guinness) .
A Cobra-rei (Ophiophagus hannah) é a cobra venenosa mais longa do mundo (Mehrtens, 1987), crescendo até 5,5 m (18,5 pés). Ele também tem uma das maiores expectativas de vida, vivendo até 25 anos (Veto et al., 2007), listada como vulnerável na Lista Vermelha IUCN (Stuart et al., 2012).
O maior espécime já registrado - capturado em abril de 1937, na Malásia, e exibido no Zoológico de Londres - atingiu um comprimento de 5,71 m no outono de 1939, com registro no livro dos recordes como a maior cobra peçonhenta (Guinness World Records, 1939).
Conhecida por se alimentar de outras cobras, motivo de seu nome.(Comedor de cobra), atacando diversas espécies, inclusive víboras (Bhaisare et al., 2010). Apesar de não ser considerada agressiva e evitar confronto com humanos, defende seu ninho atacando intrusos rapidamente (Wall, 1924).
O veneno da cobra-real consiste em citotoxinas e neurotoxinas, incluindo alfa-neurotoxinas e toxinas de três dedos, além de efeitos cardiotóxicos. Uma única mordida pode fornecer até 400–500 mg de veneno, com dose letal para camundongos de 1,91 mg/kg , assim, em uma única mordida pode conter até 15.000 doses letais de camundongos (LD 50). Comparada com Oxyuranus microlepidotus, a Taipan-do-inteiror, com até 100 mg de veneno e LD 50 de 0,01 mg/kg, dando até 500.000 doses LD 50 por mordida (Broad et al., 1979).
As picadas da cobra-real são consideradas mais graves do que as picadas de outras espécies de cobra devido aos maiores volumes de veneno injetado e ao início mais rápido dos sintomas neurotóxicos (Chang et al., 2002; He et al., 2004; Li et al., 2006; Roy et al. 2010; Rajagopalan et al., 2007).
A Xenodon merremii distribui-se por grande parte da América do Sul, ocorrendo em quase todo o território nacional, com exceção de alguns estados no norte do Brasil (Costa & Bérnils, 2018). É um animal não peçonhento, com cerca de 1,5 metros, ovíparo e seu padrão de cores é bastante variável, composto por escamas escuras cinzentas ou avermelhadas, com desenhos amarelados ou brancos, com jovens semelhantes ao padrão Bothrops e adultas oscilando entre este padrão bem marcado, ao ligeiramente marcado, liso e com faixas (Cacciali, 2010). Possui dentes alongados no fundo da boca, que não injetam veneno, mas podem estar relacionados a perfuração de anfíbios, suas presas recorrentes, incluindo o gênero Rhinella, por ser uma das poucas espécies imunes às toxinas deste anfíbio (Williams & Scrocchi, 1994), podem também predar lagartos (Céspedez, Lamas & García, 2014).
É também conhecida pelos nomes de achatadeira, cobra-chata, boipeva, capitão-do-campo e capitão-do-mato, por intimidar seus possíveis agressores. A boipeva e as demais Xenodon possuem um comportamento defensivo comum entre algumas serpentes: quando ameaçadas, achatam o corpo contra o solo (dorso-ventralmente), parecendo maior do que realmente são, intimidando possíveis predadores; tal como uma Cobra-naja, daí a referência do título. Outra Xenodon, X. severus, além de achatar o corpo também possui um ocelo no dorso, esta parece ainda mais, dando margem à sugestão de um comportamento evolutivo convergente semelhante às cobras africanas e asiáticas (Elapidae) (Kahn, 2011).
Apesar de não ser peçonhenta, Xenodon merremii é uma serpente relativamente agressiva, o que assusta possíveis predadores e humanos também, pode escancarar a boca, desferir botes e morder quando ameaçada, sendo temida por muitos, que julgam equivocadamente se tratar de uma serpente perigosa, mas na verdade é apenas blefe, mimetizando espécies perigosas.
Esta cobra preta e amarela, Spilotes pullatus, é uma grande Colubridae com ampla distribuição na América Central e do Sul. Forrageia ativamente durante o dia no solo ou na vegetação, a procura de pequenos mamíferos, aves filhotes, contraindo, pressionando contra o substrato e abatendo suas presas antes de engolir; porém, pequenas presas são rapidamente engolidas vivas, como observado em cativeiro. Apesar de machos e fêmeas apresentarem tamanhos semelhantes, os maiores registros são machos. Na transição entre a estação seca-chuvosa ocorrem o acasalamento e o combate entre machos. A Caninana é ovípara, com filhotes nascendo entre a estação chuvosa e a seca (Marques et al. 2014).
Para muitos: “Caninana voa e persegue pessoas.”, “Caninana dá chicotada.”; mas essas ideias não passam de crenças populares a respeito da cobra (Fernandes-Ferreira et al., 2012) que apesar de bastante irritadiça, inflar um papo amarelo e desferir botes sucessivos, não persegue incessantemente as pessoas; é incapaz de voar, embora extremamente habilidosa na travessia de galhos com botes que a projetam para frente e não chicoteiam mas podem vibrar a cauda como sinal de advertência (Marques, Eterovic & Sazima, 2019).
A Caninana, também conhecida com Cobra-tigre é famosa por estar amplamente distribuída em nosso território e ganhou destaque pela frequência de seu encontro, mas principalmente, por sua coloração, agilidade e uma postura agressiva, que na verdade corresponde a um comportamento defensivo que inclui compressão lateral do corpo, postura em S (armar o bote), boca aberta e mordida, típico de cobras arbóreas (Greene, 1979).
Apesar de sua belíssima cor vibrante aparentar aposemática, sua postura pode parecer camuflada em meio a vegetação; ao dispor em curvas, pode se assemelhar a galhos e cipós (eg. como o cipó "escada de macaco", uma espécie do gênero Bauhinia, Caesalpinaceae), possivelmente garantindo algum tipo de defesa para espécies de serpentes arbóreas contra predadores locais (Marques, Rodrigues & Sazima, 2006).
É uma serpente inofensiva, não representando perigo para o ser humano, e muito bem vista em algumas áreas rurais com criação de animais, pois pode habitar forros e telhados, predando pequenos roedores indesejados.
Não mate Serpentes, proteja a fauna silvestre, preserve a vida!!!
Foto: Praia Grande, São Francisco do Sul, SC.
A serpente filmada na Praia Grande de São Francisco do Sul, no Litoral Norte de Santa Catarina surpreendeu banhistas (Ndmais, 2021).
Tratava-se de uma belíssima Spilotes pullatus, uma cobra grande, podendo chegar a 2,7 metros de comprimento, presentes em todos os estados do nosso país. Habita ambientes principalmente florestais, próxima à água, é principalmente arbórea (Harrington et al. 2018; Uetz, Freed & Hošek, 2020), mas pode ser vista em solo, forrageando ativamente durante o dia.
A Cananina não é uma serpente marinha e o fato dela ter sido encontrada na areia da praia, com registros ao longo do litoral brasileiro, inclusive em comunidades insulares (Cicchi et al., 2007; Lamonica, 2007), provavelmente se deve a existência de uma área de restinga ainda preservada nesta região, como pode ser vista na imagem: a Praia Grande tem cerca de 20 km de praia deserta, um paraíso natural, excelente cenário para os apaixonados pela natureza, surfistas e ecoturistas, uma relíquia da Mata Atlântica.
Como a caninana busca ativamente suas presas durante o dia, é bem provável que tenha sido surpreendida pelos humanos, e durante a fuga, tendência da maioria das cobras, acabou se direcionando para o mar. A persistência de aproximação humana provavelmente induziu a serpente às ondas, com subsequente afogamento. Com certeza não foi a intenção dos banhistas! O encontro fortuito e curiosidade possivelmente os motivaram a aproximar-se ainda mais. A filmagem cessa e nossa expectativa é pela sobrevivência da serpente.
É muito comum que espécies silvestres sejam importunadas, às vezes por curiosidade, por falta de informação, acidentalmente e até mesmo proposital. Devemos sempre evitar ou minimizar a intervenção e o confronto com animais silvestres, assim estaremos colaborando com a nossa biodiversidade e sua preservação! Mantenha sempre distância! Respeite a vida!!!
