Acidentes ofídicos

Biólogo Henrique & Bióloga Rita

Os acidentes ofídicos são envenenamentos causados pela inoculação de toxinas, por intermédio das presas de serpentes (aparelho inoculador), podendo determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.

Os agentes causadores são as serpentes consideradas de importância médica no Brasil, classificadas em quatro tipos: Botrópico, Crotálico, Laquético e Elapídico.

Serpentes consideradas não peçonhentas sejam elas áglifas (sem dentes inoculadores de toxina) ou opistóglifas (com dentes especiais posteriores detentores de ranhura capaz de conduzir a peçonha) também podem causar acidentes em humanos.

Bothrops jararaca . @Biotropica

Acidente Botrópico

Causado por serpentes dos gêneros Bothrops e Bothrocophias (jararaca, jararacuçu, urutu, cruzeira, caissaca). É o de maior importância e distribuição dentre os acidentes ofídicos no Brasil.

JARARACA-DA-SECA, conheça a nossa Bothrops que causa acidentes no nordeste

Crotalus durissus terrificus

Acidente Crotálico

Ocasionado por serpentes do gênero Crotalus (cascavel). No país é representado apenas pela espécie Crotalus durissus.

Leia sobre a CASCAVEL, a serpente que mais causa óbito no Brasil

Lachesis muta. Foto: Dr. Rodrigo NSG

Acidente laquético

Provocado por serpentes do gênero Lachesis (surucucu-pico-de-jaca, surucucu-de-fogo, surucutinga). No país é causado somente pela espécie Lachesis muta.

BOTE DA SURUCUCU, entenda o perigo

Cobra Coral do Cerrado (Micrurus frontalis) em Brasília, DF, Brasil. Foto: William Quatman - Flickr.

Acidente elapídico

Causado por serpentes dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus. O gênero Micrurus (coral verdadeira) é o principal representante de importância médica da família Elapidae no Brasil.

CORAL VERDADEIRA, assista ao vídeo sobre acidente

Philodryas olfersi. @Biotropica

Acidente ofídico com não peçonhenta

Outros gêneros de serpentes causam acidentes de menor gravidade e são encontrados em todo o país: Philodryas (cobra-verde), Clelia (muçurana, cobra-preta), Oxyrhopus (falsa-coral), Xenodon (boipeva), Helicops (cobra d’água), Eunectes (sucuri), Boa (jiboia), entre outras.

Conheça um pouco mais sobre as Serpentes PHILODRYAS, opistóglifas que causam acidentes semelhantes ao Botrópico

PICADA DE COBRA! o que fazer?

O que fazer em caso de Picada de Cobra:

Se possível, lave o local da picada com água e sabão e procure socorro imediatamente.

Beba água, beba muita água!

Procure o hospital de emergência o mais rápido possível! Caso não seja possível, acione um dos serviços: bombeiros 193, samu 192 ou defesa civil 199, pois todos estes órgãos estão devidamente capacitados para socorrer vítimas de serpentes peçonhentas!

Mantenha o acidentado calmo, de preferência com a área da picada elevada e o paciente deitado.

Se a serpente estiver visível, pode tirar algumas fotos, mantendo distância segura. Não perca tempo com o animal, não é necessário!

No hospital, o médico fará exames clínicos para saber que tipo de soro deverá administrar, caso confirme o envenenamento.


O que NUNCA fazer:

NUNCA faça TORNIQUETE! A peçonha já circulou e o torniquete poderá aumentar o edema e a necrose no local, além de dificultar a ação do soro antiofídico. O torniquete aumentará as chances de amputamento ou perda de mobilidade dos membros.

Nunca use produtos como emplastros, urina ou pó de café, pois poderão contaminar o local e te farão perder o tempo precioso para o atendimento adequado.

Nunca faça cortes, furos ou chupe o local da picada. Isso poderá causar hemorragia ou contaminação grave.

Não atrase o atendimento médico, na busca por tratamentos alternativos, nem tentando capturar a cobra, pois poderá ser picado novamente, ou aumentar o número de vítimas, além de perder um tempo crucial, diminuindo as chances de uma recuperação plena e rápida.

Mantenha a vítima hidratada e calma.

Vá imediatamente para o hospital!


Biólogo Henrique Abrahão Charles e Bióloga Rita de Cássia Lamonica Charles

Especialistas em Serpentes

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Acidente por serpente: o que fazer?

Após um acidente ofídico, o paciente deve ser tranquilizado e removido para o hospital ou centro de saúde mais próximo. O local da picada deve ser lavado com água e sabão. Na medida do possível, deve-se evitar que a pessoa ande ou corra, ela deve ficar deitada com o membro picado elevado, mantendo-a hidratada. Não se deve fazer o uso de torniquetes (garrotes), incisões ou passar substâncias (folhas, pó de café, couro da cobra etc.) no local da picada. Essas medidas interferem negativamente, aumentando a chance de complicações como infecções, necrose e amputação de um membro.

O único tratamento eficaz para o envenenamento por serpente é o tratamento com o soro antiofídico, que é específico para cada tipo (gênero) de serpente. Quanto antes for iniciada a terapia com soro, menor será a chance de haver complicações.