É um comportamento ritualizado onde dois oponentes tentam subjugar fisicamente um ao outro, geralmente durante o acasalamento. Apesar de difundindo entre as famílias de serpentes, foi registrado para apenas 6% das espécies conhecidas (E.g. Missassi et al., 2017; Pizzatto et al., 2006) e estudo dos padrões filogenéticos em tais comportamentos foi feito para Boidae e Colubroidea (Schuett et al., 2001; Senter et al., 2014).
Para a caninana (Spilotes pullatus), o objetivo do ritual de combate parece ser manter a cabeça mais alta do que a do oponente, durando aproximadamente uma hora, sem mordidas ou qualquer aplicação de dano físico ao oponente, resultando em desgaste energético. Entrelaçar o corpo na tentativa de imobilizar o oponente, dificultando seu deslocamento para frente . Os rituais de combate para S. pullatus podem servir a outros propósitos além do acesso às fêmeas, como domínio ou disputa de território, assim como sugeridos para Chironius bicarinatus por Marques et al., 2009 (Muniz-da-Silva & Almeida-Santos, 2013).
A cobra cascavel, Crotalus durissus, é uma espécie de serpente peçonhenta neotropical conhecida por seu chocalho na ponta da cauda, robusta e de médio porte, alcançando cerca de 1,6 m de comprimento. Sua dieta é composta, principalmente, por roedores, mas inclui também lagartos (Argaez, 2012). O veneno da cascavel produz neurotoxicidade, distúrbios de coagulação, miotoxicidade sistêmica e insuficiência renal aguda, com possível dano adicional ao coração e fígado (Monteiro et al., 2001). A C. d. terrificus endêmica do Brasil apresenta uma peçonha com forte atividade letal e miotóxica, com grandes quantidades do complexo neurotóxico crotoxina, e fracos efeitos proteolíticos, hemorrágicos e formadores de edema, semelhantes aos recém-nascidos de C. d. durissus (Gutiérrez et al. 1991) e, em caso de acidentes, o antiveneno do Instituto Butantan apresenta títulos de anticorpos anticrotoxina muito maior em comparação com outro instituto, sendo mais eficiente (Saravia et al. 2002). É a espécie que mais causa óbito em acidentes ofídicos no Brasil (Ministério da Saúde, 2019), especialmente por insuficiência renal aguda (Pinho, Zanetta & Burdmann, 2005) e sua presença é favorecida pelas atividades humanas que, além do aumento de roedores fornecendo abundância alimentar, promove a dispersão desta cobra facilitada por áreas abertas de pastagens criadas após desmatamentos (Bastos, Araujo & Silva, 2005), remontando bem o cenário pleistocênico, do processo de especiação vicariante na floresta amazônica a exemplo de espécies não florestais como a cascavel neotropical em sua expansão para o sul do continente (Wüster et al. 2005).
Foto: Xenodon dorbignyi por Juan Anza
A serpente Xenodon dorbignyi, a Cobra-nariguda, ou Hognose Sul-americana, compartilha uma grande área de ocorrência com Bothrops alternatus (Urutu-cruzeiro) e Micrurus frontalis (Cobra-coral), não somente no sul do Brasil, mas também em outros países como Argentina, Paraguai e Uruguai. Seu padrão de coloração dorsal é fortemente semelhante a Urutu, com tons de cinza a preto nas manchas e amarelo a marrom no fundo; já a semelhança com a Cobra-coral, pode ser notada no comportamento de exibição caudal e no reforço da coloração ventral com tons de amarelo claro a vermelho vívido. Assim, esta espécie aparenta duplo mimetismo para sua defesa, tanto comportamental quanto coloração: imitando inicialmente Bothrops e posteriormente, caso a perturbação persista, mimetizando a Micrurus (Yanosky & Chani, 1988) .
Nossa Cobra-nariguda sulista, apesar da aparência perigosa, achatando dorso e cabeça, é uma serpente áglifa, sem interesse médico, ovípara (de Oliveira et al., 2011) e que se alimenta, principalmente, de anfíbios anuros e ovos de lagartos Liolaemus occipitalis, sugerindo atividade diurna de forrageio por presas enterradas na areia (de Oliveira et al., 2001) . Encontrada nas dunas de restinga, tolera grandes variações de temperatura características deste ambiente litorâneo, permanecendo em superfície, mesmo em altas temperaturas (Tozetti et al., 2010).
O caçador de cobras, Kevin Clifford Budden (1930 - 1950), foi um herpetologista amador australiano que fez a primeira pessoa a capturar um taipan vivo para pesquisa e morreu de uma picada de cobra no processo. Seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento de um antiveneno taipan (Wikipedia contributors, 2021).
Budden, de 20 anos, já era um experiente manipulador de cobras, especializado na coleta de serpentes venenosas. Pesquisas de veneno na Austrália estavam começando e homens como Budden foram fundamentais na captura das serpentes que os cientistas usaram para fazer antivenenos. Taipan estava no topo de sua lista, podem medir em média 1.5 metros e liberar um dos venenos de cobra mais potente do mundo (Shine & Covacevich, 1983). Na época, ainda não havia antiveneno para taipan. Em 27 de julho, Budden capturou um taipan de 1,8 m em Queensland. Ele carregou a cobra com as mãos, pegou uma carona em um caminhão que passava e levou a cobra para outro coletor de cobras local, onde foi identificada como um taipan. Enquanto tentava pegar a cobra, Budden foi mordido no polegar esquerdo, mas conseguiu colocar a cobra capturada em uma bolsa. Extraindo a promessa do caminhoneiro de que entregaria a cobra a alguém que a transportaria para o sul para os pesquisadores, Budden foi levado para tratamento médico. Não tendo nenhum antiveneno para taipans, Budden recebeu antiveneno de Cobra-tigre. Embora isso tenha ajudado a conter o efeito de coagulação do veneno de taipan, não superou a paralisia do sistema nervoso e morreu na tarde seguinte (Yong, 2014).
Na época da morte de Budden, havia vários rumores sobre o taipan, mas só depois de Budden ter capturado o espécime que se considerou seriamente a potência de seu veneno. Dois espécimes anteriores de taipan foram obtidos em 1923, mas essas cobras estavam mortas e as amostras de veneno estavam contaminadas. A cobra capturada de Budden foi enviada viva para os Laboratórios de Pesquisa da Commonwealth em Melbourne, onde seu veneno foi extraído com sucesso pelo zoólogo David Fleay. O veneno do taipan capturado foi fundamental na pesquisa e desenvolvimento de um antiveneno, que se tornou disponível em 1955 e salvou a vida de um menino de Cairns de 11 anos ainda no mesmo ano. A história de Budden e seu sacrifício estimulou esforços para capturar outras cobras e produzir mais antivenenos, o legitimando como um verdadeiro herói (Yong, 2014)!
Em um artigo de 2014 publicado no Journal of Proteomics, Bryan Fry da University of Queensland relatou ter encontrado espécimes do veneno colhido do taipan que matou Budden. Seu estudo descobriu que o veneno manteve sua toxicidade depois de quase sessenta anos em armazenamento seco (Jesupret et al., 2014).
No dia 18/03/2021, Maria de Fátima Barbosa Greca (63 anos) ao entrar no portão de sua casa em Chácara das Tâmaras, Itanhaém -SP, acidentalmente pisou no filhote de uma jararacuçu, Bothrops jararacussu, que a picou defensivamente no calcanhar. Após o pedido de socorro, ali mesmo sofreu o primeiro AVC e seu esposo César a levou para Unidade de Pronto Atendimento, onde foi administrado soro antibotrópico. Foi transferida para o Hospital Irmã Dulce, Praia Grande e após avaliação médica, realizou uma cirurgia por conta de um coágulo na cabeça. Ela está na UTI desde então, infelizmente ainda em estado grave, de acordo com a família (Peixoto, 2021a).
Na manhã do dia 24/03/2021, lamentavelmente, a idosa não resistiu e faleceu, deixando três filhos, marido e três netos. Após a neurocirurgia, permaneceu internada na UTI e subsequente complicações renais, realizando hemodiálise, e uma parada cardíaca que a levou a óbito (Peixoto, 2021b).
As cobras do gênero Bothrops são responsáveis por quase 90% das picadas de cobras venenosas na América do Sul, com uma taxa de mortalidade de 0,31% em pacientes recebendo antiveneno. A Bothrops jararacussu é uma cobra de grande porte, que pode atingir 1,5 a 2,2 m de comprimento, seu veneno apresenta alta mortalidade, mas acidente com esta espécie é incomum. De 1.718 picadas de cobra acompanhadas por doze anos, somente 0,82% foram causadas por esta espécie (Rosenfeld, 1971). Outro estudo durante 20 anos em São Paulo, foram observados apenas 29 casos de envenenamento por B. jararacussu (Miliani et al., 1997).
Dois casos de AVC após picada de cobra foram relatados por Sachett et al. (2020), ambos os casos acidentes com Bothrops e atendimento tardio, dando alerta para o agravo dos acidentes ofídicos diante do retardo na soroterapia e da carência de hospitais rápidos. O veneno botrópico tem efeitos proteolíticos, coagulantes e hemorrágicos. As manifestações locais são dor e edema na área da picada. Casos graves podem desenvolver necrose de tecidos moles, abscesso e até mesmo perda do membro lesado. As complicações sistêmicas mais frequentes após a picada são sangramento, insuficiência renal aguda, sepse e mais raramente hipotensão ou choque. Os distúrbios da coagulação são uma das manifestações mais comuns após o envenenamento por Bothrops . A incidência de coagulopatia após esse tipo de picada de cobra é alta, variando de 48% a 75%. Manifestações hemorrágicas são observadas no local da picada, gengivas, área nasofaríngea, trato gastrointestinal, trato urinário e sistema nervoso central (Milani et al., 1997).
Jorge, M. T., & Ribeiro, L. A. (1990). Acidentes por serpentes peçonhentas do Brasil. AMB rev. Assoc. Med. Bras, 66-77. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-92824
A Salamanta ou Jiboia-arco-íris, grupo de serpentes constritoras pertencentes ao gênero Epicrates distribui-se desde a Costa Rica até a Argentina. É inofensiva, mas altamente temida pelas populações nordestinas. A espécie Epicrates assisi está presente na Caatinga, ativas durante manhã e noite, com fossetas labiais rasas (que detectam calor), alimenta-se de mamíferos, aves e ovos (de aves e lagartos), boa escaladora e portadora de um belíssimo colorido furta-cor que caracteriza seu nome (Vanzolini et al., 1980). Apesar de pertencer à família Boidae, que possui dentição áglifa, portanto não peçonhenta, foi apontada pela população como a “cobra mais perigosa de todas” (Fernandes-Ferreira et al., 2012), considerada venenosa em algumas comunidades do sertão.
Apesar das serpentes estarem cada vez mais populares como animais de estimação, são necessários mais estudos sobre ecologia e reprodução, otimizando seu manejo, reduzindo o tráfico desses animais e contribuindo para estratégias de conservação (de Oliveira Lima et al., 2019), tais como termorregulação por Urias et al. (2013), indicando correlação entre a temperatura do substrato e a da superfície corporal, diferente da cloacal.
Diferentes formas, de adquirir alimento foram desenvolvidas dentro do grupo das serpentes. Estratégias de obtenção de alimento podem estar relacionadas aos microhabitats de cada espécie. Este estudo objetivou comparar o comportamento predatório de Eunectes murinus (semiaquática) (n=4), Corallus hortulanus (arborícola) (n=2) Boa constrictor (semiarborícola) (n=4) e Epicrates maurus (terrestre) (n= 1) e descrevê-los de acordo com seus diferentes hábitos. Os indivíduos foram filmados em comportamento de predação com uma câmera de vídeo VHS em recintos que variaram conforme o tamanho corporal de cada animal. Os dados possibilitaram observar diferentes comportamentos de predação neste grupo de serpentes constritoras de diferentes hábitos. As estratégias apresentadas pelas espécies para subjugar e deglutir suas presas parece refletir a vida nos diferentes habitats ocupados pelos gêneros estudados.
Ray Sopha, no dia 03 de março de 2021, flagrou um momento inusitado em sua privada, ao notar a presença de uma Cobra-rei emergindo do vaso sanitário, no banheiro de sua casa na vila de Phsar Prom, Pailin, Camboja. Pensou que a privada estivesse entupida por mau uso anterior, mas rapidamente notou que se tratava de uma cobra peçonhenta, o que lhe garantiu esse registro assustador e, antes que a cobra saísse da água e abrisse seu capuz para atacar, Ray foi para fora do banheiro para pedir ajuda. No entanto, Ray e parentes voltaram para se livrar da cobra, que não estava em lugar nenhum - apesar de uma busca completa no interior de toda a residência.
Conclusão: Cobra fugiu, banheiro interditado e todos a salvo, neste caso!
Uma mulher na Tailândia que foi picada por uma píton de dois metros em outubro passado. Boonsong Plaikaew, 54, finalizando o uso banheiro em sua casa em Samut Prakan, Tailândia, sentiu uma dor gigantesca da picada. O sangue jorrou por suas pernas, com mordida em suas nádegas, antes que a cobra a mordesse novamente no dedo. Seu marido acionou os paramédicos que levaram a Sra. Plaikaew ao hospital. Felizmente, a cobra não era venenosa e ela retornou para casa com antibióticos.
Um mês antes, Siraphop Masukarat, de 18 anos, foi levado às pressas para o hospital depois que uma píton mordeu seu pênis enquanto ele se sentava no banheiro de sua casa em Nonthaburi, ao norte de Bangkok. O adolescente olhou para baixo e viu a píton com as mandíbulas presas na ponta do pênis. O sangue jorrou ao redor do vaso sanitário. O adolescente precisou de pontos no hospital local.
Fontes:
A Mamba-negra (Dendroaspis polylepis) é uma espécie de cobra grande e extremamente venenosa, tanto terrestre, quanto arbórea. É diurna e conhecida por atacar pássaros e pequenos mamíferos (Armitage, 1965). Em superfícies adequadas, ele pode se mover a velocidades de até 16 km/h para distâncias curtas, quando adultas têm poucos predadores naturais.
Em uma exibição de ameaça, abre sua boca preta (Baynham, 2010), espalha o pescoço e às vezes sibila. É capaz de golpear a distâncias consideráveis e pode entregar uma série de mordidas em rápida sucessão.
Peptídeos da Mamba-negra, que chamamos de mambalgins, não são tóxicos em camundongos, mas mostram um potente efeito analgésico na injeção central e periférica que pode ser tão forte quanto a morfina (Diochot et al., 2012). A composição de seu veneno difere das de outras mambas, isso pode refletir a preferência na dieta - pequenos mamíferos para a mamba-negra mais terrestre versus pássaros para as outras mambas predominantemente arbóreas (Stuart et al., 2017).
Esta belíssima serpente brasileira é uma falsa-coral, Oxyrhopus trigeminus, com ocorrência em nosso Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Floresta Amazônica (Alencar, Galdino & Nascimento, 2012). São serpentes ovíparas e ativas sobre o solo, principalmente à noite (Marques et al., 2019). Para se alimentarem capturam lagartos, mamíferos e aves (Vitt & Vangilder, 1983; França et al., 2008; Alencar, Galdino & Nascimento, 2012; Mikalauskas, Santana, & Ferrari, 2017).
Apesar de não haver interesse médico para esta espécie, é opistóglifa, apresentando dentição posterior capaz de subjugar suas presas e, como a maioria das cobras, em confronto com humanos ou potenciais predadores, tentará fugir ou morder, podendo causar acidentes de menor gravidade (Silveira & Nishioka,1992; Brasil, 2019).
Portanto, não manuseie serpentes, pois podem morder causando lesões de leves a fatais. As chances de confundir-se acreditando não se tratar de um animal peçonhento são enormes, por exemplo as cobras-corais-verdadeiras e jararacas com várias espécies que as mimetizam, imitando padrões de cor e comportamento. A correta identificação é feita por especialistas.