As escolhas do soro e sua dosagem dependem do diagnóstico médico, que deve levar em consideração as peculiaridades de cada tipo de acidente. Antes de administrar o soro, o profissional de saúde deve avaliar se há manifestações clínicas que indiquem que o indivíduo foi picado por uma serpente peçonhenta. Há muito mais serpentes não-peçonhentas na natureza e, para essas, não há necessidade de tratamento com soro. Deste modo, a soroterapia sempre deve ser indicada por um médico e a aplicação deve ser feita de acordo com a gravidade do envenenamento.

O CID 10 para acidentes ofídicos em caso de envenenamento é X20 (Contato com serpentes e lagartos venenosos) e em caso de animais não peçonhentos W59 (Mordedura ou esmagamento provocado por outros répteis).

O diagnóstico é clínico-epidemiológico, não sendo empregado na rotina clínica exame laboratorial para confirmação do tipo de veneno circulante. Nos acidentes botrópicos, laquéticos e crotálicos, exames de coagulação devem ser realizados para confirmação diagnóstica e avaliação da eficácia da soroterapia. Para as áreas onde há superposição na distribuição geográfica de serpentes do grupo Bothrops e do gênero Lachesis, o diagnóstico diferencial somente é possível com a identificação do animal ou, no caso de acidente laquético, pela possibilidade de desenvolvimento de manifestações vagais.

O tratamento é feito com a aplicação do antiveneno (soro) específico para cada tipo de acidente por via intravenosa, sob atendimento médico-hospitalar, de acordo com a gravidade do envenenamento. A utilização de cada soro está representada no quadro abaixo. A administração dos antivenenos pode causar reações adversas precoces ou tardias. No entanto, testes de sensibilidade cutânea não são recomendados, pois, além de terem baixo valor preditivo, retardam o início da soroterapia.

Produtores nacionais (Instituto Butantan, Instituto Vital Brazil, Fundação Ezequiel Dias e Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos) fornecem ao Ministério da Saúde os antivenenos (soros) necessários para a distribuição das cotas aos Estados, levando em consideração critérios epidemiológicos, que são as notificações de acidentes por animais peçonhentos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

A disponibilização desses antivenenos é essencial para a redução de óbitos, pois, utilizados de forma adequada, são a forma mais eficaz de neutralização da peçonha do animal causador do acidente.

Veja na tabela abaixo os soros utilizados para cada tipo de acidente ofídico, de acordo com a gravidade:

Foto: Renato Augusto Martins
Foto: Fernando Tatagiba. Bothrops jararaca, Mata Atlântica - Rio de Janeiro-BR.

Acidentes por animais peçonhentos, óbitos e letalidade, Brasil-2019

No Brasil, em 2019, foram registrados cerca de 268 mil acidentes por animais peçonhentos, dentre serpentes (30 mil), aranhas (36 mil), escorpiões (156 mil), lagartas (6 mil), abelhas (22 mil) e outros animais em menor proporção.

Apesar do escorpionismo (envenenamento causado por picada de escorpião ou quadro clínico resultante do acidente escorpiônico) vir se destacando no Brasil e ser um agravo de considerável relevância por levar a óbito o maior número de vítimas por animais peçonhentos atualmente em nosso país (169, em 2019), sua taxa de letalidade corresponde à 0,11%, dentre os acidentes por animais peçonhentos, o acidente ofídico apresenta a maior taxa de letalidade (0,50%) e o gênero Bothrops é o maior causador destes acidentes no Brasil (85,4% dos casos com serpentes peçonhentas), levando a óbito 0,46% de suas vítimas. Neste gênero temos belíssimas serpentes, sendo popular, a Jararaca (Bothrops jararaca). A serpente brasileira que mais mata no Brasil é a Cascavel (Crotalus durissus), com uma taxa de letalidade de 1,21%, em seguida a Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta), com 0,46% de letalidade. Acompanhe melhor esses números no link do Ministério da Saúde listado abaixo.

Quando pensamos em acidentes, a prevenção é a melhor alternativa! Proteja a sua vida e a vida dos animais silvestres também. Evite o confronto, deixe o animal seguir seu curso, use algum instrumento para afastá-lo de seu caminho, sem machucá-lo! Examine com cautela objetos antes de usar, mantenha a área limpa (sem entulhos e lixos), vede frestas e buracos em portas, assoalho e forros. Em período de calor, é muito comum avistarmos serpentes, especialmente aquelas sinantrópicas (espécies que convivem com o ser humano, inclusive sendo favorecidas por suas atividades), como é o caso da Jararaca. Veja no link o que ocorreu em Minas Gerais, a criança alertou a mãe sobre a presença da cobra dentro do carro, sob a cadeirinha! A mãe parou o carro, saíram em segurança e os bombeiros foram acionados para a remoção do animal do interior do veículo. Todos bem!!!

Atenção para o verão, pois aumenta o número desses acidentes!!!!

Respeite a vida!!!

Caso necessite remover o animal, chame os BOMBEIROS (DISQUE 193)!


Fontes do Ministério da Saúde:http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/animaisbr.defhttps://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/acidentes-por-animais-peconhentos
Alerta de caso ocorrido em Minas Gerais:https://www.metropoles.com/brasil/video-crianca-de-2-anos-encontra-cobra-dentro-do-carro-sob-a-cadeirinha