As cobras são animais silvestres e devem ser mantidas em seu ambiente natural, caso encontre alguma em seu caminho, deixe-a seguir, haja sempre com prudência priorizando a segurança. Não mate-a! Peçonhentas ou não, elas não saem por aí a procura de humanos... Lembre-se: o bote também é uma estratégia de defesa destes animais. Mantenha sempre distância segura! Se precisar removê-la, acione os Bombeiros (Disque 193).
A Píton-reticulada (Malayopython reticulatus) divide com a nossa sucuri o título de maior cobra do mundo. Ambas, normalmente, enrolam-se nas vítimas, matando-as, antes de devorá-las. As pítons são capazes de comer animais enormes, como crocodilos, hienas e até mesmo outras cobras. O forte aperto de uma píton é capaz de impedir o fluxo sanguíneo, gerando a parada cardiorrespiratória. Infelizmente também há registros de vítimas humanas, o que é raro: como o caso da píton de sete metros que tirou a vida de uma senhora na Indonésia. A cobra que engoliu a mulher foi encontrada e posteriormente aberta, para a remoção do corpo da vítima, ainda preservado. Outros casos semelhantes já foram reportados como o agricultor Akbar Salubiro, de 25 anos, que trabalhava em uma plantação de palmas na ilha de Sulawesi, Indonésia, quando desapareceu e teve seu corpo encontrado no interior de uma píton.
Uma publicação recente em revista on-line nacional, reportou equivocadamente a data de uma fatalidade envolvendo uma mulher, Wa Tiba de 54 anos, e uma píton no sudeste de Sulawesi, na Indonésia. Na verdade, o acidente foi noticiado em 16 de Junho há 3 anos atrás por Avi Selk de Washingtonpost (2018) e tratava-se de uma mulher que não retornou de seu milharal na noite anterior. Após a busca feita pelos aldeões, a poucos metros dos pertences da vítima, foi encontrada uma píton com cerca de 7 metros e abdome distendido. A cobra foi morta e, após aberta, a mulher desaparecida jazia intacta com sua vestimenta (Selk, 2018).
A perda de habitat e a escassez de fontes de alimentos naturais da cobra possivelmente influenciam casos raros como estes. Acesse para reportagens completas:
Atenção os links abaixo possuem conteúdo impróprio para menores!!! Cenas impactantes!!!! Cobra engole humano!!!!
O crocodilo de água salgada Crocodylus porosus é uma espécie comum da costa leste da Índia ao ao norte da Austrália e Micronésia. Pode ser encontrada em mar aberto, perto da costa, riachos de manguezais, rios de água doce e em pântanos. Há muitos relatos de ataques destes crocodilos a humanos e animais domésticos. As possíveis razões para o ataque de crocodilos a humanos incluem a defesa de territórios individuais, fontes de alimentos atraentes, como gado e outros animais domésticos, e despejo de resíduos alimentares de alta proteína em bancos ou áreas de praia (Sivaperuman, 2015). Devido seu comportamento territorial, o crocodilo de água salgada é considerado o mais perigoso de todos os crocodilianos, com aumento de incidência de ataques no Norte da Austrália, com média de 0,5 óbitos por ano, geralmente por crocodilos marinhos com mais de 4 m (Caldicott et al., 2005).
Apesar da maioria dos crocodilianos ser sociável, compartilhando área e comida, os crocodilos de água salgada são menos tolerantes, mesmo com sua própria espécie; os machos compartilham o território com as fêmeas, mas expulsam seus rivais. O crocodilo marinho é o maior, com registros do maior de todos os tempos, o Lolong de 6,17m (Guinnes, 2011a), e do maior mantido vivo em cativeiro, Cassius de 5,48m (Guinnes, 2011b). Esta espécie apresenta extremo dimorfismo sexual, com machos que podem ultrapassar 6 metros de comprimento e fêmeas muito menores, com até 3 metros. Quanto a sua força, Crocodylus porosus registrou uma mordida de 16.414 N (3,689 libras) representando a maior força de mordida medida em qualquer animal (Erickson et al., 2012).
Estão entre os mais ativos de todos os crocodilos, especialmente na água, navegando, com registros de deslocamento de 590 km (Campbell, 2010) , salvo quando estão se aquecendo em terra (Grigg et al., 1998).
Por permanecerem submersos bastante tempo, conseguem surpreender suas presas que incluem tubarões, outros peixes de água doce e salgada, crustáceos, répteis, aves e mamíferos, inclusive o ser humano e jovens se alimentando de crustáceos e peixes (Taylor, 1979). Embora os crocodilos mergulhem por cerca de 15 minutos, o tamanho está correlacionado ao tempo de submersão e os maiores crocodilos conseguem manter-se submersos de 2 a 3 horas (White, 1969).
Predador de emboscada veloz, que apesar de seu imenso tamanho consegue manter-se oculto e surpreender suas vítimas. Assim, o fato de não poderem ser vistos em um determinado corpo d'água não significa que eles não estejam lá, e deve-se sempre ter cuidado, nas áreas de sua ocorrência.
No Brasil, em 2019, foram registrados cerca de 268 mil acidentes por animais peçonhentos, dentre serpentes (30 mil), aranhas (36 mil), escorpiões (156 mil), lagartas (6 mil), abelhas (22 mil) e outros animais em menor proporção.
Produtores nacionais (Instituto Butantan, Instituto Vital Brazil, Fundação Ezequiel Dias e Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos) fornecem ao Ministério da Saúde os antivenenos necessários para a distribuição das cotas aos Estados, levando em consideração critérios epidemiológicos, que são as notificações de acidentes por animais peçonhentos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
A disponibilização desses antivenenos é essencial para a redução de óbitos, pois, utilizados de forma adequada, são a forma mais eficaz de neutralização da peçonha do animal causador do acidente.
A prevenção é a melhor alternativa! Proteja a sua vida e a vida dos animais silvestres também. Evite o confronto, deixe o animal seguir seu curso, use algum instrumento para afastá-lo de seu caminho, sem machucá-lo! Use equipamentos de proteção como botas e luvas, caso trabalhe em ambientes rurais, ou ao entrar em áreas de mata. Examine com cautela objetos antes de usar, mantenha a área limpa (sem entulhos e lixos), vede frestas e buracos em portas, assoalho e forros.
Atenção para o verão, pois aumenta o número desses acidentes!!!!
Respeite a vida!!!
No Brasil 85,4% dos acidentes ofídicos em seres humanos notificados são causados por serpentes do gênero Bothrops, conhecidas como Jararacas, representando um importante problema de saúde pública (Ministério da Saúde, 2019). Devido a falta de obrigatoriedade da notificação para a medicina veterinária, as estatísticas para os animais domésticos não são precisas (Cintra et al., 2014); mas, mesmo assim, a maior incidência destes acidentes também é botrópica e os cães são altamente suscetíveis devido ao seu comportamento curioso, superando os felinos que são menos atacados. Dentre os mamíferos domesticados, os mais passíveis, em ordem decrescente, de se tornarem vítimas de serpentes são: bovinos, equinos, ovinos, caprinos, caninos, suínos e felinos (Bernardi et al. 2011). Os locais comumente atingidos no ataque da serpente em cães são o focinho e o pescoço e caracteriza-se pela marca das presas no local da picada, sangramento local e edema precoce (Antonussi et al., 2016). Acidentes graves representaram 40% dos casos, no qual edema foi o sinal clínico mais frequente (88,7%), seguido por manifestações hemorrágicas (41,5%) demonstrados em estudos no Rio Grande do Sul (Silva et al., 2018). A complexidade de cada caso pode variar mediante diferentes fatores como a espécie da serpente e sua ontogenia (Ferreira & Barravieira, 2004). Devido à atividade proteolítica, hipotensora e coagulante do veneno, o tratamento imediato, baseado na soroterapia, é um fator decisivo para o prognóstico do paciente (Nunes, Coelho & Dalmonin, 2013), sendo prontamente atendido e bem manejado clinicamente geralmente resulta em sucesso no tratamento hospitalar (de Carvalho Alves et al., 2020).
Apesar de conhecida por sua beleza e docilidade, sendo mantida como animal de estimação, a Píton-birmanesa (Python bivittatus) por ser uma das maiores serpentes do mundo, podendo ultrapassar 5 m de comprimento (Barker et al., 2012), é um animal muito poderoso e potencialmente letal, podendo causar injúrias e até matar por constrição, com registros de óbitos humanos, como o caso do adolescente no Colorado (Chiszar et al., 1993), do jovem em Ontario (CBC News, 2013) e do estudante em Caracas (The Telegraph, 2008). É uma espécie asiática, de grande porte, considerada invasora na américa, com grande impacto negativo na biodiversidade da Flórida, como a redução dos mamíferos dentro do Parque Nacional de Everglades, especialmente pequenos mamíferos (Holbrook & Chesnes, 2011), onde raposas e coelhos desapareceram, queda nos avistamentos de guaxinins em 99,3%, gambás 98,9% e cervos de cauda branca 94,1% (Adams, 2012). As aves também entram no cardápio destas pítons, inclusive aves ameaçadas de extinção (Dove et al., 2011). Ocupa tocas construídas por outros vertebrados, com registro de co-ocupação em toca de tartaruga, Gopherus polyphemus, onde havia uma agregação reprodutiva desta píton com uma fêmea e seis machos, sugerindo o monitoramento dessas tocas como estratégia de controle populacional desta espécie exótica, especialmente em períodos reprodutivos (Bartoszek et al., 2018).
Os gatos domésticos são animais fabulosos e, como animais companheiros, vêm se destacando cada vez mais, seja por sua maior tolerância a pequenos espaços residenciais ou a períodos mais longos sem a presença do seu dono. A presença do gato em áreas urbanas e rurais é bem vista, por incluir em seu cardápio outras espécies invasoras, potencialmente prejudiciais ao ecossistema e à saúde humana, porém o abandono ou o livre acesso desta espécie em ambientes naturais pode afetar à fauna silvestre, inclusive gerando risco de extinção. Assim, a introdução de animais exóticos pode ter efeito substancial na vida selvagem: transmissão de doenças; predação, por ser o gato um caçador generalista, podem gerar sérios problemas, inclusive trazendo para a casa amostra do que foi predado (Woods et al., 2003), um exemplo particularmente conhecido é o da wren da Ilha Stephens Xenicus lyalli, cuja população inteira foi eliminada por um único gato pertencente ao faroleiro da ilha (PM, 1957) e sobreposição alimentar, que com gatos pode ocorrer não só de mamíferos, mas também de aves e répteis. Os ecossistemas naturais têm sofrido com todos os tipos de transtornos causados por espécies exóticas, incluindo além dos gatos, cães, cavalos, muitos outros vertebrados, além de invertebrados, bem como plantas (Ferreira et al., 2012).
É preciso conscientização e políticas públicas para reduzir esses impactos!
A Naja kaouthia, conhecida como Cobra-monocelada é uma serpente peçonhenta fascinante, potencialmente tóxica e muito explorada comercialmente. A serpente é original da Índia e Ásia e considerada exótica no Brasil, o que desperta atenção no caso de introdução acidental em território nacional, por interferir no ambiente, podendo gerar impactos em nossa biodiversidade (Ferreira et al., 2012). A naja, para se defender de predadores, levanta a parte anterior e abre o capelo exibindo seu desenho na parte posterior, semelhante a um olho e frequentemente ataca, com dentes moderadamente adaptados para cuspir (Wüster, 1998). Encontrada em buracos de árvores e áreas onde os roedores são abundantes, favorecidas pela ação humana. N. kaouthia come, além de pequenos mamíferos, sapos, serpentes, aves e, eventualmente, peixes; com atividade mais crepuscular (Kyi & Zug, 2003).
Seu veneno contém neurotoxinas fracas (Ogay et al., 2005), além de miotoxinas e cardiotoxinas (Fletcher et al., 1991). A maioria das atividades enzimáticas não varia entre os venenos de adultos e juvenis; no entanto, algumas atividades ausentes nas juvenis podem ter implicações biológicas relacionadas à predação e clínicas (Modahl et al., 2016).
Aqui no Brasil, a fama desta Naja repercutiu com o caso do estudante de medicina veterinária que criava ilegalmente essa cobra e foi picado durante a prática de free handling e, por conta deste acidente, vários outros animais mantidos ilegalmente foram também resgatados (NatGeoBr, 2020).
Visando o sucesso da prole, vários animais apresentam a estratégia de cuidado parental, que se refere a qualquer comportamento que contribua para a sobrevivência dos filhotes, podendo incluir a preparação do ninho, alimentação, a defesa de predadores, dentre outros. No caso das Serpentes, algumas são conhecidas por apresentarem cuidado durante período de incubação dos ovos nos ninhos, sendo desconhecido cuidado parental a indivíduos jovens (Pough et al. 2004), como o caso da Python bivittatus que registrou perda de 57% de sua massa corporal durante esse processo, abandonando o ninho antes da eclosão (Wolf et al., 2016), também há registro de assistência materna nos primeiros dias após o nascimento em Cascavel-chifruda, Crotalus cerastes (Reiserer, Schuett & Early, 2008). A Cobra-rei, Ophiophagus hannah, é uma das poucas cobras que guardam os ovos durante a incubação e é a única cobra conhecida por construir ativamente seu ninho com material vegetal para depositar seus ovos (Oliver, 1956; Whitaker, Shankar & Whitaker, 2013 ). Uma forma de cuidado parental é a proteção no ninho e outros animais manifestam diversos repertórios comportamentais para fazê-lo; como o caso de aves, por exemplo, um casal de Udu-de-coroa-azul, Momotus momota junto com indivíduos de outras espécies de aves foram flagrados fazendo tumulto para espantar uma Serpente Jiboia, Boa constrictor, que tentava atacar seu ninho (da Silva & Pesquero, 2018). Cuidados parentais incomuns em mamíferos foram registrados no Parque Nacional do Quênia, onde uma leoa adulta, após ter perdido seus próprios filhotes, surpreendeu a todos ao adotar um filhote de órix, um tipo de antílope que compõe sua dieta (da Reuters, 2002; RecordTV, 2012), outro caso de leoa cuidando de filhote de macaco foi flagrado em Botsuana, na África (Extra, 2014).Casos inusitados de diferentes espécies demonstrando relação amistosa também foram registrados em cativeiro (RecordTV, 2012).
Foto: Evan Schiler/Reprodução/The LEO Chronicles
Theodore Roosevelt (26º presidente dos EUA), no início do século XX, queria comprar uma cobra viva e saudável com 30 pés ou mais de comprimento, oferecendo a quantia de US $ 1.000. Apesar de suas expedições selvagens, inclusive no Brasil (Roosevelt, 1914), ninguém havia capturado uma cobra daquele tamanho, mesmo com incontáveis rumores sobre serpentes gigantescas, fazendo essa recompensa passar para $5,000, depois $15,000 e, finalmente, $50,000 em 1980 oferecida pela Sociedade Zoológica de Nova York, ultrapassando sua existência até 2002.
Há muitas serpentes que ganharam fama por seu gigantesco comprimento, geralmente superestimado, como o Colossus (Malayopython reticulatus) estimado em 28 pés, e confirmado com pouco mais de 20 pés (6,35 m), a Baby (Python bivittatus), com recorde de 27 pés, mas pouco mais de 18 pés (5,74m) confirmados (Barker et al. 2012), a Samantha, uma Píton-reticulada (Malayopython reticulatus), que graças a esse possível prêmio deixou de virar acessório de couro, chegou ao Zoológico com 21 pés e após uma década veio a óbito com 26 pés (7,9m) (Santora, 2002), dentre os boideos temos um registro de Sucuri-verde (Eunectes murinus) com 18 pés e 6 polegadas (5,64m) equivocadamente atribuído a uma jiboia (Boa constrictor) (Barker et al. 2012), 17 anos de estudos na Amazônia Venezuelana registraram encontros de anacondas com pouco mais de 5m (Rivas et al. 2016), e a Medusa, atual recordista mundial oficial viva, com 7,67 metros de comprimento total, superando a Píton Fluffy que detinha o recorde, com seus 7,30 metros (Guinness, 2011). A morte de Samantha marcou o fim da premiação que foi retomada por Brian Barczyk (2019), criador de répteis, ao postar um vídeo oferecendo a mesma quantia e resgatando o sonho de Teddy Roosevelt. Até os dias atuais, ninguém conseguiu reivindicar tal prêmio!!!
Barczyk, Brian. 2019. OFFERING $50,000 for a 30 FOOT SNAKE!! CLAIM YOUR PRIZE!! | BRIAN BARCZYKBarker, DG; Barten, SL; Ehrsam, JP; Daddono, L. (2012). "Os comprimentos corrigidos de dois pítons gigantes bem conhecidos e o estabelecimento de um novo registro de comprimento máximo para pítons birmaneses, Python bivittatus " . Boletim da Sociedade Herpetológica de Chicago. 47(1): 1–6.BBC News. 2002. A cobra monstro Samantha morre. Nov 2002.Medusa, uma Píton-reticulada (Malayopython reticulatus) mantida em cativeiro, registrou 7,67 metros de comprimento total e 158,8 kg em sua medição de recorde mundial oficial, em 12 de outubro de 2011, com o título de a cobra mais longa viva (em cativeiro).
A Píton Fluffy detinha o recorde, com 7,30 metros e morreu em 2010, aos 18 anos.
A Titanoboa cerrejonensis é uma espécie de cobra extinta da família Boidae que habitava a floresta neotropical da Formação Cerrejón entre 58 e 60 milhões de anos atrás, Paleoceno da Colômbia. Seu comprimento corporal estimado é de 13 m e uma massa de 1.135 kg, tornando-a a maior cobra conhecida (Head at al., 2009). A serpente Gigantophis é considerada a maior Madtosiidae conhecida com cerca de 6,9 m, porém esta estimativa deve ser tratada com cautela; devido a escassez de coluna vertebral preservada em Madtsoiidae e a possível diferença entre estas e as atuais Boidae (Rio & Mannion, 2017), mesmo assim está entre os maiores ofídios, perdendo apenas para a Titanoboa. Madtsoiidae é uma extinta família de cobras com um registro fóssil do Cretáceo Superior até o final do Pleistoceno, na América do Sul, África, Índia, Austrália e sul da Europa. Madtsoiídeos incluem tanto algumas das maiores cobras que já rastejaram na terra, quanto pequenas (Gómez, Garberoglio & Rougier, 2019). Além da Gigantophis, outra Madtsoidae gigante é a famosa Madtsoia bai, com medidas máximas semelhantes (Simpsom, 1933). Aqui no Brasil, do Paleoceno, temos a Madtsoia camposi, da Formação Itaboraí (Rage, 1998).
Segundo o Biólogo Henrique, especialista em comportamento predatório de Boidae, uma disputa entre Madtsoia bai e a Titanoboa cerrejonensis seria comparável a uma batalha entre Jiboia e Anaconda, respectivamente.
A jiboia, Boa constrictor, é uma cobra não-peçonhenta, frequentemente mantida em cativeiro como animal de estimação, apesar do grande porte, que ultrapassa 4,5 metros (Glaw & Franzen, 2016). Apresenta atividade tanto no solo como em arbustos, com independência do substrato para realizar a deglutição (Charles, 2007), dieta generalista, utilizando a emboscada e busca ativa para se alimentar de lagartos, pássaros e mamíferos (preferencialmente os adultos) e, em ambientes antropogênicos, predam ratos e aves domésticas. Os filhotes eventualmente comem presas proporcionalmente maiores e múltiplas presas também podem ser consumidas (Pizzatto et al., 2009). Durante a predação, a constrição da jiboia causa a parada circulatória na presa, levando-a à óbito (Boback et al., 2015). Usam dicas visuais para seu deslocamento, optando por ambientes mais escuros como destino (Gripshover & Jayne, 2020).
As jiboias são vivíparas e os machos apresentam esporas pélvicas (membros vestigiais) maiores que utilizam na reprodução. Há registro de partenogênese para esta espécie (Booth et al., 2011).
Apesar de inofensiva, pode causar injúrias quando manuseada (Eg. Veloso, 2017) e para se defender, além de morder, a jiboia pode retrair a cabeça e o pescoço, em forma de S, produzir assobios longos e altos, "o bafo da jiboia", e fazer descarga cloacal (Martins & Oliveira, 1998). É recomendado que acione os bombeiros pelo 193, caso haja necessidade de remoção do animal. Em caso de mordida, lavar bem o local e observar a lesão, dependendo da gravidade, procurar atendimento médico.
A presença de duas cabeças, o dicefalismo, é uma anomalia que ocorre em vertebrados siameses inclusive em serpentes (Burghardt, 2013). As bifurcações podem ser classificadas como: craniodicotômica (duas cabeças incompletamente divididas); prodicotômica (duas cabeças completas com pescoços curtos); proarquodicotômica (duas cabeças, dois pescoços longos) e anfidicotômica (duas cabeças, um único corpo e duas caudas). Dentre as possíveis causas estão: alterações no embrião, como a divisão incompleta, fusão parcial de dois, variações de temperatura, regeneração após lesão, anoxia, toxinas metabólicas, depressão por endogamia, hibridização, poluíção ambiental, toxinas e exposição à radiação (Wallach, 2007). As serpentes dicefálicas podem apresentar interesses divergentes, o que compromete seu sucesso na natureza, pois seus movimentos conflitantes, descoordenados, fazem delas presas fáceis para seus predadores (BBC, 2019). É comum que apresentem um das cabeças dominante, competem entre si por comida, podendo consumir a outra cabeça. Alguns até podem cooperar, outras nunca cooperam (Burghardt, 1991), possuindo inclusive comportamentos distintos (Wallach, 2007). Um exemplo nacional, temos a sucuri amarela, Eunectes notaeus, pantaneira, com duas cabeças e dois longos pescoços (de Albuquerque et al., 2010).
A Philodryas nattereri, conhecida como Cobra-corre-campo, Corredeira e Ubiraquá, considerada um dos principais predadores do semiárido nordestino (Caatinga), onde é abundante. Ativa durante os períodos mais quentes do dia e semi-arborícola. Sua alimentação é generalista quando adulta, mas quando jovem, consome lagartos (de Mesquita et al., 2011). Para subjugar sua presa, esta espécie usa constrição e envenenamento, por seus dentes opistóglifos conectados à glândula de Duvernoy (Cardozo et al., 2009; Santiago, 2017). Como visto em outras Serpentes (Eg. Whitaker & Shine, 1999), acidentes ofídicos podem ocorrer quando elas reagem defensivamente, numa situação onde estejam encurraladas, esmagadas, capturadas ou manuseadas, inadequadamente (Araújo & Santos, 1997). Em geral, a tentativa de fuga antecipa o bote e exibições posturais podem ser notadas em várias espécies antes da picada ou mordida e mordida rápida defensiva por serpentes opistóglifas não resulta em envenenamento (Minton, 1979). Motivo possível para justificar o não temor à essas serpentes, considerada inofensiva pelo sertanejo, que por conhecê-la bem, ignora o perigo (de Freitas, 2003). O veneno de P. nattereri exibi uma menor complexidade quando comparado a de outras Philodryas, porém sua quantidade de proteínas ultrapassou a de P. patagoniensis (Zelanis et al., 2010) . A potência hemorrágica dos venenos deste gênero é comparável a dos viperídeos e o tratamento de pacientes picados por Philodryas sp. tem sido feito com soro antibotrópico no Brasil (Rocha e Furtado, 2007). Sendo sua peçonha potencialmente lesiva aos túbulos renais (Nery, 2012). Desta forma, evite manuseá-la!
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A Suaçuboia, Corallus hortulana, apesar de muito confundida com a Jararaca, é uma serpente Boidae, do grupo das jiboias, uma das mais policromáticas, exibindo variadas cores com detalhes em laranja, vermelho, rosa, amarelo, verde, cinza e marrom (Barrio-Amorós, 2017). Ativa sobre as árvores à noite, apesar de poder ser vista em solo (Figueiredo-de-Andrade, Nogueira & Pereira Junior, 2011). Esta espécie tem uma alimentação muito diversificada, favorecida com um corpo delgado e outras características arborícolas, como a cauda longa e preênsil, proporcionando um nicho alimentar mais amplo: comendo mamíferos, inclusive morcegos, pássaros, sapos e lagartos, preda em solo e mais acima dele (Pizzatto & Marques, 2009), utilizando a emboscada e a busca ativa como estratégias de captura (Martins & Oliveira, 1998), subjuga por constrição e deglute suas presas, utilizando o substrato arbóreo a seu favor (Charles, 2007). Essas cobras são consideradas agressivas, com dentes muito longos capazes de uma mordida bastante dolorosa, para se defender, morde e faz um S ao ser abordada, quando manipulada, pode formar bolas com o corpo e cauda, contrair e girar o corpo (Martins & Oliveira, 1998).
A maioria das mortes por picada de cobra na Austrália é causada pela Cobra-marrom-oriental, Pseudonaja textilis, que é um elapídeo grande, com até 2 m, e altamente venenoso. Sua fama de agressividade foi testada e, surpreendentemente, essa espécie tolerou o assédio humano, as menores cobras optavam pela fuga. Ocorreu avanço em poucos confrontos, com maior probabilidade se abordadas rapidamente, surpreendidas, encurraladas ou tocadas imediatamente (Whitaker & Shine, 1999). A maioria exibiu um aviso antes do bote, quando em postura alta, botes lentos e mais precisos (com envenenamento); quando em postura baixa, botes rápidos e menos precisos, além de um quarto ser blefe. Este comportamento é uma estratégia de defesa, uma resposta antipredatória para sua sobrevivência contra ataques de outros animais, inclusive humanos (Whitaker, Ellis & Shine, 2000). A Austrália é o lar dos Elapidae, cerca de 100 espécies terrestres e 30 marinhas, considerada o reduto dessas cobras. P. textilis, dentre todas as espécies de cobra no mundo, tem o segundo veneno mais tóxico (Broad, Sutherland & Coulter, 1979). A abundância de ratos domésticos tanto em ambientes rurais como urbanos favorece a ocorrência desta espécie próxima aos humanos. Filhotes de Pseudonaja textilis difere do adulto na coloração e no veneno, com a ausência de toxinas de alto peso molecular e da coagulação no plasma, acompanhando a mudança ontogenética presente na dieta desta espécie (Shine, 1989). Sua estratégia é de luta com sua presa, caçando-as visualmente, e a constrição faz parte da predação (Shine & Schwaner, 1985), comendo uma grande variedade de vertebrados terrestres, especialmente pequenos mamíferos, sendo os lagartos o principal alvo dos juvenis (Jackson et al., 2016).
A Víbora-de-Russell é terrestre e ativa principalmente como forrageador noturno, alternando para diurno em tempo frio. Os adultos são lentos, mas agressivos e os juvenis mais irritadiços. Seu repertório defensivo inclui uma série de S, levanta o primeiro terço do corpo e produz um chiado, extremamente alto, supostamente maior do que outras cobras e, ainda, exerce tanta força que pode levantar a maior parte de seu corpo do chão. D. russelii se alimenta principalmente de roedores, embora também coma pequenos répteis e artrópodes. À medida que crescem, se especializam em roedores, principal razão pela qual eles são atraídos para a habitação humana (Mallow, Ludwig & Nilson, 2003).
A víbora de Russell, Daboia russelli, é distribuída em países do sul da Ásia e uma das principais causas de picada de cobra fatal nesta região. Picada desta víbora é um risco ocupacional para os produtores de arroz dessa área (Warrell, 1989). Os venenos de víbora de Russell podem causar neurotoxicidade, miotoxicidade, hemólise, coagulopatia e outros distúrbios hemostáticos, choque, lesão renal aguda, envenenamento local grave com necrose e morte, além de hipopituitarismo como sequela incomum da picada da víbora de Russell (Antonypillai et al., 2011). Ataca preferencialmente alvos quentes, o que sugere a presença de sensores de radiação térmica (Breidenbach, 1990), estudos neurológicos e histológicos sugerem que o saco supranasal, um órgão comum a todas as víboras verdadeiras, pode ser um receptor de radiação térmica (York, Silver & Smith, 1998).
A serpente Leptophis ahaetulla é principalmente diurna e semi-arbórea, habita florestas perturbadas e intactas, e forrageia principalmente no solo e na vegetação caída, onde suas presas são provavelmente encontradas em repouso, aparentemente, manipulam as presas capturadas antes da ingestão, uma vez que a maioria foi engolida pela cabeça (De Albuquerque, Galatti e Di‐Bernardo, 2007).
Sobreviver em ambiente arbóreo, durante o dia é desafiador, pois a exposição à predadores é maior e a forma como essas cobras se defendem é resultante da interação entre fatores ecológicos e restrições filogenéticas. Características como a cor verde do corpo e a exibição frontal, abertura de boca, inflação gular e cripsis prevalecem entre as serpentes diurnas neotropicais (Martins, Marques e Sazima, 2008) e isso se aplica a nossa Azulão-boia, que além da exibição defensiva espetacular, com o abrir de boca, é dotada de toxina, produzida por sua glândula de Duvernoy, que se assemelha à peçonha dos elapídeos (como as cobras corais) em sua composição, todavia possui baixa toxicidade para mamíferos e, para nossa sorte, representa risco mínimo para humanos (Sánchez et al., 2018).
A espécie de cobra-coral verdadeira Micrurus ibiboboca pode apresentar de pequeno a médio porte, sendo o maior registro pouco maior que 1.000 mm. Presente em território nordestino, no sul da Amazônia e no sudeste (Rio de Janeiro). Apresenta atividade diurna e noturna, com picos matutinos, ativas ao longo de todo o ano. São serpentes ofiófagas, ou seja, se alimentam de outras serpentes, ou de outros animais serpenteformes, como os anfisbenídeos, conhecidos como cobra-de-duas-cabeças (Mesquita et al., 2013). Dependendo da presa escolhida, pode fracassar por não conseguir ingerir totalmente e, caso não consiga regurgitar, vir a óbito como registrado por Cavalcanti et al. (2012), uma M. ibiboboca morta com serpente Leptodeira annulata na boca, provavelmente asfixiada.
A preferência das presas são determinantes para o veneno de Micrurus, sendo as anfisbenas mais suscetíveis às toxinas das espécies que as predam do que de outras corais que se alimentam de presas diferentes (da Silva Jr & Aird, 2001).
As Jararaquinhas, Thamnodynastes, são vivíparas, opistóglifas e possuem pupila vertical elíptica. Esta da foto, Thamnodynastes sertanejo, leva o nome do sertão brasileiro, por ser endêmica da Caatinga (Ferreira et al., 20202), em áreas relictuais de floresta, consideradas disjunções entre a Mata Atlântica e a Amazônia (Pereira-Filho et al., 2020), presente no sertão remoto que deu o título ao clássico brasileiro “Os Sertões” de Euclides da Cunha (The Reptile Database, 2020).
Comportamentos defensivos, apresentados por outra espécie de Thamnodynastes, como triangulação da cabeça, golpe falso, postura em S e elevação da porção anterior do corpo) semelhantes ao descrito para o gênero Bothrops sugere que mimetiza espécies simpátricas deste gênero, além de movimentos erráticos. Golpe com mordida e descarga cloacal foram registrados apenas durante a manipulação do animal (Guedes et al., 2017).
Boomslang (Dispholidus typus) é uma serpente arbórea, raramente se aventura ao solo. Uma cobra muito tímida que tentará escapar se for perturbada, mas se encurralada, inflará o pescoço em um grau acentuado e exibirá sua coloração brilhante e atacará com vigor. Essas cobras podem atacar com as mandíbulas formando um ângulo de quase 180°, possui excelente visão e caça presas durante o dia (Kuch & Mebs, 2002).
É famosa por ter ceifado a vida do herpetologista Karl Schmidt, em 1957, que morreu após ser mordido por uma Boomslang juvenil (Pope, 1958). Ele fez anotações sobre os sintomas que sentiu quase até o fim, descrevendo a própria morte (BBC, 2018). Há outros relatos de envenenamentos graves por Boomslangs, inclusive fatais (Bücherl et al., 2013). Como seu veneno tem ação lenta, os sintomas podem não se tornar aparentes, gerando uma falsa segurança, ao subestimar a gravidade da picada (Kuch & Mebs, 2002).
Essa espécie apresenta dimorfismo sexual evidente e apesar de não diferir em tamanho, nem em sua dieta, machos e fêmeas podem ser distinguidos por sua coloração, com fêmeas geralmente marrons, enquanto os machos exibem uma coloração mais vibrante, conhecido como dicromatismo sexual, provavelmente relacionado à seleção sexual. Já os jovens de bomslang apresentam coloração geral do corpo composta de marrom-acinzentado com mais escuro salpicado e a cabeça é fortemente contra-sombreada, possivelmente evitando predadores (Smith et al., 2019).
A tanatose, um mecanismo de defesa no qual o animal se finge de morto, permanecendo imóvel até que o perigo cesse, trata-se de um dos comportamentos de defesa exibido por vários animais, incluindo as serpentes (Bartlett, 1920). Em muitos casos, o comportamento que alguns animais podem exibir se reflete justamente na falta de movimento. Ficar praticamente parado pode ser vital e já salvou a vida de muitos animais, por ficarem estáticos, “estacionário” em etologia (Del-Claro et al., 2004). Conhecida como "Cobra-zumbi", a Hognose, Heterodon platirhinos é uma serpente famosa por exibir a tanotose, quando se sente ameaçada (Burghardt, 2013; Revista Galileu, 2019). Nossa Tomodon dorsatus, Cobra-espada, também se destaca nesta forma de defesa (Bizerra, 1998).
Pastores manipulam cobras em cultos religiosos e a tragédia se repete!
Apesar do acidente de seu pai (pastor Jamie Coots, em 2014), que faleceu após ser picado na mão por cascavel durante exibição em culto religioso, o pastor Cody Coots é picado na cabeça (em 2018) e foi salvo por fiel que o levou ao hospital, ao invés de atender o pedido do pastor para que fosse levado ao topo de uma montanha e deus decidisse por sua vida ou morte. Além desses, morreram pela mesma causa Melinda Brown, em 1995, o pastor Mack Randall Wolford em 2012 e o fiel John David Brock, em 2015.
A Mamba-negra (Dendroaspis polylepis) é uma espécie de cobra grande e extremamente venenosa, tanto terrestre, quanto arbórea. É diurna e conhecida por atacar pássaros e pequenos mamíferos (Armitage, 1965). Em superfícies adequadas, ele pode se mover a velocidades de até 16 km/h para distâncias curtas, quando adultas têm poucos predadores naturais.
Em uma exibição de ameaça, abre sua boca preta (Baynham, 2010), espalha o pescoço e às vezes sibila. É capaz de golpear a distâncias consideráveis e pode entregar uma série de mordidas em rápida sucessão.
Peptídeos da Mamba-negra, que chamamos de mambalgins, não são tóxicos em camundongos, mas mostram um potente efeito analgésico na injeção central e periférica que pode ser tão forte quanto a morfina (Diochot et al., 2012). A composição de seu veneno difere das de outras mambas, isso pode refletir a preferência na dieta - pequenos mamíferos para a mamba-negra mais terrestre versus pássaros para as outras mambas predominantemente arbóreas (Stuart et al., 2017).
A resistência de alguns animais às peçonhas das Serpentes são conhecidas desde o século XVIII, tanto à alta resistência das Serpentes as suas próprias toxinas, quanto às de outras espécies filogeneticamente mais próximas. Tais resistências são atribuídas à insensibilidade à determinada toxina e a existência de fatores neutralizantes no soro sanguíneo destes animais, que se unem às toxinas circulantes e evitam que desencadeiem o dano. Esses fatores são proteínas ácidas de peso molecular de 50-100 kDa, salvo algumas exceções (e.g. Natrix tessellata), termoestáveis (0-80 °C) e pH de 2-11, não são imunoglobulinas, nem enzimas, mas sim glicoproteínas, majoritariamente (Núñez Range & Otero Patiño, 1999).
O fator neutralizante anti-letal é denominado Lethal Toxin Neutralizing Factor (LTNF), foi isolado de soro de gambá (Didelphis virginiana) e mostrou eficácia na neutralização do efeito dos venenos testados quando administrado meia hora antes ou depois da injeção do veneno; podendo, inclusive, futuramente ser usado como medida preventiva. Neutralizando efeitos letais das toxinas do veneno de cobra: crotoxina, cobratoxina, PLA 2 e a taipoxina, mais potente. Além da ricina, uma das toxinas vegetais mais tóxicas, e também as toxinas botulínicas e holoturinas bacterianas (Lipps, 1999).
Tais resultados demonstram o quão promissor é o uso desses fatores neutralizantes como coadjuvantes ou substitutos da soroterapia, fazendo-se necessários mais estudos, sequenciamento dessas proteínas e posterior síntese.
O atropelômetro é uma iniciativa do CBEE e estima em tempo real o número de vertebrados terrestres silvestres mortos por atropelamento nas rodovias brasileiras.
Estimativas indicam que mais de 15 animais morrem nas estradas brasileiras a cada segundo. Diariamente, devem morrer mais de 1,3 milhões de animais e ao final de um ano, até 475 milhões de animais silvestres são atropelados no Brasil.
Link da Fonte: Banco de Atropelamento de Fauna Selvagem |CBEEA Cobra-do-mar-de-barriga-amarela (Hydrophis platurus) é a única espécie de serpente pelágica que atravessa os oceanos Indo-Pacífico, do sul da África até a costa do Pacífico da América, tendo uma das maiores distribuições geográficas de qualquer espécie de vertebrado. Ao mergulhar ou nadar na superfície, H. platurus respira aquaticamente através da pele e se alimenta de peixes finos (Padete et al., 2009) que coleta, podendo permanecer submersa por longos períodos e é capaz de mergulhos profundos (aproximadamente 20 m) (Graham,1974), além da habilidade de nadar para trás e não demonstrar desconforto em água doce (Palot & Radhakrishnan, 2010).
A subespécie notavelmente menor e coloração completamente amarela Hydrophis platurus xanthos se alimenta à noite em águas turbulentas, assumindo uma postura de emboscada sinusoidal, cabeça abaixo, boca aberta, dentro da pequena faixa geográfica (cerca de 320 km2), na Costa Rica.
As cobras marinhas têm glândulas de sal e antigamente se pensava que bebiam água do mar. No entanto, os principais clados de cobras marinhas permanecem dependentes de água doce, desidratando em períodos de seca sazonal e bebendo de uma lente de água doce que se forma na superfície do oceano durante fortes chuvas (Lillywhite et al. 2014, 2019).
As exibições da cauda em serpentes são interpretadas como defensivas (Jackson, 1979) e Greene (1973) sugeriu que possam funcionar de três formas diferentes: para desviar o ataque para a cauda; para inibir o ataque por meio de uma exibição aposemática ou multifacetada e desorientar o predador. Extremamente eficazes são exibições de cauda de Micrurus e Erythrolamprus em que a cauda enrolada não apenas desvia o ataque para si mesma, mas também simula ataques de outra cabeça e também os desencoraja (Jackson, 1979).
As fossetas são receptores infravermelhos que melhoram a visão, fornecendo mais detalhes de objetos parcialmente escondidos para os olhos laterais, sendo parte integrante do sistema visual das serpentes que as possuem e fazendo uso de ondas mais longas do espectro eletromagnético para as quais não há pigmentos foto receptivos apropriados na natureza. O mundo visto por jiboias, pítons e víboras corresponde tanto o visual quanto os espectros infravermelhos (Goris, 2011).